Público, 24/10/2012 |
O Governo Passos Coelho tomou posse à boleia de uma desejada intervenção externa da troica, que serviu de carro de assalto ao desmantelamento de um já fragilizado Estado Social. Criou uma atmosfera de choque e pânico, que viabilizou a introdução de medidas visando a rápida desvalorização dos rendimentos do trabalho, ou seja, dos trabalhadores e dos pensionistas.
A estratégia abarcou um corte substancial dos apoios sociais, fosse na cobertura da eventualidade de desemprego, fosse no próprio combate directo à pobreza ou apoios às famílias. E por isso, como se verificou mais tarde relativamente a esse período, todos os indicadores de pobreza e das desigualdade sociais se degradaram.
No caso da manchete, as medidas visaram forçar os trabalhadores afastados dos seus empregos a regressarem rapidamente ao "mercado de trabalho", mas agora em condições mais desvantajosas, forçados a aceitar situações salariais mais recuadas. Como pano de fundo, passava a mensagem subliminar da culpa dos desempregados que estariam nessa situação; de que o Estado Social estava a fomentar uma classe de preguiçosos que viviam à custa do Estado.
Uma mensagem de segregação social, através da divisão dos portugueses, que ressurgiria, aliás, quase dez anos depois, agora com ataques xenófobos e de segregação racial. Mas no final a matriz já vinha de trás, trazida pela maioria de direita PSDD/CDS no poder, encharcada de um certo paternalismo de classe, o mesmo que passa por considerar que pobres gerem mal as suas poupanças e que os dinheiros públicos são mais bem empregues no apoio aos mais favorecidos, como os donos das enpresas.
Hoje, no meio da disputa política, a direita acusa o PS de não fazer o suficiente para acabar com dois milhões de pobres que, na realidade, são quase 4 milhões, caso se retirem os apoios sociais. Mas ao mesmo tempo mostra-se incapaz de explicar por que razão o sector privado - nomeadamente as empresas - pouco faz para atenuar essa realidade da pobreza, ao disseminar um reino de baixos salários, primeiro passo para a queda na pobreza. Pior: mal explica como sanar a contradição que vive permanentemente na oposição, ao defender uma mais rápida consolidação orçamental e um menor papel do Estado Social.
Uma contradição, aliás, que, com maior ou menor nuance social, é vivida igualmente pelo PS, porque ambas as forças partilham muito do tronco principal das políticas económicas, nomeadamente as europeias. Talvez seja por isso que, em Portugal, se mantém semelhante o número de pobres... ao longo de décadas.
1 comentário:
Marcelo Rebelo de Sousa disse a semana passada que o país pode e deve esperar pelo contributo de Pedro Passos Coelho no futuro.
É evidente que o que o PS e o PSD têm feito nestas últimas décadas é gerir a pobreza e não acabar com ela.
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