Recupero um artigo de opinião sobre as forças motoras do capitalismo da autoria de Pedro Santos Guerreiro do Jornal de Negócios. É interessante porque reflecte a ideologia - entre o mais grosseiro determinismo económico herdeiro do marxismo de cordel (sem a revolução) e a mais desabrida apologia do capitalismo sem trela com leves reminiscências de Schumpeter (sem a subtileza) - que parece vigorar no jornalismo de negócios anglo-saxónico. A retórica pretende ser fria e realista.
Decreta-se a inevitabilidade de uma suposta dinâmica concorrencial associada a uma «velocidade empresarial vertiginosa que deixa um lastro de cacos humanos atrás» e que finta os sindicatos aparentemente condenados à irrelevância. Decreta-se a inevitabilidade da intensificação da exploração com os ganhos de produtividade a serem apropriados crescentemente pelos proprietários. Enfim, apresenta-se o capitalismo como uma «locomotiva imparável» sem condutor e sem outro destino que não seja a acumulação incessante de capital como um fim em si mesmo. E depois concluí-se: «Isto faz sentido? Faz. É justo? Não».
Faz sentido à luz de que valores? Promove-se um crescimento económico sustentado e socialmente equilibrado? Não. Os aumentos de produtividade são pelo menos maiores do que em fases mais igualitárias do capitalismo? Não. O pleno emprego é assegurado? Não. O sistema é mais estável? Veja-se a recente crise e o cortejo das que a precederam. Que sentido é que isto faz então? E sobretudo para quem?
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