quarta-feira, 22 de abril de 2020

Lenine


Todos concordarão em que seria insensata e até criminosa a conduta de um exército que não esteja preparado para dominar todos os tipos de armas, todos os meios e processos de luta que o inimigo possui ou possa possuir. Mas isto diz ainda mais respeito à política do que à arte militar. Em política é ainda menos fácil saber antecipadamente que meio de luta será aplicável e vantajoso para nós em tais ou tais condições futuras. Sem dominar todos os meios de luta podemos sofrer uma derrota enorme - por vezes mesmo decisiva -, se mudanças independentes da nossa vontade na situação das outras classes põem na ordem do dia uma forma de acção na qual somos particularmente fracos. 
1920

Mas o que significa a palavra transição? Não significará, aplicada à economia, que no regime actual existem elementos, partículas, pedaços de capitalismo e de socialismo? Todos reconhecem que sim. Mas nem todos, ao reconhecerem isto, reflectem sobre precisamente que elementos das diferentes estruturas económicas e sociais existem na Rússia. E nisto está toda a essência da questão (...) O capitalismo é um mal em relação ao socialismo. O capitalismo é um bem em relação ao medievalismo, em relação à pequena produção, em relação ao burocratismo ligado à dispersão dos pequenos produtores. Uma vez que ainda não temos forças para realizar a passagem directa da pequena produção ao socialismo, o capitalismo é em certa medida inevitável, como produto espontâneo da pequena produção e da troca, e portanto devemos aproveitar o capitalismo (principalmente dirigindo-o para a via do capitalismo de Estado) como elo intermédio entre a pequena produção e o socialismo, como meio, via, processo ou método de elevação das forças produtivas.
1921

Vladimir Ilyich Ulianov, conhecido por Lenine, nasceu a 22 de Abril de 1870, há precisamente 150 anos. Do Brasil ao Vietname, passando por Portugal ou pela Índia, os comunistas assinalam naturalmente o aniversário, a data redonda.

Junto-me a eles, não sem antes dizer que já defendi a necessidade de dizer adeus a Lenine, mas há uns anos constatei que essa despedida tinha sido precipitada.

Reaprender com alguns aspectos da vida e obra de Lenine é capaz de não ser má ideia, dada a situação mundial: organização consequente dos subalternos; análise concreta da situação concreta, partindo das peculiaridades da formação social onde se intervém; avaliação da correlação de forças, o que alguém designou por “filosofia da conjuntura”; identificação dos elos mais fracos de uma cadeia imperialista em mutação; articulação entre classe e nação, entre libertação social e nacional; prontidão para aceder ao poder e aí implementar novas políticas económicas, resultado de uma aprendizagem permanente, pugnando por uma complexa e exigente transição socialista que pelo menos terá de ser igual a sovietes, hoje metáfora para uma democracia avançada que mude as relações sociais, mais electrificação de todo o país, hoje com base em renováveis. Não é pouco.

O Estado de que Lenine foi um dos fundadores desapareceu há quase trinta anos. A experiência soviética fracassou, foi derrotada. O mundo não melhorou por causa disso, antes pelo contrário. É preciso continuar a tentar, sem fórmulas e sem garantias, procurando aprender sempre, mas sempre, com os grandes acertos e sobretudo com os grandes erros.

23 comentários:

Anónimo disse...

A minha homenagem ao «homem que mais fez pelos outros homens» (como disse alguém). A falta que faz retomar, atualizar e aprofundar o seu pensamento e ação.

João Pimentel Ferreira disse...

O caro João Rodrigues já visitou o seu Mausuléu em Moscovo? Um verdadeiro Deus na Terra! E ainda há quem diga que o comunismo é diferente de uma qualquer religião!

Henrique Chester disse...

Também penso que se deve voltar a Lenine e a experiência da União Soviética, a morte do Socialismo, e um exagero

Anónimo disse...

Não deixa de ser curioso como uma espécie de evangélico na terra,nos processos,nos métodos e na ideologia, um tal de João Pimentel Ferreira venha dissertar sobre a religião

O fundamentalista ( religioso) dos mercados e da Holanda? De Mises e de Pinochet? Da manipulação sortida e por sortear?

Não pega

Anónimo disse...

A Russia Soviética imaginada por Lenine, estava morta á décadas, e não á trinta anos como escreve, mas enfim......

Jose disse...

«O mundo não melhorou por causa disso, antes pelo contrário.»

Se a liberdade das nações não tem significado, se o fim de uma farsa não é um bem, se a autonomia individual não é um valor, só então, antes pelo contrário.

Anónimo disse...

Rússia soviética imaginada por Lenine?

Lenine imaginou uma Rússia? Upa,upa...bastante mais acima gajeiro.

Anónimo disse...

" só então, antes pelo contrário" poderia ser parte de um faduncho em torno dos paraísos terrestres alcançados após o colapso da URSS

Cada um tem (d)a memória o que tem. Alguns tentam apagar das memórias dos outros a liberdade das nações coloniais,alcançadas pela luta anti-colonial dos povos dessas nações.

João Rodrigues posta um oportuníssimo texto a esse respeito quando recorda Ho Chi Minh a propósito de Lenine, ou vice-versa.

As saudades salazarentas dos berros de "Angola é nossa" chocam bem nos então antes pelo contrário dos fadunchos que nos querem cantar.

Anónimo disse...

Talvez seja por estarmos tão próximo de uma data histórica, que se ouve falar no fim de uma farsa

Os farsantes são assim. Não vêem as farsas das próprias farsas dos seus impérios coloniais.

E dissertam sobre a "autonomia individual". A dos ricos,claro,aqueles que estão predestinados a ficarem cada vez mais ricos.

Os farsantes são assim. Fazem passar as suas farsas com ar de coisa respeitável e normal.

E vão engordando, seguindo o destino que reivindicam

Jaime Santos disse...

A permanente tentativa de contextualizar a obra de alguém que foi sobretudo um criminoso. Enfim, os comunistas a procurarem despachar as razões para a sua derrota com racionalizações.

A URSS teve claro aspectos positivos, excepto para os povos da URSS e da Europa de Leste que tiveram que amargar todos aqueles anos de despotismo para que, segundo o João Rodrigues, o Capitalismo amaciasse a condição das classe operárias ocidentais e para que os movimentos anti-coloniais derrotassem o imperialismo europeu.

E para que depois esses movimentos acabassem naturalmente por transformar os respectivos Estados em ditaduras corruptas, prontas a fazer negócio com o primeiro capitalista que lhes aparecer à frente. Corruptas e até ridículas e medievas, olhe-se para as posições de Daniel Ortega face à crise sanitária.

Lugar cimeiro ocupa naturalmente a China 'comunista', onde temos comunismo (leia-se despotismo) na política com um Partido Único e Capitalismo para tudo o resto. Mas a via particular de Deng para o Socialismo justifica seguramente o enriquecimento das elites. Como é que lhe chamou no outro texto? Marxismo de via oriental? Deve ser isso.

É tudo uma versão mais sofisticada da 'acumulação primária de riqueza' de que falava José Eduardo do Santos... O Capitalismo é naturalmente bom quando ganhámos com ele...

A hipocrisia, envolta nas roupagens da dita racionalização de quem toma os outros por parvos, é afinal uma condição universal da espécie humana.

E o mundo está evidentemente melhor porque a URSS falhou, muito antes de ter sido derrotada sem o Ocidente disparar um tiro, deixando um vazio de penúria, destruição ambiental e autoritarismo atrás de si. O oposto dos ideais de um Estado onde vigorassem as "mais altas liberdades" .

Temo só em pensar em que nos poderíamos ter tornado se Cunhal tivesse levado a sua avante. Obrigado Ramalho Eanes, obrigado Melo Antunes, obrigado Vasco Lourenço, obrigado Jaime Neves, obrigado a todos os outros que derrotaram a tentativa de golpe a 25 de Novembro e obrigado a Mário Soares que tinha derrotado politicamente a Esquerda Radical, PCP incluído, no Verão anterior.

Quando ouço um comunista tomar estas posições sem réstia de mágoa (excepto a mágoa por terem perdido a luta) por aquilo que ele e os seus antecessores defenderam (o indefensável), mais convencido fico que o que temos com a UE, por muito incompleto e até injusto que possa ser, merece ser defendido, mesmo que seja apenas porque a alternativa por eles proposta seria seguramente cem vezes pior.

Resta-me apenas uma pergunta. O que anda um jacobino e um leninista a fazer a citar as palavras do Papa Francisco, que se seguramente subscreve a causa de uma sociedade mais justa e humana, também seguramente recusará com horror os métodos do ateu Vladimir Ulianov, e a desejar Boa Páscoa aos seus leitores, a celebração da morte do Deus dos Cristãos que morreu recusando a violência?

A primeira regra de todo o reformador social, João Rodrigues, deve ser a de Hipócrates, ao menos não faças mal. O comunismo mostrou bem, conversa sobre o fim da exploração do homem pelo homem à parte, que em nada se distingue do maquiavelismo capitalista no que diz respeito ao recurso a todos os meios para atingir os seus fins.

Pois se não é o próprio Lenine que o diz no texto que cita?

Mas convenhamos que pelo menos com o Capitalismo não há nem houve qualquer ilusão. Ganha-se em economia argumentativa e em honestidade.

Anónimo disse...

"Foi sobretudo um criminoso"

E é assim que Jaime Santos tenta despachar um assunto que o incomoda. Assume-se como um brilhante historiador que precisa de justificar o motivo pelo qual prefere as grilhetas de outros criminosos.

Mas estas atitudes masoquistas e sem coluna vertebral são lá com ele

Anónimo disse...

Não se sabe o que admirar mais

Se a pobreza conceptual do discurso de JS se a sua senha anti-comunista

"Enfim, os comunistas a procurarem despachar as razões para a sua derrota com racionalizações."

Argumento de peso: as ideias são apresentadas como racionalizações por JS. Já as racionalizações de JS na sua defesa desta UE neoliberal são o quê?
Admira-se que ele não cite os votinhos para aquilatar o peso das suas ideias...ou das racionalizações sabe-se lá

Anónimo disse...

O porfiar de JS continua. Daquela forma límpida das aldrabices manhosas ditas com as certezas de quem assumidamente se bandeou para os braços da dolce vita neoliberal

Está JS indignado com o papel da URSS em "amaciar o capitalismo". Não amaciou coisa nenhuma. Amedrontou-o. Mas JS é assim. Em relação ao capitalismo prefere os seus eufemismos

Mas JS também está indignado com o papel da URSS no derrube do colonialismo. E aqui surge uma nova faceta de JS. O de colonialista ressabiado e frustrado. A raiva como fala dos caminhos traçados por outros é por demais demonstrativo disso.Os caminhos que outros trilharam é motivo suficiente para que tivessem ficado agrilhoados aos colonizadores?
É motivo para atacar os que lutaram contra os impérios coloniais?

Este é mesmo o discurso de colonialista com falta de tomates para se assumir publicamente como tal,optando por um registo paternalista de cloaca. O discurso dos supremacistas brancos face aos crimes dos negros após saírem das cadeias bebe das mesmas águas deste esgoto

Anónimo disse...

E depois JS é ignorante. Ignorante e desonesto

Ignorante porque não consegue perceber o que João Rodrigues escreveu sobre a China. Desonesto porque deturpa o que aquele escreve

Marxismo de via oriental? Que tal ir aprender um pouco mais?

Citando ipsis verbis João Rodrigues:
"Profundamente influenciado pela leitura histórico-filosófica de Domenico Losurdo, valorizo hoje mais o marxismo dito oriental, o que colocou as questões da construção do Estado, da inserção internacional, da combinação de mecanismos de coordenação económica do que um certo marxismo dito ocidental, o que acabou na crítica politicamente impotente, relativizando, por exemplo, a importância da igualização das relações humanas representada pelo levantamento anti-colonial e seus efeitos de longo prazo".

Que tal deixar de salivar assim quando mente?

Francisco disse...

Jaime Santos, surge-me um texto iluminado como o seu e não resisto, é mais forte do que eu, a curiosidade científica avassala-me. É que da sua pena cristalina, saem pérolas lustrais. Por exemplo e começando já pelo último parágrafo, a economia argumentativa e a honestidade do sistema capitalista, não têm nada que ver com os 113 milhões de pessoas que no Mundo passam "fome aguda", segundo o último relatório da ONU (https://www.fsinplatform.org/global-report-food-crises-2019), pois não? É tudo obra das perversidades Marxistas-Leninistas, não é verdade? Até porque como bem explica, os criminosos é que cometem crimes e se os maus estão todos derrotados, sem ser preciso disparar um tiro...Bom, e depois há também a questão ambiental, por exemplo. Essa história de ser precisamente a planetarização do sistema capitalista que coloca desafios incontornáveis ao nível ambiental, como dizem certos relatórios internacionais (https://www.ipcc.ch/srccl/), sempre me cheirou a esturro. E agora, finalmente, o Jaime Santos lá fez luz sobre a matéria e elucidou-nos a todos: os Russos, os Russos comunistas (vade retro Satanás) é que são a fonte de todos estes problemas. E isto, são apenas dois exemplos, mas o seu texto é quase um compêndio. O seu serviço é impagável e o nosso penhor nunca será solvido. Um bem-haja. continuaremos desvelados a acompanhar o seu pensamento profundo.

Anónimo disse...

Por ter sido desonesto e aldrabão,JS merece que se lhe esfregue na cara a posição clara do autor deste post.

Apenas num parágrafo:

"Para este rectângulo no apêndice ocidental da grande massa euro-asiática, a China permite uma saudável diversificação de relações, base potencial de uma maior autonomia, sendo que nada justifica que não nos comportemos como os chineses no controlo dos nossos recursos estratégicos. E recusar firmemente modelos não quer dizer que não se aprendam duas ou três coisas com um país que sempre recusou o Consenso de Washington na política económica (e este Consenso está vivo-morto em Bruxelas)".

A hipocrisia, envolta nas roupagens da dita racionalização de quem toma os outros por parvos, é afinal não uma condição universal da espécie humana, mas a de certos sujeitos sem escrúpulos e sem coluna vertebral

Anónimo disse...

"A hipocrisia, envolta nas roupagens da dita racionalização de quem toma os outros por parvos, é afinal uma condição universal da espécie humana"

( Bem tenta JS passar o particular pelo universal,numa tentativa néscia de abençoar agora os hipócritas em processo de racionalização. Já se lhe tinha chamado a atenção para tal postura de generalização, a lembrar ideologias bem sombrias.Como se a hipocrisia racionalizadora de um JS se possa assumir como universal)

Anónimo disse...

Mudámos entretanto o registo.

De pseudo-virgem ofendida, consubstanciada também nos aleluias pela queda da URSS, passa para Portugal.

Compreende-se que se tenha "esquecido" de dizer que a queda da dita URSS se traduziu num mundo unipolar bem mais perigoso ( como se comprovou nos anos que se lhe seguiram). Como também que tal queda acentuou a exploração de quem vive do seu trabalho. Mas JS "lembrar-se" disso era ir contra a historieta que tenta fazer passar

Veja-se o ódio larvar,semi-contido, semi-oculto, nas suas próprias palavras. Cunhal é Cunhal, desfiliando-o do seu nome próprio. Os outros merecem nome e pronome. Adivinha-se o ranger de dentes. O confronto com a própria mediocridade conduz sempre a estes afloramentos pavlovianos

Adivinha-se que a estória que Jaime Santos conta ( ou, de acordo com o seus preceitos a estória que Santos conta) é a estória de quem tem contas a ajustar com quem não bebe as águas das suas tretas assumidas. Por isso não hesita em deturpar e caluniar.

E por isso essas odes à UE. Se bem que mais contidas,mais enjoadas, acenando já apenas como o menor dos males.

A trampa é tanta que já não consegue vender um futuro com dignidade. Apenas uma cobarde e apoltronada cançoneta em honra das grilhetas por que se baba

Anónimo disse...

É preciso ser primariamente primário.

Jaime Santos, tentar colar como velho capitalista rabujento e avarento o Papa aos seus cuidados doutrinários não é demais? Não é de amante ciumento em vias de ser abandonado?

Anónimo disse...

Jaime Santos, esqueceu_se de agradecer ao Carlucci, aos EUA, CIA, RFA , Nato etc etc, pela sua contribuicao para o 25 de Novembro. Eu sou dos que pensam , que o PCP NUNCA quis tomar o poder, e ate agradeceu porque a esquerda militar otelista foi neutralizada . Mas como sao os vencedores que escrevem a historia, continuamos a ter a fabula do 25 de Novembro, como um travao a um pseudo golpe do PCP.

Jose disse...


«O comunismo mostrou bem, conversa sobre o fim da exploração do homem pelo homem à parte, que em nada se distingue do maquiavelismo capitalista no que diz respeito ao recurso a todos os meios para atingir os seus fins.»

Eis onde um tão histericamente invectivado Jaime Santos falha:
1- «a exploração do homem pelo homem» não é um 'à parte' do comunismo'; não passa de um aparte: algo que interpreta uma verdade irrefutável como se fora um mal, como se fosse evitável, como se a igualdade fosse a alternativa possível.
2- o «recurso a todos os meios para atingir os seus fins» define a falta de uma ética, e não distingue entre os regimes económicos a que pode aplicar-se; e se há regime económico que pelo seu materialismo filosófico e ateísmo possa obstar ao discurso ético, não é certamente o capitalismo, que por si só está desprovido de outra base filosófica que não a maximização da produtividade dos recursos que emprega.

Anónimo disse...

Invectivado Jaime Santos?

E josé são em sua defesa

Histericamente?

Um pouco. Mas ambos de mãos dadas em defesa sabemos de quê

Anónimo disse...

Já cá faltava a missa beata sobre a inevitabilidade da exploração do homem pelo homem.

Como se não fosse uma verdade inevitável, dirá o pastor evangélico num qualquer comício em forma de missa
Como se fora um mal, dirá entusiasmado um adepto das teorias eugénicas usadas por sacanas sem lei
Como se a igualdade fosse uma alternativa possível, dirá babando-se quem detém o saque e o quer perpetuar

O que dizer disto?

Sorrir e dar uma gargalhada no fim, com o amén final de base filosófica dos mercados mais o discurso "etico" da vampiragem.

Para ver se passa. A eugenia e a missa e o blablabla adjacente