No âmbito da sua feira de emprego, o ISEG coloca um conselho a negrito onde previne os estudantes: "não abordes questões salariais!" (ver imagem acima e aqui).
Para esta faculdade, discutir salários é feio, é falta de educação. E os estudantes, num processo infantilização em curso, são "aconselhados" a não serem mal-educados.
Coisas que os alunos deveriam aprender na faculdade, se esta fosse, como já foi, um veículo emancipatório de transmissão de conhecimento: "num sistema capitalista, os que não detêm meios de produção estão condenados a vender a sua força de trabalho no mercado para garantir a sua subsistência. O salário não é algo indiferente. É o que permite ao trabalhador viver. Afora questões de âmbito tecnológico, que determinam o nível de produtividade numa economia, o salário é sobretudo determinado pelo conflito social num contexto da distribuição de rendimento que advém do processo produtivo. Favorecer um comportamento de submissão à partida é ser conivente com as assimetrias de poder associadas ao trabalho assalariado e assim contribuir para a queda do salário em favor do lucro."
Se querem ver um exemplo da novilíngua neoliberal a penetrar a faculdade pública pelo meio dos seus departamentos de "recrutamento e gestão de carreiras", têm aqui um bom exemplo.
Portugal assiste há duas décadas, de forma quase ininterrupta, a uma transferência de rendimento do trabalho para o capital. Os determinantes são múltiplos. Mas o inculcar de uma cultura de submissão, de comer e calar, das empresas que falam de "amor à camisola" para engordar acionistas enquanto os jovens trabalhadores nem dinheiro têm para a renda, é certamente também um deles.
Há quem ache tudo isto normal. Só restam duas interpretações: ou a cumplicidade ou a ausência de noção dos efeitos perversos que este discurso. Nenhuma das opções é positiva.
4 comentários:
Toda a minha concordância com o texto de Diogo Martins!!
Desculpe a franqueza mas achar que é no momento da entrevista que se vai lutar por um melhores salários é de uma ingenuidade absoluta mesmo percebendo o sentido da sua preocupação.
Não se trata de lutar por melhores salários mas sim esclarecer, à priori, se as expectativas de ambas as partes nessa negociação estão alinhados. Basta ver a diferença entre os anúncios de emprego em Portugal e em outros países europeus, em que a faixa salarial é apresentada no descritivo do anúncio.
O primeiro salário determina todos os salários seguintes dentro daquela empresa. Por isso sim, discutir o salário é essencial logo no momento da entrevista.
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