Mais à frente, três navios de cruzeiros mastodônticos despejavam pessoas, recolhidas por autocarros para uma volta pela cidade. Um destes três era o maior que me recordo de ver, à altura de um prédio de uns dez andares. Entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia, o rio estava invisível. Pergunto-me sobre as perdas e os ganhos para Lisboa das visitas destas cidades flutuantes, poluidoras, com gente que não dorme na cidade e pode também não comer sequer, mas não deve ser popular a questão. Afinal, foi muito saudada a construção do porto de cruzeiros, mesmo que noutras cidades já se opusessem a que atracassem por lá. Uma cidadania muito prostrada é também o sinal de horizontes de expectativa baixos. Tão baixos, que já nem se estranha que nos seja sonegada a vista do rio que embeleza a cidade que habitamos. Essa vista, uma parte do horizonte ribeirinho, era gratuita.
Texto e foto de Paula Godinho.
Dispensar uma observação direta informada e sobrevalorizar a abstração necessariamente incapaz de capturar a diversidade e complexidade das motivações e dos comportamentos humanos dos modelos matemáticos é o caminho seguro para o exercício estéril.
A economia não pode prescindir da História, da Filosofia, da Sociologia e, obviamente, da Antropologia.
Se olhares vês que um trabalhador não é um colaborador, que um Estado, sendo emissor monopolista de moeda não necessita de crédito privado para se financiar, que criar emprego gera riqueza, que a estrutura de poder, a subordinação, interessam. Olhar, querer ver, ver.
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