segunda-feira, 6 de abril de 2020

Euroscetticismo


No seguimento do texto anterior, demos então mais um salto a Roma. “Tem de compreender que o meu partido é um dos mais europeístas de Itália e agora tenho militantes a dizer-me: para quê permanecer na UE? Não vale a pena”, diz Carlo Calenda, fundador da Azione, um partido liberal recente, dissidente dessa longa farsa chamada Partido Democrático, num “big read” do Financial Times sobre as clivagens europeias na península que é o elo mais fraco da cadeia euro-imperial.

“Se os activistas partidários e os políticos europeístas estão assim, pode imaginar o que o eleitorado sente”, diz um especialista em sondagens na mesma peça. E estas revelam a extensão do eurocepticismo a que temos aludido. Pudera. E a aí esquerda já não conta para nada, devorada que foi pela europeização. Aprende-se realmente muito entre as ruínas de um país estagnado há duas décadas.

Conheço outro país assim: mas neste rectângulo resiste ainda esquerda que nunca deixou vago o terreno contestado da imaginação de uma comunidade nacional densa, cimento da construção soberana de instituições igualitárias, que nunca se confundiu com miragens pós-nacionais. Haja esperança, portanto, sem se abdicar do mais intransigente realismo.

12 comentários:

PauloRodrigues disse...

Existe alguma coerência das esquerdas Portuguesas e isso é um bom ponto de partida para ação coordenada, mas sem confundir as bases dos partidos, pois é muito difícil construir confiança, mas muito fácil destrui-la.

Anónimo disse...

Uma união que não tem como princípios a igualdade e a solidariedade não é uma união.

Jaime Santos disse...

O realismo passa por alternativas credíveis e não por demagogias que implicariam a destruição da Economia e o regresso em força da Direita ao poder. Os constrangimentos orçamentais e a posição periférica de Portugal continuarão a ser uma realidade com ou sem a UE, com ou sem o Euro.

É preciso ter paciência para com os falsos ingénuos que nos querem fazer acreditar que uma Europa de nações não será aquilo que sempre foi, um cenário em que os grandes competem entre si e os pequenos obedecem. E quanto à conversa sobre o internacionalismo, faz lembrar as intenções piedosas que tantas vezes ouvimos de Bruxelas... Como dizia Chomski, é completamente previsível e por isso não transporta nenhuma informação.

Olhe-se para a História de Portugal no século XIX, enquanto semi-colónia da Inglaterra e como a bancarrota nacional do fim do século condicionou toda a História de miséria durante o século XX, incluindo o fim da 1ª República.

A esperança, João Rodrigues, era para os gregos o pior de todos os males, aquele que ficou na boceta de Pandora. Lembre-se sempre bem disso... Cuidado pois com o que espera em relação a Itália, porque uma crise lá que nos arraste a todos pode não ter o resultado que deseja...

O Daniel Oliveira, pelo menos, reconhece que a UE não irá acabar, os do Norte e os do Sul precisam dela por razões distintas, mas precisam...

PauloRodrigues disse...

Caro Jaime Santos.
O tratado de Maastricht, de 1991(imposto como contrapartida para a alemanha aceitar integrar o euro) impõs na europa o regime neoliberal.
Todos os países onde o neoliberalismo foi implementado sofreram graves consequências: Chile, México, Argentina, Coreia do Sul, Suécia, Inglaterra, etc.
Só que agora temos não um, mas 28 países.
Perante um sistema que procura apenas recuperar o poder das elites, era inevitável que o resultado fosse este: um sistema imperial, com a sede em berlim e muitas coloniazinhas.
A questão é: continuar a ver o País a degradar-se, a sociedade a desagregar-se é inevitável ("não há alternativa" como dizia a thatcher e alguns papagaios que por aí andam)?
Ou será que podemos escolher outro caminho?

Anónimo disse...

Bem, caro Jaime Santos, o "realismo" também nos informa que graças às politicas e aos condicionalismos da UE, estamos a caminhar a toda a velocidade para a segunda grande crise económica e financeira em dez anos.
Poderá argumentar que sem UE seria pior. Pois. Talvez fosse. Mas o contrafactual vale o que vale para qualquer dos lados: é mero exercicio teórico onde cada um despeja as doses de wishfull thinking que lhe dá mais jeito.
V fala em "alternativas credíveis". Mas escusa-se a nomeá-las. Nem sequer define o que entende por "credível". Não diz, p.e. se inclui no seu conceito de "credibilidade" as politicas industriais que deixam um pais sem capacidade para produzir em qualquer momento uma quantidade razoável de coisas tão singelas como máscaras respiratórias.

Cump.

JRodrigues

João Pimentel Ferreira disse...

Jaime Santos, é graças à UE que estamos a caminhar para uma crise? Confesso que começo a perder a paciência para tanta mentira e demagogia descarada! E nos EUA, Japão e China, não há crise? E os 80 mil milhões que Portugal recebeu desde 1990 em fundos estruturais?

Jose disse...

A tradição nacionalista da esquerda portuguesa é um boato em que só crê quem não tem memória. O seu sentimento nacional mais evidente é o que identifica a nação com uma das classes em que a divide.

O primeiro sinal de um nacionalismo autêntico é dizer claramente qual o destino colectivo que projectam, quais os meios que mobilizam para os alcançar.
Na memória de muitos está ainda um projecto nacionalista que, assegurando um crescente bem-estar às populações, sempre invocou a necessidade de sacrifícios como condição de sucesso para esse projecto nacional.

A esquerda, que reconhecidamente vem condicionando a governação desde há 46 anos, não nega nem pode negar que o crescente bem estar se deveu ao projecto europeu, não demonstrou nunca poder prescindir das ajudas europeias, não sabe sequer enunciar o projeco que nos afaste da UE, e reclama como único benefício uma qualquer maior igualdade pelo dominância de uma difusa «classe trabalhadora.
E se à revolução sempre são associados sacrifícios, agora haveriam de obter-se os seus resutados sem que a palavra sacrifício seja pronunciada.

Acredita quem não tiver discernimento ou viva num qualquer casulo ideológico!

Alice disse...

Pimentel,

Mandarem-nos 80 mil milhões importa? Garante que eram 80 mil milhões que eram necessários e não o triplo, ou 10 vezes mais?
Ainda por cima, nem sequer pondera a ideia de que esse 80 mil milhões possam ter tido efeitos negativos colaterais.

Em 30 anos, 80 mil milhões não são nada, face ao colete de forças em que fomos metidos.

Jose disse...

Fico entre angustiado e expectante que alguém me identifique as forças criativas e produtivas nacionais que se viram tolhidas «face ao colete de forças em que fomos metidos» pela nossa relação com a Europa - Alice dixit.
Haverá algum indício manifesto de tais forças de que não me tenha apercebido?
A sua manifestação terá sido fugaz, criminosamente sustida ou jaz inerte à espera de um tempo ainda não desvendado?

Quem ambiciona o progresso da Pátria não pode calar um tal tesouro, não pode deixar de partilhar uma tal esperança.

João Pimentel Ferreira disse...

Alice, o valor que o salário mínimo real tem em 2017 (€535, acerto IPC, base 2011), é 26 porcento superior ao valor real que tinha em 2002 (€424, acerto IPC, base 2011), data da entrada na moeda única; já o salário mínimo real em 2002 (€424), data da entrada na moeda única, é 21 porcento inferiorao valor real que tinha em 1975 (€535, IPC, base 2011). E qual a diferença entre estes dois períodos? A divisa!

Alice disse...

E o que raio interessa o SMN, que nem sequer imposto paga?
Está assim tão contente com o país transformado em terreno de especulação imobiliária e colónia de férias? Acha que isso dá para pagar dívidas?

Jose disse...

Uma inquietante suspeita me acode ao espírito.
O «colete de forças em que fomos metidos» não trava a produção, trava o consumo, esse talento patriótico que jaz amordaçado por escassez de uma moeda a cujo acesso malevolamente é requerida prévia produção!!