quarta-feira, 11 de julho de 2012
Da regeneração
O exaltado editorial de Helena Garrido sobre os portugueses que passaram de “esbanjadores consumidores” a “aforradores exportadores” não menciona um detalhe decisivo para explicar o comportamento “histórico” de uma balança comercial de volta às marcas da próspera década de quarenta. Umas páginas mais à frente lá está ele: a quebra da procura interna gerada pela austeridade, o que causa uma quebra das importações. Conjuntural esta quebra? Talvez não, até porque a austeridade é não só permanente neste contexto europeu como, no típico círculo vicioso que criou, cada vez mais intensa, o que significa permanente oscilação entre recessão e estagnação, com os níveis de desemprego conhecidos. Um milhão de desempregados devem estar muito satisfeitos por terem passado a viver numa nação dita de aforradores exportadores. O investimento, uma das condições necessárias para qualquer recuperação ou modernização, colapsa, com uma queda de mais de 30% em dois anos. De resto, a evolução das exportações é oscilante e, já se sabe, nenhum país cresce a taxas satisfatórias apenas voltado para a procura externa, como o caso da própria Alemanha nos indica, ainda para mais num contexto em que demasiados países europeus estão apostados em ser “aforradores exportadores” através da austeridade regeneradora. De Espanha, que vale como mercado de destino quase tanto como o mundo fora da zona euro, chegam-nos aliás péssimos ventos.
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2 comentários:
Também não vejo razões para embandeirar em arco.
As importações tinham obviamente que diminuir: o poder de compra dos portugueses decresceu, os salários são miseráveis, Portugal é o país com a 2º maior taxa de desemprego dos países que pertencem à OCDE, queriam o quê?
O que preocupa é que Portugal há mais de uma década vem baixando a produção (más políticas), acentuando a dependência do exterior, particularmente de produtos considerados essenciais. Mas a fome não entra na estatística e a saúde das pessoas também não (não estou a falar de anorexia!)
As exportações subiram bem, sobretudo para fora da EU, graças à queda do Euro, como ali abaixo refere o Nuno Teles. Enfim, sem controlo sobre a moeda, continuamos dependentes dos humores do BCE, tal como da sorte ou do azar, e sem possibilidade de escolher…
Mais importante que o volume das exportações era saber-se o valor acrescentado destas.
É que o total das exportações portuguesas não anda muito longe das de Angola, por exemplo. Mas Angola exporta petróleo que extrai do solo e portanto com um grande valor acrescentado. Portugal exporta, por exemplo, gasolina, isto é, importa petróleo, refina-o e exporta o produto refinado. O valor acrescentado é mínimo.
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