segunda-feira, 6 de abril de 2020

Para que os tempos sejam mesmo outros (I)

«Esta crise está a expor as vulnerabilidades da nossa economia e da nossa sociedade. O subfinanciamento crónico dos serviços públicos, a precariedade laboral e a erosão do sistema de previdência têm um custo muito elevado, normalmente oculto, mas que está hoje à vista de todos, com a atual crise de saúde pública.
Mas esta crise está também a mostrar-nos o quanto dependemos uns dos outros, os inúmeros laços de entreajuda que tecem a nossa sociedade. Nós podemos sair desta crise com esse tecido social fortalecido, se nos valorizarmos uns aos outros. O primeiro passo desse caminho é dizermos obrigado. Obrigado a todos cujo esforço nos vai ajudar a superar o vírus. Um agradecimento, desde logo, aos que asseguram o funcionamento de serviços públicos essenciais, e em especial às equipas do Sistema Nacional de Saúde (NHS), que estão na linha da frente: médicos, enfermeiros, auxiliares, administradores e todos os que estão em todas as unidades de saúde, sobrecarregados e sob uma pressão inimaginável. Um obrigado, também, aos assistentes sociais, que cuidam de muitos dos mais vulneráveis. E aos funcionários públicos, que trabalham longas horas na administração local, no ensino, professores, carteiros e tantos outros.
Mas quando falamos de trabalhadores essenciais, não são apenas estes que mencionei que mantém a sociedade em movimento. Na passada segunda-feira, um ex-deputado de North West Hampshire disse - e cito - que "Quando sairmos desta crise... temos que fazer uma reavaliação sobre quem é importante neste país e o que significa ser um "trabalhador-chave"". E eu acho que ele tem toda a razão. Constatamos hoje muitas profissões e trabalhos que nunca valorizámos devidamente e que são essenciais para que uma sociedade funcione. Estou a pensar em quem recolhe o lixo, nos arrumadores de prateleiras dos supermercados, nos motoristas que fazem o transporte de bens, naqueles que fazem a limpeza. Trabalhadores que são muitas vezes desvalorizados, definidos como pouco qualificados. Mas eu pergunto: quem nos faz mais falta numa crise, o trabalhador que recolhe o lixo ou o gestor de fundos bilionário? Todos estes trabalhadores merecem muito mais que o nosso obrigado. Neste momento eles precisam da nossa ajuda. Mas depois da crise vão precisar do nosso respeito. Para que não sejam tratados como foram tratados ao longo da última década de austeridade.»

Da intervenção de Jeremy Corbyn no recente debate sobre o Coronavírus, na Câmara dos Comuns.

2 comentários:

Jose disse...

«O subfinanciamento crónico dos serviços públicos, a precariedade laboral e a erosão do sistema de previdência»

Presumindo que o SNS não tenha que estar permanentemente dimensionado para a pandemia, o que é que tudo o mais tem a ver com o assunto?
Nada distingue o lay-off ou o desemprego dos precários dos não precários.
A erosão da previdência são os excessos da previdência ou a despesa pública, não a brutalidade das contribuições e impostos.

Bmonteiro disse...

«A cultura de objectivos foi especialmente predominante no Reino Unido durante algum tempo…
Infelizmente, o que foi introduzido não foi a capacidade de um administrador de empresas
genuinamente dotado… mas uma
cópia muito mais rígida de regras supostamente gerais para gerir uma empresa. O talento é difícil de ensinar
e os métodos utilizados tendem a reforçar o distanciamento dos indivíduos da função verdadeira para a qual foram empregados.
A administração é simplesmente transformada numa habilidade ensinada, a qual com pequenas
modificações obtém sucesso em qualquer meio.
O FIM DO IMPÉRIO ROMANO
Adrian Golsworthy
Londres 2009
Esfera dos livros, 2010