terça-feira, 7 de abril de 2020

PSD - Ultra Hiper keynesianos, mas só no setor da saúde


Ao fim de umas semanas desta crise, e finda a circunspeção inicial a que estes momentos obrigam, o PSD voltou a encontrar refúgio no seu discurso a fugir para o chinelo.

Aproveitando a mudança de diretriz da OMS, que é hoje favorável ao uso mais generalizado de máscaras no combate à pandemia, o PSD não se fez rogado e fez um cartaz com duas exigências imediatas: máscaras e testes para todos!

A única forma de esta ser uma proposta intelectualmente séria é o PSD assumir que a economia internacional tem uma enorme capacidade excedentária na produção de máscaras e dos reagentes e materiais necessários para os testes. É uma espécie de keynesianismo alucinado, em que se espera que exista capacidade excedentária para bens que todas as economias estão a procurar ao mesmo tempo no presente e que até há escassos meses tinham uma procura residual.

Até o autor deste texto, keynesiano convicto, convencido de que a maioria das economias capitalistas desenvolvidas é pautada por excesso de capacidade e a procura é um elemento essencial, acha este raciocínio ridículo.

Com grande parte das economias mundiais a aumentar de forma simultânea e massiva a sua procura por bens de um setor muito particular da economia, existirão problemas de oferta. Não se pode exigir aquilo que a economia não tem, neste momento, capacidade de produzir. O desafio é realocar o tecido produtivo existente para a produção desses materiais, aumentando progressivamente a capacidade de produção. É isso que tem sido feito, dentro dos constrangimentos existentes. Isso reflete-se hoje na existência de um maior número de testes e máscaras disponíveis. A postura razoável para um partido da oposição, neste momento, é acompanhar o ritmo e a capacidade desse esforço de reorientação da produção nacional e de procura de respostas no mercado internacional. E sugerir outras estratégias, se as tiver.

O PSD optou por fazer o oposto. Faz uma exigência que sabe impossível para manobrar a ansiedade e o medo das pessoas num momento de fragilidade. É uma atitude baixa e irresponsável. Lembre-se disso hoje. Mas lembre-se também no futuro, quando a direita colocar o seu ar solene e se decretar a representante da responsabilidade, contra a esquerda infantil e populista.

6 comentários:

PauloRodrigues disse...

Ainda vamos ver o psd a fazer arruadas, com malabaristas e mimos, ao velho estilo UDP.
O psd ficou sem os poucos argumentos que usava antes da crise pandémica.
Não dá jeito nenhum falar agora das "falhas" do SNS e da necessidade de o transformar em NEGÓCIO e entregar o NEGÓCIO aos oligarcas da saúde privada, que se contam pelos dedos de uma mão (e que o psd presa muito).
Especialmente, quando os oligarcas da saúde privada estão a fechar hospitais no momento mais crítico da saúde pública em Portugal!
Fico apenas na dúvida se a tendência neoliberalizadora do psd é fruto daquilo que Marc Blyth chamou "COGNITIVE LOCKING", ou ao "PATH DEPENDENCY", ou a outros motivos, confessáveis ou não...

Paulo Marques disse...

A minha inflação é melhor do que a tua, versão Rio. Porque continuamos a gostar de copiar os EUA, pelos vistos, corra bem ou corra mal.

Geringonço disse...

Este caso das máscaras não é um flagrante exemplo daquilo que os MMters (Teoria Monetária Moderna) se referem constantemente?

O problema não é se há ou não dinheiro para comprar as máscaras, o problema é a (falta de) capacidade produtiva para as produzir.

E quem diz máscaras, diz ventiladores, diz outros bens e serviços...

Entretanto, o país que diz não ter dinheiro para criar um Serviço Nacional de Saúde já tem dinheiro para pagar 4 vezes mais por material médico que estava destinado a outros países, falo dos Estados Unidos da América obviamente!

Jaime Santos disse...

Lapidar. Num momento em que os equipamentos de protecção não existem no mercado internacional, assim como os testes, defender o uso generalizado de máscaras e o recurso a testes em massa é uma posição irresponsável.

Estes itens devem ficar reservados para quem deles mais precisa, a começar pelo pessoal médico. Defender o contrário é colocar ainda mais em risco estes profissionais, porque pode levar a aumentos adicionais dos preços e a açambarcamentos (parece que o dito keynesianismo alucinado os fez esquecer a lei da oferta e da procura).

Quer isso dizer que se calhar corremos todos um risco adicional por sairmos à rua sem máscara, ou porque nem todos os que deveriam ser testados o são? Pois paciência, stiff upper lip e keep calm and carry on...

E, já agora, fiquem em casa, que é mesmo a protecção mais eficaz...

Jose disse...

O Keynes é pau para toda a colher - agora virou especialista em estados de emergência e pandemias.

Vi na CNN o ministro da saúde checo a falar com máscara que tinha feito em casa dum qualquer material improvisado.
Determinar prioridades para testes num plano de relançamento da actividade económica é tão só uma evidência, não direi de Keynes, mas talvez de La Palisse.

Emigrante 2013 disse...

Se o PSD ou a P(M)àfia estivessem agora no "Poder", a esta hora estavam a garantir "Fatos de madeira" para todos!