quinta-feira, 7 de maio de 2020
Venceremos
Na semana passada, vi finalmente uma breve peça num telejornal nacional, o da dois, sobre a ajuda cubana em tempos de Covid-19, com 200 médicos a chegarem de avião à África do Sul.
É realmente toda uma história que continua por diferentes meios e em diferentes circunstâncias: não foi por acaso que quando saiu da prisão Nelson Mandela foi logo visitar Fidel Castro. Pena que o ANC e os seus aliados não tenham querido ou conseguido fazer o mesmo investimento em saúde pública e noutras formas de capacitação das massas, aprisionados que ficaram numa versão do Consenso de Washington.
Entretanto, recomendo o artigo de Vijay Prashad num site brasileiro – “Ou o socialismo derrotará o piolho ou o piolho derrotará o socialismo”. Já agora, este historiador marxista publicou recentemente um igualmente recomendável opúsculo sobre Lenine, com uma versão na nossa língua.
No artigo, entre outros casos, como o de Kerala, Prashad refere o Vietname, o bravo país, hoje de 95 milhões de pessoas, que derrotou o imperialismo norte-americano fez na semana passada 45 anos e que não só não tem qualquer morte por Covid-19, como ainda enviou material para o país que lançou sobre a Indochina mais bombas do que na Segunda Guerra Mundial. É caso para dizer, adaptando Che Guevara para tempos de Covid-19: um, dois, três, muitos Vietnames.
Confirma-se um ponto em que temos insistido: os nacionalismos anti-imperiais podem ser a melhor via para o internacionalismo e este padrão ocorre também na saúde, culminando na OMS. Liderada por Tedros Ghebreyesu, antigo ministro da saúde etíope, tem recusado um enfeudamento ao recorrente e perturbador obscurantismo armado que ronda pelo ocidente, agora à boleia de uma sinofobia crescente.
O internacionalismo, diga-se, não deve ser confundido com um cosmopolitismo de nenhures, um vazio político despovoado, puro moralismo para entreter elites numa certa imprensa dita de referência. E eu até conheço notáveis filósofas liberais, caso de Martha Nussbaum, que se estão a afastar desta tradição cheia de equívocos, em nome de uma revalorização de um Estado nacional tão apoucado e deixado tantas vezes à imaginação dos inimigos do florescimento humano. A abordagem universalista das potencialidades humanas, de que Nussbaum é uma das proponentes com Amartya Sen, depende de Estados robustos, de comunidades enraizadas.
É preciso também dizer neste nosso rectângulo, nos nossos termos político-institucionais e tendo em conta as nossas melhores tradições progressistas: pátria ou morte, venceremos. E fá-lo-emos, entre outras (sobre)vivências socialistas, graças ao Serviço Nacional de Saúde e à ética profissional da ciência e do cuidado que o sustenta.
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7 comentários:
Cuba exporta mão-de-obra sob contrato estatal e tem na saúde e no militar os seus únicos sectores qualificados.
Tratarem isso como ajuda e cooperação internacionalista, é um modo de dizer.
Quanto ao sucesso do Vietname, ele é similar ao da China: abriram a economia ao processo capitalista e usufruem os seus efeitos.
Chame-lhe anti-imperialismo com partilha de cama.
Sim, com certeza que vencerão, com comportamentos obscurantistas como a teimosia que levou à comemoração do 1º de Maio, no meio de um Estado de Emergência e de uma crise sanitária. Ou pensa que não vimos os ajuntamentos antes e depois da manifestação?
O totalitarismo tout-court a aproveitar-se da crise, era de esperar. Começou com a China, passou pela Rússia, onde agora, estranhamente, os médicos que protestam a falta de condições parece que ficam de tal modo perturbados que saltam pelas janelas, e chegou a exemplos mais pindéricos, como o de Cuba, a lembrar o tempo em que Chavéz vendia gasolina a baixo custo nos EUA... Mas eles não têm lá um povo de que devem cuidar?
Dê as voltas que quiser, João Rodrigues, Lenine era um criminoso maquiavélico, arquitecto com Trotsky do terror vermelho, Castro um ditador e Cuba continua a ser uma ditadura.
Mas quando alguém se dedica a escrever panegíricos a tais cavaleiros de triste figura (sem claro, uma sombra do humanismo de que D. Quixote foi imbuído pelo seu genial criador), já percebemos que toda a conversa sobre a soberania não passa disso mesmo. A soberania que é boa é a soberania exercida pelos quadros do Partido Comunista, nem que seja a da bota que pisa um rosto para toda a eternidade.
Como dizia Bakunine, uma ditadura não tem outro objectivo que não o da sua perpetuação. Lenine aliás cumpriu plenamente a profecia do anarquista, o socialismo transformou-se em despotismo em nome do comunismo.
Não, não ganharam, perderam e mereceram perder. E continuarão a fazê-lo...
«o ANC e os seus aliados não tenham querido ou conseguido fazer o mesmo investimento em saúde pública» Pois. Fizeram o que fazem todos os que se apanham no 'poder'.
Aliás, e como amostra de internacionalismo 'franciscano', conseguiram limpar bem Angola, com navios carregados de bens e equipamentos deixados pelos colonos.
Acima, o José traduz bem este caso agora com a RAS.
Caro Jose,
«Quanto ao sucesso do Vietname, ele é similar ao da China: abriram a economia ao processo capitalista e usufruem os seus efeitos.»
E que mal tem isso, exactamente? Fazem eles muito bem, ao invés do que se faz, cada vez mais, no mundo ocidental: uma parte (cada vez mais pequena) usufrui dos benefícios do capitalismo, ao mesmo tempo que faz de conta que os seus efeitos nefastos são coisas contra as quais as sociedades são impotentes -- assim, uma espécie de caprichos divinos.
Pode-se legitimamente criticar a China por muita coisa, mas pelo menos foram capazes de recolher os benefícios do capitalismo, sem sacrificarem a sua soberania à vontade (quasi-divina, segundo os neoliberais) "dos mercados".
Há por aqui alguns problemas estruturais que numa leitura cuidadosa acabam por se revelar cristalinamente. O João Rodrigues apontou factos e estabeleceu o que parecem mais do que óbvias relações de causa e efeito entre as opções político-sociais tomadas em certas latitudes e o efeito dessas opções no combate a um problema de saúde pública como aquele que todos enfrentamos. Naturalmente que a verdade é um incómodo quando a nossa estrutura mental (lembram-se que comecei por falar em problemas estruturais) já nos permite mais do que vagas ruminações conclusivas que, precisamente por serem ruminações por um lado e meramente conclusivas, por outro, dispensam prova e contraditório. Confundir opções políticas com o suposto furto de bens de (não se sabe bem quem, nem quando nem onde, já que falar em colonos, nos remete para uma página negra da nossa História, uma triste realidade com centenas de anos. Tantos, como os anos dos colonizados naquelas paragens) é de facto e parafraseando Costa, poucochinho. Do mesmo modo, a verve histérica de Jaime Santos aproxima-se mais de um exorcismo pessoal do que propriamente de qualquer apreciação objectiva de factos ou, menos ainda, de um olhar crítico sobre dinâmicas históricas. Recuperando no seu discurso, a imbecilidade acéfala de uma qualquer página de "fake news" (outro produto da prodigiosa sociedade capitalista e dos seus imprescindíveis mecanismos de domesticação pessoal e social), o Jaime, que às vezes até gosta de armar ao pingarelho, fazendo-nos crer que lá no seu recanto pessoal se debruça sobre a substância das coisas, acabará por ser encarado por todos nós que gostamos de visitar esta casa, apenas como aquilo que realmente parece ser: alguém que merece a nossa compreensão, a nossa paciência e sobretudo a nossa compaixão.
Jose partilha a cama com quem?
Lolol.
Não é uma pergunta.
É a constatação óbvia da mediocridade impotente a que este jose chegou.
Upa,upa, gajeiro
Bmonteiro é uma outra face de quem?
JR expõe explicitamente a diferença entre o ANC e os seus aliados, aprisionados numa versão do Consenso de Washington, com o que se passou noutras latitudes. Por exemplo, no Vietnam.
Bmonteiro envereda pelo discurso da treta sobre a inevitabilidade das coisas, numa versão requentada de "são todos iguais"
Não são, não, Jmonteiro. Isso é a versão que deriva já da incapacidade de defender a trampa neoliberal.
Azar Bmonteiro, tanto mais que:
-Nem a maozinha dada dessa forma tonta a jose o safa, bem pelo contrário.
-Nem os "bens e equipamentos deixados pelos colonos" contribuem para engolir a história colonial. Esses bens e materiais eram dos colonos? E o que os colonos de lá levaram?
Pois é. "Jmonteiro" e jose.
Com JS como anteparo
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