Parece que a generalidade da nossa direita intransigente teve a oportunidade de ter acesso às maravilhas do ensino privado. Por isso, num acto de caridade cristã, quer estender a mão e dar a todos a oportunidade de serem educados nos colégios de elite da «opus». Como é que se faz isto? Simples. O Estado passa um cheque à família e esta entrega o cheque na escola. É ver os pobres (que horror!) a correr rumo aos colégios privados da capital com os seus cheques em punho. Isto é risível e revelador da mais absoluta falta de seriedade de alguns slogans da direita. Eles não fazem a mais pequena ideia de como é que estes delírios se instituem, não têm nenhuma evidência séria de que eles diminuam as desigualdades ou que melhorem a qualidade do ensino. Vejam este artigo da Economist (insuspeita porque favorável a tais delírios) onde se reconhece que a qualidade do ensino para todos depende de coisas bem mais simples.
Por isso tem toda a razão Francisco Louçã quando afirma que o que está em causa em toda esta discussão «é tentar obrigar os contribuintes a financiarem escolas privadas e, nomeadamente, torná-las indiferentes em relação à obrigação de serviço público que a escola pública representa». De resto os propósitos da direita intransigente são clarificados neste artigo de João Miranda: «Nenhum pai quer que o filho tenha colegas que perturbam o ambiente escolar. As escolas melhores são aquelas que seleccionam os seus alunos. As escolas da utopia não podem fazer essa selecção e serão sempre medíocres». Claro como a água. Só uma dúvida: o que acontece aos que «perturbam o ambiente escolar»? Imagino que anarco-capitalistas como João Miranda achem que esses não estão a fazer nada na escola e que «voluntariamente» devem mas é ir trabalhar. Cada um tem o seu lugar na divisão do trabalho. E os pobres já deviam saber isso.
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