terça-feira, 14 de abril de 2020

A economia ao serviço da vida

Não sei quando é que devem ser aligeiradas as medidas de isolamento social, em boa hora implementadas e aceites pelos cidadãos. A confiança social é um bem relacional sem preço e que tem de ser institucionalmente estimulado.

O que sei é que não se deve decidir em função da pressão de patrões míopes e dos seus apêndices económicos, ministeriais e sindicais (é para estes preparos que serve, por exemplo, Carlos Silva). E isto mesmo que estes momentaneamente alardeiem o seu novo compromisso com o Serviço Nacional de Saúde e com outras formas de acção pública, confirmando de resto a necessidade de um Estado forte, mesmo nesta forma regressiva de capitalismo.

O que sei também é que estas personalidades, ou o seu núcleo patronal, estranhamente não identificado pela imprensa, têm uma estratégia e que esta passa por aproveitar a crise para aumentar a discricionaridade, o poder de mando.

A esta regressão deve opor-se a firme subordinação da economia a propósitos colectivos, reafirmando e actualizando a velha fórmula de um red tory vitoriano: não há realmente outra riqueza...


5 comentários:

PauloRodrigues disse...

As crises são provocadas pelas elites e esta não parece ser muito diferente.
O objetivo é a acumulação de riqueza pelo confisco de ativos nos países em crise, aflitos e dispostos a largar os "aneis" de borla (tipo BES), para aplacar a ira dos especuladores.
Esta crise parecia, à primeira vista, ser um acontecimento fortuito.
Mas, aquilo que nos chegava da China no final de 2019 parecia um filme e até a solução (paragem da economia) vinha incluída no filme.
E depois, vimos como as elites se tinham preparado com antecedência, com simulacros (e, quem sabe, com vacinas, como alguns dizem por aí).
E começam a ser demasiadas coincidências...

Geringonço disse...

É o Capitalismo do desastre descrito no livro "The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism" de Naomi Klein.

As ditas "elites" podem não ter deliberadamente criado e disseminado o Covid19 mas já estão a aproveitar a crise para consolidar ainda mais poder, reparem nos mais recentes "bailouts" de Wall Street, são ainda mais grotescos e descarados que os da crise de 2007/08!!

Os trabalhadores, aqueles que não fazem parte das distas "elites" têm que se consciencializar das agressões que estas fazem à larga maioria da população.

A larga maioria da população tem que sair da apatia em que se encontra há anos e tem que ousar mudar este estado de coisas, se não o fizer será devorada...

Neoliberalismo já nos fez perder tanto, vamos inverter a situação ok?!

Paulo Marques disse...

Pois, mas essa confiança vai ao ar quando não se consegue pagar as contas enquanto o vizinho do lado mantém os "previlégios". O facto de ser quase inevitável haver perdedores não altera a força da narrativa que a culpa é dos Outros habituais, e não da estrutura que o determina. E como esta é intocável para a gente responsável, já se sabe o que vem a seguir.

Jaime Santos disse...

Por uma vez consigo estar completamente de acordo, chamando a atenção para todos aqueles que por aí clamam por um levantamento das medidas de contenção até porque, segundo eles, a estratégia deveria seguir aquilo que se faz na Suécia, que tem uma taxa de morbilidade próxima dos 10%, a tal da imunidade de rebanho, a mesma que se queria ter seguido no Reino Unido, até Johnson e os seus se terem apercebido, já tarde, que isso poderia engendrar centenas de milhar de vítimas.

Espero naturalmente que tais propostas sejam acompanhadas por uma manifestação de coerência e de solidariedade com as pessoas que trabalham para nós na linha da frente e que vejamos esses senhores a dar o exemplo e a irem trabalhar alguns turnos como caixas de supermercado ou substituindo os funcionários e funcionárias de limpeza em lares...

A.R.A disse...

Exactamente o que eu pensei aquando das posições que os "fab four" desataram aos saltos quando se começou a falar em mutualizar as dívidas na UE.
A Teoria do Choque é sem dúvida aquilo que nos espera já ao virar da esquina... espero que o falar grosso do Costa não seja só show off