terça-feira, 21 de abril de 2020

Cassete

Sente-se que há algo de trágico quando o presente é uma reencarnação multiplicada de tantos passados idênticos.

Foi do que lembrei quando reparei nestas primeiras imagens com 40 anos de idade. Para lá da idade escandalosamente jovem daquele viria a ser um dos dirigentes mais conhecido dos empresários nacionais, se nota já a pressão para o desmantelamento do papel do Estado, em proveito de um papel mais vigoroso da iniciativa privada supostamente no desenvolvimento do país. 



E destas outras com 26 anos de idade. Em que o mesmo dirigente, um pouco mais velho mas com a mesma frontal e sincera convicção, exerce a natural pressão da iniciativa privada para obter uns favores do Estado - flexibilidade na legislação laboral e participação nos impostos - que compensem os aumentos dos salários da sua mão-de-obra. De outra forma, que interesse teria a iniciativa privada em partilhar os rendimentos gerados na actividade?


Por certo, conhecemos declarações mais recentes em que esta cassete tem sido proferida e até com bons resultados. Por isso tem sido repetida ao longo de 40 anos.

Mas voltando à primeira gravação, é caricato ouvir hoje as queixas dos mesmos empresários a um sistema financeiro privado que, afinal, não os apoia e nem investe neles e que beneficia dos apoios do BCE, mas que não os transfere para a esfera produtiva. E podemos nos questionar como foi que esta iniciativa privada contribuiu para o desenvolvimento do país quando as mesmas questões são suscitadas década após década e, afinal, nos encontramos - 40 anos depois - numa situação de grande melindre do ponto de vista da estratégia produtiva nacional, na qual reinam os baixos rendimentos salariais e que se arriscam a assim permanecerem quando se avizinha uma subida rápida do desemprego que essa mesma estratégia nacional serve, afinal, para a agravar.

Para que serviu todo este discurso feito desde há mais de 40 anos?

(Pode encontrar aqui muitas mais imagens de Pedro Ferraz da Costa)

7 comentários:

PauloRodrigues disse...

1980 foi um marco para o neoliberalismo.
Reagan e thatcher davam os primeiros passos (nada tímidos; tudo muito bem planeado e a nível mundial) do percurso do regime até ao que parece ser o estretor final em 2020.
A violência das palavras do representante supremo da burguesia faziam eco da violência praticada pela madam em Inglaterra contra as classes trabalhadoras, que construiram o país.
Sem ocupação, alguns ingleses mais jovens preencheram o vazio integrando bandos de hooligans, cujo único objetivo era destruir tudo o que encontrassem pela frente.
O supremo ato do holiganismo dos anos 1980 foi a tragédia de heysel em bruxelas.
Bruxelas, o epicentro do outro desastre, daquele que se aproxima: a desintegração da UE.

Jose disse...

«...até ao que parece ser o estretor final em 2020...outro desastre, daquele que se aproxima: a desintegração da UE»

O wishful thinking está isentado de contradições-

PauloRodrigues disse...

Caro José
Primeiro, não tenho prazer nenhum em que a UE seja destruída.
Ela está em processo de autodestruição e até duvido que exista já.
Faz lembrar a antiga união soviética no tempo da perestroika (a troika não nos larga…): já não existia, mas eles ainda não se tinham apercebido disso.
Depois do fim do estalinismo, a antiga terra dos sovietes foi tomada por 7 oligarcas.
Ora, como o nosso país já está tomado pelos nossos "7 oligarcas" e os restantes países, mais ou menos, também, dá a ideia de que já passamos a fase da euro-perestroika.
Agora a sério, as crises mundiais sempre foram muito assimétricas, o que significa que alguns países se aproveitaram das desgraças dos países menos afortunados; ou seja, nunca houve uma destruição dos esquemas capitalistas: uns perdiam mas outros ganhavam e o saldo final era positivo para os que ganhavam.
Neste momento, estamos a ver os países produtores de petróleo a pagar para despacharem o produto, que ninguém quer de borla.
Acho que os mercados estão a entrar por terrenos que nunca foram trilhados.
E o que é pior é que se está a colocar em causa a sustentabilidade das classes médias, que é a única razão para que o neoliberalismo exista.

Anónimo disse...

Jose e joão pimentel ferreira este último na sua versão paulorodrigues.

Juntinhos a segredarem um ao outro wishful thinking.

Sem qualquer contradição, pese o blablabla idiota e vazio de paulorodrigues a coleccionar chavões para ver se apanha quem o seu amigo jose não consegue apanhar

Quanto ao tema e à denúncia de Ferraz da Costa...nada,niente da parte do dueto colaboracionista. Um verdadeiro silêncio sepulcral

Restam estas palhaçadas para ver se protegem o patrão dos patrões.

Anónimo disse...

Pedro Ferraz da Costa é presidente do conselho de administração do grupo Iberfar, enquanto herdeiro da presença familiar quase centenária no sector farmacêutico. É ainda presidente do Fórum da Competitividade, uma associação de defesa dos interesses dos grandes grupos económicos. Nos órgãos sociais, cruza-se com gente habituada aos corredores do poder, tanto político como económico: Nogueira Leite, Luís Todo Bom, Mira Amaral, Daniel Bessa, João Salgueiro, Óscar Gaspar ou Vítor Bento.

Antes, passou 20 anos na presidência da CIP, entre 1981 e 2001, sucedendo ao primeiro responsável da organização: o patriarca de uma das famílias da elite económica do regime fascista, António Vasco de Mello.

O que não se conhece, de todas as suas biografias públicas, é em que período Pedro Ferraz da Costa fez o que acusa os portugueses de não quererem fazer, trabalhar.

Anónimo disse...

Ahahahah

Pérola do João pimentel Ferreira em versão Paulorodrigues:

A única razão para que o neoliberalismo exista é para a sustentabilidade da classe média

Ahahahah

Hélder Rocha disse...

Já em 1995 a CIP queria uma resdução da TSU para as empresas para aceitar os aumentos dos salários. Para compensar a redução da TSU, aumente-se o IVA. Ou seja, os trabalhadores a pagar o seu próprio aumento de salário. Com tamanha "competitividade" não sei como é que o país continua na sua tradicional periferia económica passados 25 anos.