quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Diz que é um Nobel


Na capa do livro está o casal Myrdal, Alva e Gunnar, respectivamente Prémio Nobel da Paz (1982) e Prémio em memória de Alfred Nobel da Economia (1974), dois social-democratas da boa escola.  

Joan Robinson, Piero Sraffa, Nicholas Kaldor, Paul Sweezy, Ernest Mandel, Paul Davidson, Albert Hirschman, J.K. Galbraith, Michel Aglietta…

Com honrosas excepções, Myrdal ou Sen, os melhores foram sempre excluídos do Prémio atribuído pelo Banco Central da Suécia e que é só “em memória” de Alfred Nobel.

Este prémio, como The Nobel Factor argumenta, fez parte do combate ideológico a favor de um capitalismo sem freios e contrapesos, contra a economia política da social-democracia.

Este ano os agraciados são três economistas convencionais que estudaram nesse quadro o papel dos bancos, da contração do crédito à desconfiança dos depositantes, no contexto de crises financeiras. 

Um deles, Ben Bernanke, depois de ter, enquanto membro da Reserva Federal, alimentado a complacência convencional em relação à possibilidade e gravidade de uma crise financeira, usou o poder do credor de todas as instâncias para salvar o capitalismo financeiro. Evitou a regulação saudavelmente desconfiada das forças de mercado, mas reconheceu publicamente que o soberano tem sempre dinheiro, que o constrangimento não é pecuniário.

Como relato em O Neoliberalismo não é um slogan, em 2002, num discurso revelador feito num jantar de homenagem no nonagésimo aniversário de Milton Friedman, Ben Bernanke, na altura governador do Banco de Nova Iorque da Reserva Federal e presidente da Reserva Federal durante a crise iniciada em 2007‐2008, disse o seguinte: “Quero dizer a Milton [Friedman] e a Anna [Schwartz]: no que à Grande Depressão diz respeito, têm razão, fomos nós que a provocámos e por isso pedimos desculpa, mas graças a vocês não voltaremos a cometer o mesmo erro”.

Vale tudo para desculpabilizar os mercados e para manter as conquistas institucionais da chamada era Friedman-Hayek. Uma era de sonho para uma minoria. 

  

2 comentários:

António Alves Barros Lopes disse...

Acho muita piada ao(s) Nobel da Economia!
Os da medicina ainda são atribuídos a quem descobre alguma coisa que nos vai suavizar a vida.
Mas nunca vi algum agraciado com o da Economia que tivesse resolvido algum problema económico da nossa sociedade!

TINA's Nemesis disse...

Os prémios de instituições de "referência" servem essencialmente para fabricar consentimento para a opressão das "elites".
Vejam como a Gulbenkian requalifica a Merkel, Merkel a presidente do júri para o prémio Humanidade da Gulbenkian... mas que farsa! Quase tão farsa como entregar o Prémio Nobel da Paz ao criminoso de guerra Obama!
Merkel, uma criatura que humilhou e esmagou com austeridade os do sul da Europa para salvar os oligarcas da banca alemã.
Este é o mundo realmente existente para lá dos prémios das "elites" e da restante propaganda, um mundo muito podre a necessitar urgentemente de mudança radical.