segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sempre contra o austeritarismo

Ora as Cassandras dos nossos dias são os beatos do passado recente. Instigadores das políticas comunitárias impostas a fórceps desde há trinta anos, festejaram sucessivamente o maior mercado do mundo, a moeda única e a «política de civilização»; ignoraram o veredicto popular mal ele se lhes mostrou contrário; destruíram qualquer projecto de integração que se baseasse na harmonização social por cima, nos serviços públicos, e em barreiras comerciais nas fronteiras da União. Agora, soam as badaladas da meia-noite e o coche transforma-se em abóbora; esquecem-se subitamente da sua antiga alegria e juram que sempre nos avisaram de que aquilo nunca iria funcionar. Irá a dramatização financeira servir de pretexto para impor um salto federal em frente sem o submeter ao teste do sufrágio universal? Poderá uma Europa que já se encontra em mau estado dar-se mesmo ao luxo dessa nova denegação da democracia?

Serge Halimi, Federalismo em marcha forçada.

O «povo» em crise ouve-se pouco na televisão, sobretudo em comparação com o «povo» alegre, transmutado em partidário integral das cores nacionais, ou esse outro «povo», imaginado pelo sonho liberal, constituído por empreendedores individuais, exemplos de iniciativa que incutem na sociedade um sentimento de culpa generalizado, assumido por aqueles que mais sofrem com a crise.

Nuno Domingos, A alegria nacional na televisão.

1 comentário:

Anónimo disse...

A democracia existe mesmo na miséria, houve democracia no Brasil, houve democracia na Índia durante 75 anos, logo a miséria económica não impede a ascenção da Frente Popular na França dos anos 30.
Também não evita essa miséria, tal como o New Deal não impediu a manutenção de taxas de desemprego que eram o triplo dos 5% de 1929, que de resto só desceram aos 10% durante 1941.