terça-feira, 21 de abril de 2020

Mau serviço jornalístico

Alguém me explique esta entrevista.

Por que foi que o jornal pediu uma entrevista numa altura em que o presidente do Eurogrupo não pode dizer nada antes do Conselho Europeu de 5ªf? Como é que o jornal escolhe, numa altura destas, uma entrevista com uma jornalista como a Teresa de Sousa - uma eterna defensora do projecto europeu, dê ele as cambalhotas que der - que rapidamente se deixa enredar num bruxelense de presidente do Eurogrupo?

Exemplo: um SURE de 100 mil milhões para financiar um lay-off na Europa - "o nosso lay-off simplificado, o Kurzarbeit alemão, o chomage partiel francês, entre outros, têm todos os mesmos objectivos: proteger o emprego"? Primeiro: tal como está, o lay-off, não será um dispositivo de dádiva de dinheiro às empresas, com uma vaga promessa de não despedimento imediato? Há garantia de que terminado o lay-off o desemprego não suba? Os dados de Março parecem revelar o início de uma subida a prazo. E se não há garantia, este era o melhor mecanismo para o assegurar? Quanto custa? Mil milhões/mês. E desses quanto vai para as grandes empresas? E que garantias há que não se transformem em dividendos? Mesmo que sejam recursos desbaratados, valem a pena do ponto de vista macroeconómico? E no final, esses montantes transformam-se em dívida dos Estados. E o que vai acontecer caso se tenha de aplicar o Tratado Orçamental? E como se financiarão os Estado do Sul, com a degradação das notações? Como evitar uma repetição das más respostas dadas há dez anos? E os efeitos do desemprego a prazo? E como fazer com uma recessão que se aproxima de todos os lados?

Bastava perguntas como estas para permitir discutir mais aprofundadamente o plano de recuperação. Mas não. Ficou-se por coisas redondas. Por que não foi a esta entrevista alguém da secção de economia do jornal? O jornalista Sérgio Aníbal - que tem escrito a maioria dos artigos do jornal sobre este assunto - não foi convidado para o encontro. Se tivesse ido, sempre era capaz de falar mais de política económica. E ser jornalista.

Desperdiçou-se uma oportunidade de falar com o presidente do Eurogrupo e prestou-se a um exercício político, ainda por cima mau, porque mal se percebe alguma coisa. Além do título, claro.

18 comentários:

PauloRodrigues disse...

Isto não deve ser visto como entrevista, mas como uma corrida aos milhões que o governo está a distribuir pelos media.

Jose disse...

Dúvidas muito pertinentes; mais claro seria o regime de faltas justificadas ou puro despedimento.

Paulo Marques disse...

Existe para revelar que até os intervenientes estão inseguros sobre a resposta. É um começo.

Geringonço disse...

Porque o jornal de "referência" Público é um covil de europeístas com o objectivo de avançar os interesses neoliberais junto do público português.

É também por isto que o João Ramos de Almeida já lá não está, aposto eu...

João Pimentel Ferreira disse...

" Mesmo que sejam recursos desbaratados, valem a pena do ponto de vista macroeconómico? E no final, esses montantes transformam-se em dívida dos Estados"

Há que esclarecer João Ramos de Almeida, que o tão aclamado por si défice orçamental também acarreta "dívida de estado", e com taxas de juro superiores. João Ramos de Almeida quer o que qualquer pessoa honesta de esquerda quer: dinheiro grátis e sem condicionantes, e tal simplesmente não existe.

Ademais, refere também o mesmo jornal Público que o norte da Europa está a gastar mais do que o sul na resposta à crise, mesmo já considerando despesa calculada em percentagem do PIB. A esquerda tem clamado, tal como aconteceu em 2011, por medidas contra-cíclicas, para desta forma estimular a economia e o consumo, e assim atenuar os efeitos negativos da crise. E fá-lo bem, pena todavia que a mesma esquerda padeça de uma amnésia e uma incoerência políticas de bradar aos céus. Recordemos que a Holanda tem uma dívida pública de 50% do PIB, a Alemanha tem 60% do PIB e a Finlândia 59% do PIB. Por outro lado, mais a sul, a Itália tem uma dívida pública de 134% do PIB, Portugal tem 120%, a Grécia tem 181% e Espanha 97% do PIB. Percebe-se facilmente porque motivo uns têm mais "margem para gastar" do que outros. Quando a economia expandia e a receita fiscal crescia substancialmente a cada ano, uns baixavam a dívida (a Holanda baixou a sua dívida pública de 70% do PIB em 2015 para 52% em 2018), outros mais a sul, locomovidos pela demagogia e populismo eleitoralista, "revertiam e redistribuíam".

Porque motivo a esquerda apenas se lembra de aplicar medidas contra-cíclicas quando a crise aperta, e jamais se lembra de aplicar exatamente o mesmo princípio quando a economia cresce?

Anónimo disse...

Nem estes comparças acreditam nesta União. Mas como esta ainda vai servindo os seus propósitos....

Jaime Santos disse...

Chama-se liberdade editorial, simples... Se a Esquerda Soberanista quer um jornal que reflicta as suas escolhas ideológicas que o crie e tente manter com as receitas de publicidade e com a venda do próprio jornal e das assinaturas... Eu até sou capaz de o assinar, se fizerem aos vossos exactamente as mesmas perguntas difíceis que querem fazer aos outros.

Qual a estratégia para sair do Euro sem provocar falências em massa e um disparo da inflação? Como dispor de reservas de moeda forte? Como iremos renegociar a dívida sem a imposição de medidas de austeridade? Se se declara uma moratória, qual a estratégia para lidar com a litigância mais que provável da parte dos credores e a quem iremos então pedir dinheiro quando os mercados se fecharem? À China? E quais então as contrapartidas que estamos dispostos a aceitar?

Tudo perguntas pertinentes a que ninguém ainda respondeu...

Agora, andar sempre a fazer queixinhas e esperar que a imprensa seja neutra, isso é ser-se muito ingénuo...

Anónimo disse...

"Segundo estimativas da Comissão Europeia, apesar da sua modesta dimensão, a Holanda é o terceiro país entre os 27 que mais beneficia em termos brutos com o mercado único, ganhando anualmente em média 84 mil milhões de euros, valor cerca de 12 vezes superior à contribuição anual holandesa para o orçamento plurianual da UE segundo a proposta do executivo comunitário (6,85 mil milhões de euros, que Haia considera excessivo), e que fica apenas atrás dos ganhos das duas maiores economias europeias, Alemanha (208 mil ME) e França (124,4 mil ME)."

https://eco.sapo.pt/2020/04/21/frugal-holanda-e-dos-paises-que-mais-enriquece-com-o-projeto-europeu/

Ora, todos estes anos a empochar com o euro não é de admirar que Holanda e Alemanha tenham défices baixos.
Quem não te conhecer que te compre JP Ferreira. Toda a gente já percebeu o que tu és e quemte paga.

Anónimo disse...

Ainda para contrariar JP Ferreira, notório agente desinformação ao serviço das carraças do norte, vejam este video de Macron a reconhecer a injustiça de os países do norte terem meios para protegerem as suas empresas e Itália, Espanha e Portugal não.

https://www.ft.com/video/96240572-7e35-4fcd-aecb-8f503d529354

Anónimo disse...

Há qualquer coisa de repelente num tipo que não se limita a aldrabar os factos e a retorcer os dados

Mas que tem a desonestidade de carácter de se multiplicar em n, para melhor cumprir o seu mister

João Pimentel Ferreira disse...

Caro Anónimo, vede esta notícia da BBC

https://www.bbc.com/news/uk-politics-48256318

A Holanda é o país que mais contribui para o orçamento da UE, quer quando consideramos valores per capita, quer em % do PIB.

Anónimo disse...

Vede vede

Foi por causa destes "vede" que um dos nicks mais abjectos de joão pimentel ferreira foi desmascarado

Vede,vede...

Vede se ele percebe o que se escreve:
"a Holanda é o terceiro país entre os 27 que mais beneficia em termos brutos com o mercado único, ganhando anualmente em média 84 mil milhões de euros, valor cerca de 12 vezes superior à contribuição anual holandesa para o orçamento plurianual da UE segundo a proposta do executivo comunitário (6,85 mil milhões de euros, que Haia considera excessivo)

Vede, vede

Quem não te conhece que te compre

Anónimo disse...

Vede se JPF não faz lembrar Trump:

"Os EUA é o país que mais contribui para o orçamento da OMS"

João Pimentel Ferreira disse...

Se o caro anónimo está tão preocupado com a fuga de capitais para a Holanda, pode sempre pressionar os políticos do sul da Europa para aplicarem a fiscalidade empresarial holandesa e assim atrair também capitais

João Pimentel Ferreira disse...

O projeto europeu é um marco inigualável no velho continente. A história económica há muito que nos dita que comércio livre e livre circulação de pessoas sempre foram excelentes motores para o crescimento e prosperidade. As teorias antropoevolutivas mais recentes até referem que um dos motivos pelos quais o Homo Sapiens suplantou o Neandertal foi exatamente porque o primeiro, ao contrário do segundo, fazia trocas comerciais entre tribos diferentes partilhando tecnologia e recursos. E enquanto houver prosperidade haverá Paz, algo que apenas a UE conseguiu na Europa por mais de 70 anos desde o colapso do Império Romano do Ocidente. Quem tiver preconceitos contra a economia, pode ler a Paz Perpétua de Immanuel Kant, que está lá um repto a uma proto-UE implícita. Podem ler também Einstein, e o seu "Manifesto ao Mundo Civilizado" aquando da Primeira Grande Guerra, quando instou os povos da Europa para que criassem uma "Liga de Europeus" para que esta possa "fundir o continente num todo orgânico". E se é plenamente verdade que não há unidade orgânica sem solidariedade, também jamais houve solidariedade sem responsabilidade.

vede: https://www.veraveritas.eu/2020/04/repto-ao-mundo-civilizado.html

Anónimo disse...

Mais uma vez atenção

O link indicado é um link armadilhado

Anónimo disse...

Pimentel paulorodrigesaraoarques ferreira faz-se de tontinho

Ninguém lhe pediu para desbobinar as tristes e patéticas novelas que rabisca por tudo o que é sítio. Já lemos por aqui e já por aqui foi metida no seu lugar esta mão cheia de colagens a ver se assim passa. Já foram trituradas algumas dessas missas e não vale perder tempo com beatos evangélicos

O que se pede é que Pimentel Ferreira não fuja

Vede,vede se ele percebe

Anónimo disse...

Mais uma vez

Vede se JPF não parece Trump e as suas conferências de imprensa