sexta-feira, 22 de novembro de 2013

«Atacar a iniquidade, a injustiça, o desprezo e o cinismo dos poderosos»



«Não se espere de mim nem a mais pequena palavra de justificação por aqui estar. Bem pelo contrário. Farei a muitos a pergunta "por que razão não estão cá". (...) Custa-me a ideia de que o papel dos que aqui estão seja apenas defender, como se estivessem condenados a travar uma luta de trincheiras. Não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma, mas a atacar: a iniquidade, a injustiça, o desprezo e o cinismo dos poderosos, para quem a vida decente de milhões de pessoas é irrelevante, é entendida como um custo que se pode poupar.
(...) A transformação da palavra austeridade numa espécie de injunção moral, que serve para um primeiro-ministro, apanhado de lado pelo sucesso dos celtas que muito gabava, sorrir cinicamente para nos dizer que a lição desses celtas e da Irlanda é que ainda precisamos de mais austeridade, ainda precisamos de mais desemprego, ainda precisamos de mais pobreza. E o pior de tudo é que, ao dizer isto, sorri, muito contente consigo mesmo.
O discurso de continua mentira e falsidade, que nos diz - como se fosse uma evidência - que as empresas ajustaram, que as famílias ajustaram, só o Estado não ajustou, como se as três entidades fossem a mesma coisa e o verbo ajustar significasse o retorno a uma espécie de estado natural das coisas, que só o vício de querer viver melhor levou os portugueses a abandonar. (...) As empresas ajustaram. Sim, algumas ajustaram. Mas a maioria ajustou falindo e destruindo emprego. (...) As famílias não ajustaram, empobreceram. E estão a empobrecer muito para além daquilo que é imaginável. E têm que ouvir como insultos os méritos de perderem a casa, ou o carro, ou a educação para os seus filhos e o valor moral de deixarem de comer bife e passarem a comer frango.
É para não termos esse remorso que estamos aqui, não à defesa, mas ao ataque. Ao ataque por todos os meios constitucionais, por aquilo a que chamávamos no passado (...) - e muitas vezes nos esquecemos - a nossa Pátria amada.»

Da intervenção de José Pacheco Pereira, ontem na Aula Magna, no encontro promovido por Mário Soares, «Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social».

2 comentários:

Isabel Nunes disse...

Isto é um texto de um Social Democrata. Quem nos governa são neo-liberais puros. A conversa sobre o exito dos Irlandeses, e não dizer que o ordenado minimo deles é de 1.600 euros por mês, é estar a brincar.

Baltazar Garção disse...



Oportunista.


Este tipo, se tivesse um pingo de vergonha naquela cara, nem sequer tinha era posto os pés na Aula Magna!


O chumbo do PEC 4 e o derrube do Sócrates devem-se, E MUITO, a quem alimentou a narrativa do Diabo, quem ignorou os sinais de perigo com as duas vitórias de Cavaco e quem cavalgou a linguagem violenta do simplismo, da boçalidade, do imediatismo e do mais ordinário populismo.


É um dos chefes da BANDIDAGEM INTELECTUAL que nos trouxe até ao momento presente, que me dispenso de caracterizar.


Se agora não tem orgulho na criança que ajudou a parir, ainda tem menos valor do que os imbecis tipo-Moreira de Sá.


É sempre assim com os arrependidos: quanto mais se agacham, mais se lhes vêem as cuecas cagadas.