segunda-feira, 6 de junho de 2022

A caixa de pandora que não se abriu

Foi recentemente divulgado pela DGS o relatório dos registos de Interrupção Voluntária da Gravidez, com dados relativos ao período entre 2018 e 2021. A tendência de redução, que se verifica paulatinamente desde 2011, não só se confirma como até se tem acentuado nos últimos anos, atingindo-se em 2021 o valor mais baixo desde 2007, ano que a IVG por decisão da mulher, até às 10 semanas, foi despenalizada.


De facto, se em 2011 foram registadas quase 20 mil IVG a pedido da mulher, dez anos depois esse valor cai para quase metade (cerca de 11,6 mil em 2021), ficando novamente demonstrado que não tinham razão os que achavam - posicionando-se contra a despenalização da IVG - que iria ser um regabofe de facilitismo e irresponsabilidade. Deve recordar-se, aliás, que a estimativa do número de abortos realizados clandestinamente antes de 2007, ou seja, antes da despenalização, rondaria os 20 mil por ano.

Mas não é só o número absoluto de IVG a pedido da mulher que tem vindo a diminuir. É também a sua incidência em jovens adolescentes, passando-se de um rácio de 4,3 em cada mil em 2011 para 1,9 em 2021. E mesmo quando se compara a percentagem de IVG no total de nascimentos, a tendência é também de queda (de cerca de 175 para 133 por cada mil nascimentos, entre 2011 e 2021).

Os progressos são de facto notáveis e devem-se a distintos fatores. Entre eles consta, seguramente, o trabalho desenvolvido pelos profissionais e pelas unidades de saúde em termos de melhorias ao nível do planeamento familiar, o que torna ainda mais absurda a proposta, que surgiu recentemente no âmbito de um grupo de trabalho, de considerar o número de IVG na avaliação de desempenho dos médicos.

2 comentários:

Emilio Antunes Rodrigues disse...

As dificuldades económicas e a consciência da responsabilidade que um filho representa para o criar e educar, conduzem à diminuição dos nascimentos e envelhecimento das populações. Na minha aldeia com mil e quinhentos habitantes nascem dois ou três por ano e morrem entre vinte e cinco e trinta e cinco.

Anónimo disse...

Para se perceber o fenómeno da diminuição da interrupção voluntária da gravidez é necessário conhecer os dados relativos à contraceção de emergência. Sem isso, é pelo menos possível especular que parte do decréscimos das IVG se possa dever à toma da pílula do dia seguinte.