O lider da extrema-direita verbalizou hoje a consequência lógica do continuado e nunca assumido subfinanciamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS)
- O que é podemos fazer já? Garantir que estas pessoas que chegam a uma maternidade que está fechada ou a uma urgência, podem ir a uma urgência privada e o Estado comparticipa estes custos.Ora, sublinhe-se que esta política de subfinanciamento crónico do SNS, verificada durante décadas, por governos PS (como é o caso do actual desde 2015) e de direita, não é um acaso. Ela tem um racional que, supostamente, é o da suposta boa gestão orçamental. Face a uma conjuntura incerta ou sendo incapaz de influenciar a política monetário-orçamental a nível europeu, o Governo poupa nos custos públicos, como forma de conter o défice orçamental e, com ele, as necessidades de financiamento público que terão - por imposição ideológica liberal europeia - de ser preenchidas através dos mercados financeiros, aumentando ainda mais a dívida pública e, com ela, a dependência do Estado a quem manda nos mercados.
Para impedir que se avolumem os custos fixos com os profissionais de saúde - como seriam os decorrentes da sua contratação à dimensão das necessidades e uma reformulação das carreiras que impeça a emigração para o sector privado ou para o estrangeiro - o Governo aprova reforços de financiamento, mas depois adia a sua realização. Desde 2015, foi assim, com os ministro das Finanças, primeiro Mário Centeno (hoje à frente da sucursal em Lisboa do BCE) e depois João Leão, a borregarem investimentos, alardeando-se depois da sua boa gestão orçamental nominal.
Mas esta política de gestão de curto prazo tem consequências... a prazo: primeiro, prejudica a provisão pública de saúde e os cuidados dos cidadãos, como estipula a Constituição; depois, cansa, desmotiva e desvaloriza os profissionais da saúde; terceiro, sai mais cara porque obriga a trabalho extraordinário ou à contratação temporária de profissionais através de empresas privadas fornecedoras de mão-de-obra, pagas a preço de ouro e criando injustiças remuneratórias, afectando a constituição de equipas e o bom desempenho dos serviços; finalmente, reduz o poder de negociação do sector público junto do sector privado que se tornará cada vez mais necessário para complementar os cuidados de saúde prestados pelo sector público.
Sublinhe-se que esta política de contas certas é a que foi precisamente levada a cabo - embora de forma mais acentuada - pelos governos de direita, como aconteceu com os governos Cavaco Silva ou de Passos Coelho/Portas/Moedas, marcadamente interessados em subsidiar o sector privado da Saúde.
Eis, pois, a consequência prática da opção por uma política monetário-orçamental delineada centralmente na Europa, que incapacita as autoridades nacionais de financiar a sua actividade: todos os governos, sejam de esquerda ou de direita, acabam por aplicar a mesma política de direita. Quer queiram, quer não.
E, como sublinha o post anterior do Jorge Bateira, esta política está errada e a esquerda, na sua pluralidade, precisa de ir mais longe nos seus argumentos por uma política de esquerda.
6 comentários:
Perante isto que futuro para as Esquerdas?
O PS com a sua governação Neo-Liberal pode abrir caminho a médio prazo a uma maioria de Direita radical.
Embuste: "Sublinhe-se que esta política de contas certas é a que foi precisamente levada a cabo - embora de forma mais acentuada - pelos governos de direita ..."
Provas:
OE para 2022 é o sétimo Orçamento de António Costa "sempre com contas certas" (PS - Parlamento) https://www.ps.parlamento.pt/noticias/oe-para-2022-e-o-setimo-orcamento-de-antonio-costa-sempre-com-contas-certas
Costa diz que fará “whatever it takes” para ter contas certas
https://eco.sapo.pt/2021/11/03/costa-diz-que-fara-whatever-it-takes-para-ter-contas-certas/
António Costa. Contas certas "são bem inestimável" para não pôr em causa o futuro
https://rr.sapo.pt/noticia/politica/2021/10/20/antonio-costa-contas-certas-sao-bem-inestimavel-para-nao-por-em-causa-o-futuro/257527/
Bastava pesquisar no Google.
Finalmente os problemas do SNS vão ter solução: foi criada uma Comissão.
Os impactos negativos de políticas economicistas da TROIKA (decorrentes de mais uma crise neoliberal) não se observam logo, vão aparecendo, até serem impossíveis de se esconderem. A crise da urgência hospitalar é resultado de vários anos de subfinanciamento do SNS, com o objetivo político-ideológico de abrir espaço aos grupos económicos privados na área da saúde - o objetivo é garantir a transferência de dinheiros públicos para os bolsos de alguns Privados, o que leva à desigualdade e à concentração de riqueza. Foi o Ministro Paulo Macedo que abriu o precedente de se sub-contratarem tarefeiros por regra e não por exceção, no tempo da TROIKA. Desde aí, governos PSD, CDS e PS, usaram e abusaram da contratação destes médicos, muitos deles com formação duvidosa. A Ordem dos Médicos conivente com o interesse privado calou-se e os Hospitais Privados agradeceram e cresceram. O grave problema do SNS é ter administrações por nomeação política, hospitais cheios de amigos e famílias políticas, gestões danosas que ficam sem orçamento para contratar médicos e enfermeiros. A ausência de progressões na carreira e de não se pagar mais a quem trabalha mais, bem como de se usar e abusar de horas extras mal pagas, levam à desmotivação e à exaustão dos profissionais de saúde. Os sucessivos governos desvalorizaram os salários dos profissionais de saúde, sabendo que os Privados os estavam a valorizar, devido às imposições da TROIKA que ainda persistem. Os médicos recém-especialistas não são obrigados a permanecer no SNS após terminarem a especialidade e ainda são colocados onde querem e rompem contratos para não irem para os hospitais do interior do país (com o conhecimento da ordem dos médicos e dos Sindicatos pouco independentes dos médicos). Nisto tudo ninguém fala das graves ilegalidades que são cometidas nos Hospitais Privados que também não têm os requisitos mínimos de equipas de urgência, de internamento e de cirurgias, mas que não são notícia e não são comentadas na televisão.
Pois é! A exigência na composição das equipes obstétricas só recai sobre os hospitais do SNS. Ao resto do "mundo" fecha-se os olhos.
Caro João Garra
Infelizmente o problema do SNS é transversal a toda a prestação de serviços públicos.
No privado é exatamente a mesma coisa, só como diz nada é noticiado
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