Os banqueiros sentem-se muito desamparados e a banca é um sector muito vulnerável.
A parceria público-privada entre Passos Coelho, Leonor Beleza e Alexandre Soares dos Santos, também conhecida por António Borges, deu a sua enésima entrevista, desta vez ao Público: insana ortodoxia económica, que esquece todos os paradoxos da economia da depressão por si favorecida, ao serviço de todas as idas ao pote por parte do capital, onde avulta a fracção financeira, que espera adquirir activos a preço de saldo graças à crise – “Passo parte do meu tempo a falar com investidores estrangeiros, aqueles que querem entrar no momento certo”.
Na entrevista, Borges revela a identificação total com a visão do bloco social europeu liderado pelo capital financeiro alemão e com o seu projecto de classe de longo prazo, que teve em Maastricht e no euro os seus desenvolvimentos políticos e institucionais cruciais. Isto é mais do que compreensível sendo Borges quem é. Borges sabe que as coisas são como são feitas no campo monetário e financeiro, onde se criam todos os enviesamentos estruturais nas políticas públicas, como é o caso do salário directo e indirecto a funcionar como variável necessária de ajustamento no euro, conduzindo a uma alteração, há muito em curso, da repartição do rendimento entre trabalho e capital. Tivessem todos os adversários dos Borges desta vida a mesma clarividência e a coisa seria, talvez, um pouco diferente, porque as rupturas a fazer estariam mais claras.
É claro que Borges tem de fingir que os interesses da sua minoria equivalem ao interesse público. Manter a hegemonia exige que estes intelectuais orgânicos façam da aldrabice modo de vida. Alguns exemplos: o poder de compra dos salários da função pública cai 30%, entre 2000 e 2012, embora Borges fale como se tivesse ocorrido um qualquer regabofe aí; a Grécia implementou um programa selvagem de austeridade, que conduziu a uma das maiores depressões em tempos de paz, e Borges acha que nada falhou porque nada foi aplicado; as garantias dos países aos empréstimos no quadro do fundo europeu, desenhadas para minorar perdas dos credores financeiros, são apresentadas como exemplo de “solidariedade”. E podíamos continuar. Enfim, ler esta entrevista ajuda a definir prioridades e a identificar o adversário principal e todas as estruturas que o amparam e o tornam aparentemente invulnerável.
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4 comentários:
"Tivessem todos os adversários dos Borges desta vida a mesma clarividência e a coisa seria, talvez, um pouco diferente, porque as rupturas a fazer estariam mais claras(...)".
excelente. todo o comentário.
cumprimentos
Eis um documentário feito por cá que sugere soluções.
http://youtu.be/Skm57inNCZo
abraços e boa continuação :-)
Até o Professor retirou credibilidade a esta entrevista.
Será que este também está a marcar posição?
Muito bom este comentário. Infelizmente hoje em dia somos governados pelos "borges" desta vida. Até quando ?. Será que as pessoas vão abrir os olhos ?
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