segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Keynes na Europa
Jean-Paul Fitoussi é um dos mais importantes economistas europeus a assumir a herança de Keynes. O artigo publicado na sexta-feira no suplemento de economia do Público, com Éloi Laurent, é um exemplo disso mesmo. E é sem dúvida uma das melhores denúncias do BCE e da «sua propensão para o conservadorismo» no actual contexto de instabilidade e de incerteza («o nevoeiro») criado pela estruturas da finança de mercado. O diagnóstico é rigoroso. Ao contrário do que afirmam muitos liberais (sempre prontos a culparem de forma ad-hoc os «políticos» pelos desastres do mercado), a actual situação não é o resultado de políticas monetárias laxistas, mas sim de um processo endógeno à actual economia capitalista financeirizada que tem gerado poupanças excessivas: «isto reflecte-se no aumento da desigualdade de rendimentos em grande parte do mundo desenvolvido, e nos vertiginosos excedentes dos países produtores de petróleo e dos países asiáticos». A obsessão do BCE com a inflação e a sua negligência face à desastrosa valorização do euro e face ao desemprego reflectem uma situação em que «o BCE acaba por esperar pelo pior em vez de o tentar evitar». A situação da Europa seria outra se estas posições keynesianas tivessem mais influência na condução da política.
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