segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Paralelo
Vale a pena ler a crónica de Pedro Adão e Silva no Expresso desta semana: “O Estado Paralelo”. A economia política da ida ao pote em duas fases que também aqui temos aflorado: fragilização e deslegitimação do Estado que desenvolve capacidades individuais e colectivas, graças à política de austeridade, e consolidação de um “conjunto de mercados dependentes do Orçamento”, promovendo opacos negócios privados nas áreas da educação, da saúde ou da insegurança social, outros tantos campos de expansão para um certo capital. Ao contrário do que a opinião convencional faz crer, quer por ignorância, quer sobretudo para manter a utopia liberal limpa, porque afinal de contas esta nunca teria sido aplicada, a suja política em curso tem uma lógica global, uma consistência ideológica e força política neoliberais que muito devem à importação forçada pela tutela externa de concepções e modelos promovidos pelas instituições da troika, mas também presentes em instituições nacionais que agem como se não fossem de cá. Paulo Portas nem tem de se esforçar, até porque a força das estruturas, e uma opinião publicada que lhes é esmagadoramente subserviente, força a prazo o trabalho político na mesma direcção de sempre. A única política que conta é a que ainda vai rareando, a que desafia as estruturas, a que desobedece à imposição externa e às forças internas que dela beneficiam e que promovem um movimento de outra forma imparável rumo a um Estado cada vez mais paralelo.
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6 comentários:
Concordo plenamente, mas estranho a estranheza.
Não sabíamos já todos que iria ser assim, quando elegemos o Passos Coelho (para mais sabendo que Cavaco já tinha sido reeleito)?
E sabendo isso, não deveríamos ter PENSADO duas vezes antes de termos derrubado o Governo anterior?
Ou vamos insistir para todo o sempre que com Sócrates iríamos fatalmente caír nesta mesma situação?
Pois eu tenho a firme convicção de que não, senhor.
E que agora toda esta lamúroa não nos vai resolver nada.
O que Pedro Adão e Silva constata agora, com toda a justeza, era FÁCILMENTE previsível em Março de 2011.
Quando Franc.º Louçã disse que o chumbo do PEC IV era o início do fim da crise (que pateta...) e Mário Soares nos garantiu que o Passos Coelho era um "homem com quem se podia conversar".
Espero que se tenha divertido muito à conversa com ele.
Nós, pelo contrário, não estamos NADA divertidos.
Caro João Rodrigues:
No sábado vi este artigo no Expresso, reproduzido depois no jornal digital Diário da Região: http://diariododistrito.pt/index.php?mact=News,cntnt01,detail,0&cntnt01articleid=1267&cntnt01returnid=84
Porque não fazer um post sobre o assunto?
O comentário do "Paralelo", porque reproduz uma tese muito propalada pelos simpatizantes de José Sócrates, suscitam-me um comentário: o problema deste governo não é contrariar o rumo do governo anterior, é dar-lhe continuidade.
Tens toda a razão, António M. P., a culpa deste Governo é toda do Sócrates!
E citou: "o problema deste (...) anterior, é dar-lhe continuidade".
Esta será talvez a antítese.
A tese é reproduzida pelo "Paralelo" (sic) e é qualificada como sendo muito propalada (quiçá demasiadamente...) pelos simpatizantes de José Sócrates (asserção assumida, mas não fundamentada).
Mas passemos de imediato à síntese: uma tese propalada por simpatizantes de José Sócrates, à partida, é de contestar - 1º Postulado.
Ser simpatizante de José Sócrates desqualifica de imediato qualquer crítico do atual "guverno" - 2º Postulado.
Haver pessoas que assim pensem, não é um mal em si.
Pensar que, com este pensamento "oficial" profundamente inculcado na cultura da "Esquerda" mais radical, se consegue avançar um milímetro que seja na formação de políticas alternativas, ou mesmo de pontes, entre as várias sensibilidades políticas oponentes ao Poder dominante é que me parece, evidentemente, A Grande Ilusão do panorama político português atual.
Quand le Peuple ne s'amuse pas, sa language peut devenir, quelquefois, un peu moins raffinée, ça se comprend bien, non?
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