sexta-feira, 10 de abril de 2020

Boa Páscoa


Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata (...) Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» [trickle-down economics] que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar (...) Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano.

Papa Francisco, Evangelii Gaudium.

11 comentários:

Jose disse...

Oremos!

João Pimentel Ferreira disse...

A minha teoria bate certo, quer evangélicos, quer católicos quer social-comunistas abominam liberais, pois os seus ideários têm um inimigo em comum: a liberdade individual.

Geringonço disse...

João Pimentel Ferreira confunde individualismo com a patologia psicopata.

João Pimentel Ferreira não é apenas um indivíduo, é um predador.
A ideologia do Pimentel promove a predação de uma minoria sobre uma maioria.

Um verdadeiro indivíduo é um indivíduo que respeita a liberdade de outros indivíduos, não nega a existência da sociedade, coisa que liberais como Thatcher negaram.

A ideologia do Pimental é uma ideologia que nega liberdades a muitos indivíduos para que uma minoria viva em absoluta libertinagem.

Óscar Pereira disse...

Caro João Pimentel Ferreira,

Intuo pelo seu comentário que, no seu ponto de vista, o liberalismo é *sempre* a favor da liberdade individual. É uma ideia sedutora, que apenas tem um "pequeno" problema: está completamente errada!

Eu considero-me um liberal, não no sentido original do termo (John Locke), mas no que para mim é o sentido clássico do termo (JS Mill) -- e mesmo assim, com algumas reservas. E atribuo de facto, uma enorme importância à liberdade do indivíduo -- o que é muito mais do que se pode dizer dos neoliberais. Porquê? Porque estes últimos, sob a égide da defesa da liberdade do indivíduo, açambarcam uma ideia que aí não pertence: a de que os estados nunca devem interferir na liberdade corporativa, nem na liberdade de circulação de capitais, etc.

E isto de facto protege a liberdade... mas apenas dos ricos (e em particular, de quem for dono de grandes empresas)! É um pouco como dizer que a ditadura é o regime que mais protege a liberdade individual, quando isto só é verdade acerca da liberdade... do ditador!!

Em particular para o João, que seus pelos comentários que tenho lido neste espaço, se me afigura como um acérrimo detractor do comunismo, e um (igualmente acérrimo) defensor do neoliberalismo, ofereço o seguinte, como sugestão de "food for thought". Por Yanis Varoufakis: "o que é uma empresa? É uma market-free zone, uma mini união soviética" (1) :-)

Para concluir: certamente que a defesa da liberdade do indivíduo implica um certo grau de liberdade empresarial. Mas no mundo de hoje, este grau foi elevado a um extremo tal que, a defesa da liberdade do indivíduo agora requere precisamente o contrário: uma *limitação* da liberdade empresarial. Não é, a meu ver, algo assim tão complicado de entender, mas parece contudo escapar a todo aquele que, nestes tempos conturbados, se diz um liberal (e que na realidade quer dizer um neoliberal). (2)

(1) - Ver aos 29m:20s, https://www.youtube.com/watch?v=szIGZVrSAyc

(2) - Como diz Noam Chomsky, a o maior paradoxo sobre o "neoliberalismo", é que, apesar do nome, não é novo (neo), nem é liberal (ibid. 11m:11s).

Manuel Galvão disse...

João, exato! a liberdade individual para lixar o parceiro do lado!
Aqui no meu condomínio também há alguns liberais; deitam betas para o chão, forçam o portão da garagem quando se esqueceram do comando, e deixam o filho meter segundo carro na garagem, aonde não tem lugar atribuido, ficando a empatar a circulação dos condóminos que têm lugar atribuído.
E para cúmulo, acham que a prestação do condomínio é muito elevada e não a pagam.
Quando lhes dizemos para se candidatarem a administradores do condomínio, dizem que... não têm tampo... ou dizem que não concordam com a Lei do Condomínio.

Uns párias...

PauloRodrigues disse...

Deve te esquecidos que o partido republicano americano tem uma base eleitoral construída sobre as comunidades brancas, de orientação religiosa cristã, evangélica ou não.

PauloRodrigues disse...

"Freedom is a very good horse to ride, but to ride somewhere."
Matthew Arnold

PauloRodrigues disse...

Existem dois tipos de liberdade: a boa e a má.
Nesta última categoria, está a liberdade de explorar o próximo ou s liberdade de obter lucros desporporcionais ao serviço prestado à comunidade.
Karl Polanyi.

J.F.R.Reis disse...

Não tivesses tu nascido num berço "bom", ou pelo menos num país onde as remanescencias socialistas como o acesso gratuito ao ensino e á saúde, que iríamos ver se eras assim tão defensor do liberalismo! Vê a realidade de tantos países (incluindo o teu provavelmente adorado USA) ������

Jaime Santos disse...

Sucede que o dinheiro não é único bezerro de ouro, o maior deles todos é mesmo o Poder. O dinheiro é apenas um instrumento, entre outros, de conquista do Poder, tal como o medo e a violência...

PauloRodrigues disse...

Ou seja e segundo o que escreveu, o poder, sendo a expressão da liberdade quase absoluta, garante todas as restantes liberdades, incluíndo a de acumulação infinita, por confisco dos bens alheios.
Mas há uma liberdade que está vedada, mesmo a quem conseguiu o poder: a liberdade de escolher o dia e hora da morte, a não ser pelo suicídio.
Bem, se for como em 1929, muitos quase-ex-poderosos já devem estar a escolher a janela mais conveniente.