segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Flexinsegurança


A lata deste governo, exemplificada por um fundamentalista Secretário de Estado do Emprego, não tem fim. Pedro Martins é co-autor de um artigo surreal no Público de hoje, escrito a meias com um seu colega norueguês das finanças, militante dos socialistas de esquerda e tudo, a desenterrar a ideia da flexisegurança, o modelo ideológico da defunta terceira via para combinar a desregulamentação laboral com inclusão social. Nem uma palavra sobre a destruição em centenas de milhares de postos de trabalho no nosso país devido à compressão da procura criada pela austeridade (o desemprego é mesmo keynesiano…), apenas uma menção inicial a uma parda crise. Nem uma palavra sobre a brutal contração do Estado social em Portugal, que torna “um sistema generoso e universal de segurança social” numa miragem para cada vez mais cidadãos, numa piada de mau gosto. Nem sequer uma palavra sobre um dos ingredientes fundamentais, e institucionalmente complementares ao Estado social universal e à aposta na formação do tal “modelo” nórdico: a presença de elevadas taxas de sindicalização e de uma tradição institucional de negociação colectiva mais centralizada que, apesar de tudo, também vai ainda garantindo menor desigualdade, o contrário do que se está a fazer por cá. Sobram no artigo generalidades sobre a “flexibilidade laboral” para combater a “segmentação”, inevitável num capitalismo tão desigual, que são a base ideológica do real projecto do governo e dos seus amigos da troika: transformar Portugal num imenso laboratório para a desvalorização interna, através da redução dos direitos laborais e sociais e do desemprego de massas, uma verdadeira flexinsegurança. De resto, as periferias pagam um preço elevado do ponto de vista da tóxica ideologia dominante por estarem no euro, embora o preço principal seja mesmo a quase quadruplicação, desde o final do século XX, de uma taxa de desemprego que, por sua vez, tinha atingido um máximo histórico no nosso país de menos de 8% antes de aderirmos a esta rígida utopia monetária.

1 comentário:

Diogo disse...

Bom post!

Queria dar aqui os meus mais sinceros parabéns ao vosso Alexandre Abreu na sua magnífica entrevista na Sic Notícias.