quarta-feira, 15 de abril de 2020

O socialismo é um humanismo


O Estado indiano de Kerala, governado quase sempre pelos comunistas e seus aliados desde meados dos anos cinquenta, destaca-se agora no combate ao Covid-19, tal como foi assinalado pelo insuspeito Washington Post (via AbrilAbril): uma abordagem humana e rigorosa, dizem os peritos, em contraste com o fascismo hindu, que desgraçadamente hoje domina a vida política daquela grande nação. A história recente conta.

Na saúde ou na educação, nada bate os socialismos, sabemo-lo há já algum tempo. Em algumas áreas é prudente confiar, até ver, nas relações capitalistas, desde que devidamente enquadradas. A dificuldade intelectual e política está em traçar linhas e em conseguir complementaridades institucionais propiciadoras de desenvolvimento. É preciso ter atenção ao contexto.

Realmente, na Índia, há décadas que temos uma espécie de experiência natural, com o contraste entre o Estado de Kerala, que está longe de ser dos mais ricos em termos de PIB per capita, e tantos outros Estados da união, com níveis de desenvolvimento humano aterradores.

Amartya Sen, que é, a par de Gunnar Myrdal, o Prémio dito Nobel de Economia mais humanista, tem dado como exemplo o Estado de Kerala nos seus trabalhos. A mobilização social e política pode fazer toda a diferença nos processos de desenvolvimento, enquanto expansão das liberdades positivas, onde a liberdade para levar uma vida relativamente longa, instruída e saudável não se reduz à, não está tão dependente da, bitola pecuniária.

Ter redes densas de educação e de saúde públicas requer organização e vontade políticas. E nem é preciso ter rendimentos per capita elevados para se obterem resultados impressionantes.

O socialismo só faz sentido se for um humanismo radical, que se institucionaliza nos sistemas de provisão fundamentais à vida e que não faz concessões a certos relativismos. Afinal de contas, como dizia uma filósofa social conhecida, estar vivo é mesmo o contrário de estar morto.

19 comentários:

Jose disse...

O socialismo (o verdadeiro= é um sistema de economia falhada.

As políticas humanistas não dependem em nada do socialismo.

Augusto disse...

Depende de que educação estamos a falar....

Jaime Santos disse...

Tem toda a razão, o socialismo só faz sentido se for um humanismo radical (basta olhar para a origem etimológica da palavra).

O problema é que as experiências históricas de socialismo ao nível nacional foram tudo menos experiências humanistas, a começar pela URSS e pela China e a acabar na vasta maioria dos nacionalismos progressistas do Pós-Guerra, transformados em muitos casos em sistemas neo-patrimonialistas corruptos, veja-se o caso de Angola...

Mais, transformaram-se inclusive em Estados Imperialistas, pense-se na repressão dos nacionalismos na Europa de Leste após 1945 pela URSS, ou na invasão do Tibete pela RPC.

Lenine, que mesmo não sendo um santo, concedeu independência à Finlândia e aos Estados Bálticos, deve ter dado voltas no túmulo...

Há claro, excepções, a que refere, ou a Guatemala dos anos 40-50, em que a estratégia era transformar o País num estado capitalista moderno e abandonar o feudalismo, ou talvez o Chile de Allende, muito embora este tenha optado por uma estratégia de confronto que alienou os próprios Cristãos-Democratas que lhe tinham permitido a eleição (indirecta). Podemos acrescentar a estes exemplos a Social-Democracia Nórdica e o consulado de Atlee no Reino Unido...

Curiosamente, tais experiências tiveram todas lugar no cumprimento das normas da democracia liberal, a tal que considera limitada, mas que é a única que existe.

Quando os diferentes socialistas se atêm a regras de convivência democrática, os resultados são normalmente longos períodos de manutenção no Poder e, quando o cedem à Direita, conseguiram mover o centro político de tal modo que dificilmente se assiste a regressões significativas.

E, mesmo que elas aconteçam (as sociedades nórdicas deslocaram-se muito mais para a Direita a partir dos anos 90 e o modelo britânico estagnou e faliu nos anos 70, falência que trouxe consigo Thatcher e o Neoliberalismo), a possibilidade de se experimentar uma outra forma de governo é inerente à Democracia.

Quando optam pela violência para proteger a Revolução e as suas conquistas, normalmente liquidam a Democracia, ou a sua possibilidade (como na Rússia ou em Cuba) e podem ser eles próprios vítimas dessa mesma violência.

Lembra-se do destino de Robespierre? Foi só dos primeiros...

O castigo de Prometeu é pior que o de Sísifo, João Rodrigues... Não se deixe pois que o socialismo se torne na águia que devora as entranhas dos homens e das suas sociedades. É preferível perder a batalha, pegar na pedra e começar tudo de novo. Como é que se dizia? O movimento é tudo, não é?

PauloRodrigues disse...

Amartya Sen só recebeu o nobel, depois de hayek e friedman.
A ganância antes da razão.

João Pimentel Ferreira disse...

"Na saúde ou na educação, nada bate os socialismos, sabemo-lo há já algum tempo"

Como referia a famosa anedota alemã, o melhor da RDA é a educação, a cultura e a saúde; sendo que o pior da RDA é o pequeno-almoço, o almoço e o jantar!

Porque motivo quando damos liberdade aos indivíduos, estes nunca querem fugir para os paraísos socialistas e querem quase sempre fugir para os infernos capitalistas? Estranha a vontade dos indivíduos

J. C. disse...

Caro Pimentel,
Na RDA não existia o "problema" do "pequeno-almoço, almoço e jantar", porque não havia fome, que é um problema ligado Directamente à Desigualdade Social, o que é algo que é Muito Mais problematico no capitalismo do que no ""PAPÃO"! Ao contràrio do que se passa hoje no ""Paraiso" "Simbolo"" do capitalismo, os Estados Unidos, onde 40 MILHÕES de Seres Humanos (6 Vezes Cuba, onde além de ter um dos melhores sitemas de Saude do Mundo também não hà fome),repito, 60 MILHÕES de Pessoas nos *EUA* não sabem hoje à noite se amanhã vão comer, se à hora do pequeno-almoço irão poder almoçar e, à hora do almoço, se terão a sorte de à noite ter a primeira e unica refeição do dia, *quase 20% da População!*
Quanto à "liberdade" para fugir, eu, se tivesse necessidade de o fazer, entre escolher o <> "U.S.A.",com um Sistema de Saude Assassino que "mata" quem não tiver 4000 Dolares para pagar a ambulância de urgência, que tem 60 MILHÕES de Cidadãos a Dormir dentro de carros, ou na Rua e 40 MILHÕES que nos dias de Sorte Comem Uma ou, talvez até 2 Vezes..., EU Preferiria "fugir" para CUBA, que tem um dos melhores Sistemas de Saude do Mundo, não existe fome e hà liberdade de sair à rua a qualquer hora do do dia ou da noite sem risco de ser assaltado ou apanhar uma bala, civil ou militar!
Quanto a si, que pelos vistos tem "medo do papão", se precisar (eu felizmente não preciso) de "fugir" e como o TRUMP fechou as Fronteiras aos Emigrantes, em vez de ir para Cuba, que na Década de 1959 tinha um Indice de Desenvolvimento igual ao HAITI, aconselho-o a fugir para o "Paraiso Capitalista" Haiti, ou então para os NUMEROSOS ""PARAISOS CAPITALISTAS"" espalhados pelo Mundo, como por Exemplo:Afeganistão, Yhemén, Bangladesh, Mali,Burquina Fahso, Somalia, Etc., Etc.

BOA VIAGEM!

Pedro Cardoso disse...

João Pimentel Ferreira, porque você (e todos nós) consome "realidade deturpada". A anedota sobre a RDA não se referia de certeza à falta de comida na RDA. O que provavelmente faltava na RDA era a panóplia de marcas de produtos alimentares como temos hoje nas economias capitalistas, em que nos vendem produtos alimentares (muitos de baixa qualidade nutricional) em todo o tipo de embalagens e feitios, em que os ecossistemas, a saúde das pessoas e os trabalhadores que os produziram é que pagam os custos e as externalidades negativas do processo de produção capitalista.

João Pimentel Ferreira disse...

Caro J.C., como referia Milton Friedman, não se queira substituir aos pés das pessoas com retórica. Quando damos liberdade aos indivíduos, estes raramente querem fugir para regimes socialistas e quase sempre querem migrar para regimes capitalistas. Porque será? Serão as pessoas masoquistas? Porque motivo os famélicos americanos não migram para Cuba? Fica a questão.

João Pimentel Ferreira disse...

Caro J.C., como referia Milton Friedman, o liberalismo é uma condição necessária, mas não suficiente para o progresso civilizacional. Afeganistão, Yhemén, Bangladesh, Mali,Burquina Fahso, Somalia, Etc., Etc. são tão capitalistas quanto o são socialistas. Aliás, o Islão, tal como o socialismo e a as demais religiões teológicas e/ou ateias, detesta liberdades individuais.

J. C. disse...

Caro Pimentel, Qual retorica? Para viajar é preciso dinheiro, coisa que não abunda no bolso do pobre, em Cuba não existe espaço fisico para, caso estivessem interessados,mais 40 Milhões de pessoas. No entanto Cuba apesar de vitima de um bloqueio economico ilegal de mais 60anos, porque nao decretado pela ONU, da parte dos EUA,Cuba consegue ser *um verdadeiro Paraiso quando comparada com o Haiti, relembrando que à 60 anos atràs tinham um nivel de desenvolvimento similar.
Paises capitalistas hà muitos, nalguns poucos vive-se relativamente bem, em contrapartida na Imensa maoiria desses Paises, em particular nos governados por "regimes" mais Neoliberais é onde existe mais miséria.
Quanto a Milton Friedman, você trocou os pés pelas mãos, não "consumo"

Geringonço disse...

Porque é que Milton Friedman e outros Chicago Boys foram cúmplices de regimes assassinos como o do Chile de Pinochet?

Porque será que as receitas neoliberais do Friedman quando aplicadas criam milhões de fujões/ emigrantes?

Não me diga Pimentel, aqueles que fogem da miséria que a Troika cria só o fazem porque lhes apetece!

Aqueles que se lançam ao Mediterrâneo, depois de terem atravessado o Saara, provenientes de países onde praticamente não existe o Estado, também fogem da esquerdalhada?

E os refugiados que vêm para Portugal para logo irem para outros Estados europeus, não é Portugal um país capitalista? Porque fogem os refugiados de Portugal para outros países onde o Estado é mais generoso?

Tenho a certeza que o Pimentel vai arranjar boas justificações, ele sempre arranja, tal como arranjou justificações para desculpar o repugnante governante holandês...

anibal seixas disse...

Porque nem nem os americanos nem os cubanos o permitem.E mesmo que o permitissem,não tinham dinheiro para a viagem. Ah!E porque os caixotes do lixo americanos têm restos de comida e os cubanos não.

J. C. disse...

Quando falo dos americanos pobres, não falo (por enquanto) de 80% da população, falo de uma faixa significativa da população, 20% que vive bastante pior os 20% mais pobres de Cuba, um País pobre, vítima de um embargo econômico ilegal da parte da, por enquanto, maior potência militar do mundo.
Quanto aos caixotes do lixo bem abestecidos, são-no em parte com a falta de comida do pobre, sendo que a maioria dos pobres nos "Status" são pessoas que trabalham mas não ganham o suficiente para pagar um aluguer e, ou, para comprar comida. Em contrapartida, Cuba, embora sendo um País muito mais pobre, não comete a indignidade de submeter 20% do seu Povo à humilhação de ter de comer "esmolas" é (ou) "lixo". Como bônus Cuba oferece ainda aos seus Cidadãos, um dos MELHORES SISTEMAS de SAÚDE GRATUITO do MUNDO e também um dos MELHORES SISTEMAS de EDUCAÇÃO do Mundo.

J. C. disse...

Então Caro Pimentel Ferreira, a sua retórica é dizer que os Países "deserdados do capitalismo", pelo facto serem pobres, já não são (entre aspas) "capitalistas" é "empurra" a responsabilidade da sua pobreza para uma "conveniente" confusão de socialismo, religião e, quem sabe, até mesmo de "Terraplanismo"!?

J. C. disse...

Preciso fazer duas correções ao meu COMENTÁRIO 17/04/2020 às 7:32 / no primeiro parágrafo ler: ...20% que vive bastante pior *QUE* os 20% mais pobres...
No segundo parágrafo onde se lê "Status", ler: "States"

João Pimentel Ferreira disse...

Caro J.C., diz-nos que os pobres dos regimes capitalistas não têm dinheiro para viajar e para migrar para os paraísos socialistas, mas os miseráveis venezuelanos sem qualquer dinheiro no bolso fazem-se à estrada para migrar para o Brasil; milhares de cubanos atiraram-se em jangadas improvisadas para o mar para chegar até à Flórida; e milhares de mexicanos arriscam um périplo perigoso para chegar até aos EUA. E já se esqueceu dos milhares de alemães que tentaram cruzar o muro de Berlim colocando em causa a própria vida? Porque será? Claramente que o dinheiro para a viagem não é a questão principal. Não haverá algo mais?

Geringonço, fala do Chile, pois o Chile é hoje o país da América Latina onde se vive melhor, veja os salários, a criminalidade, o valor das pensões e o índice de desenvolvimento humano da ONU.

Os refugiados não ficam em Portugal, não porque os refugiados tenham convicções ideológicas, mas porque no norte da Europa, que aliás são muito mais liberais que nós, são países mais ricos e mais prósperos.

E já agora, o liberalismo não visa a ausência de estado ou a promoção de estados falhados, visa promover estados pequenos, fortes no essencial e ausentes no acessório.

Geringonço disse...

Não só o liberal Pimentel justifica o repugnante governante Holandês como ainda vê virtudes no torturador e assassino regime de Pinochet... revelador!

Parece que o Pimentel aprecia regimes totalitários desde que certos índices sejam atingidos...
Assim sendo, o Pimentel deve adorar o regime comunista Chinês, é que o ritmo de desenvolvimento chinês parece não ter paralelo na história da humanidade.
O dito desenvolvimento do Chile não é nada comparado com o que a China conseguiu alcançar em 3 décadas.
Mais, o nível e ritmo de industrialização da União Soviética foi um dos maiores da história da humanidade.

E não vamos esquecer que o regime capitalista vai à falência de x em x anos, é por isso que os Capitalistas precisam do Socialismo do Estado para os salvar, como o que se está a passar agora mesmo nos Capitalistas EUA e Europa!
Tenho a certeza que o Pimentel já reparou como o Estado está a ajudar os Capitalistas a ultrapassar mais uma crise...

Os países do Norte da Europa não só têm Estados Sociais mais generosos que Portugal como não estão no último lugar em investimento público.

É bem possível que a concentração de Pimenteis nesses países do Norte seja menor, e assim, a possibilidade de terem Estados Sociais generosos é mais fácil de concretizar...

Porque será que este Pimentel se dedica tanto em impedir o desenvolvimento de Portugal, um comportamento verdadeiramente repugnante!

João Pimentel Ferreira disse...

Caro J.C. desde quando o Afeganistão é capitalista? Mais honestidade intelectual por favor.

JE disse...

Empurrado por um novo post de João Rodrigues, chego a este.

João pimentel ferreira, ele e mais dois nicks associados para parecer que são muitos. A chafurdar nos caixotes do lixo

Mas este comentário atrasado quase dois meses é para corrigir um " comentário" fora de horas de JPF. Como de resto costuma fazer, quando sente fugir-lhe o chão.

Temos assim que a 20 de Abril, três dias depois do último comentário,aparece JPF a retorquir.Talvez assim ninguém o desminta, pensará ele

Pois é. Chegado aqui,quase dois meses depois, registo o disparate de JPF. E desminto-o

O Afeganistão, com um governo quase feudal ligado a colonizadores imperialistas, é um país capitalista

Hoje, o Afeganistão produz o grosso dos opiáceos do mundo. Estima-se que mais de 90% do ópio do mundo, ou da heroína bruta, sejam produzidos lá. Uma quantidade enorme de haxixe também vai para as províncias do Sul e do Oeste que fazem fronteira com o Paquistão e o Irã. As drogas, de uma maneira ou outra, contabilizam a maior parte do PIB do país. E enquanto os EUA estão no processo ostensivo de construir a nação do Afeganistão, essa cultura da papoula é aceita, senão abertamente consentida – o que significa que, se seguirmos a lógica de que os EUA estão tentando controlar o Afeganistão (e estão), os EUA não são apenas o maior mercado de drogas do mundo, mas também são oficialmente o maior traficante de drogas do planeta.

Um regime assente na propriedade privada dos meios de produção e sua operação com fins lucrativos.

Azar jpf.Restam-lhe os caixotes de lixo made in usa