Em resposta às recomendações do FMI, Paulo Portas declarou ontem que o governo não acredita no modelo de salários baixos, ao mesmo tempo que tenta manter a artificial divisão público-privada. A lata deste fulano não tem fim, já que este governo faz de tudo para baixar os salários da maioria dos trabalhadores: dos cortes salariais no sector público, cuja função também é a de contagiar as negociações no sector dito privado, às alteração regressivas na legislação laboral, passando pelo ataque à contratação colectiva, pela redução da duração e montante do subsídio de desemprego, pelos despedimentos na função pública ou pelo congelamento do salário mínimo. Ufa, que não têm feito outra coisa.
Em contraste com a hipocrisia da elite nacional do poder, que ainda tem a maçada de ser escrutinada democraticamente, o FMI apresenta o programa de austeridade permanente em toda a sua violência laboral, dizendo abertamente o que hoje só por descuido as elites nacionais reconhecem: trata-se mesmo de promover uma economia sem qualquer pressão salarial, um desigual modelo de baixos salários, que é para isso que serve a austeridade permanente e as permanentes mudanças na legislação laboral e social no mesmo sentido, patrocinados também pelos Consensos de Washington e de Bruxelas.
Trata-se sempre, mas sempre, de promover a quebra continuada dos salários, isto num país onde, por exemplo em 2012,
mais de metade dos trabalhadores viu o poder de compra dos salários diminuir, quer porque a evolução nominal dos salários estagnou, quer porque ocorreram reduções nominais dos salários. Isto esteve associado à destruição maciça de emprego, explicando um declínio das renunerações de 7,2% nesse ano, ao mesmo tempo que os rendimentos de propriedade e de empresa cresciam 7,5%, em termos nominais (p. 112 deste relatório do BndP).
Estes dados, que aparecem em relatórios do Banco que não é Portugal, são escamoteados pelo Fundo. O Fundo recorre à fraude ideológica, a do uso da flexibilidade salarial e laboral, positiva, versus a rigidez laboral e salarial, negativa: positiva e negativa para quem? E que tal falarmos de rigidez e de flexibilidade patronais, de liberdade para uns à custa da liberdade de outros, de destruição da procura, de medo, insegurança e stress no trabalho, de relações laborais cada vez mais assimétricas, de menos incentivos para a formação e para a inovação, de uma economia cada vez mais medíocre e geradora de custos sociais tendencialmente ignorados pelos preços de mercado?
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5 comentários:
os cortes salariais no sector público, cuja função também é a de contagiar as negociações no sector dito privado
Não tem nada que haver tal contágio. Não se entende por que motivo deva haver contágio.
Os salários num empregador não têm necessariamente a ver com os salários noutro empregador.
Mas infelizmente é isso que acontece em muitos casos. Basta estar atento à realidade de muitas empresas privadas.
"Não se entende por que motivo deva haver contágio."
Nao nao, nao Lulu.
Nao queiras contagiar TU os outros com a TUA ignorancia. TU nao entendes talvez o motivo.
Ou, ate mais provavel, fazes-te de desentendido.
Os interlecutores de boa-fe entendem perfeitamente o motivo da maior entidade empregadora do pais (a semelhanca de todas as economias desenvolvidas e o Estado a maior entidade empregadora em Portugal) com elevado poder de mercado, um "price fixer" em vez de "price taker" (uso ate um anglicismo que provincianos como tu tanto gostam) ter poder na fixacao dos precos de mercado da mercadoria trabalho (mais uma expressao tao do agrado da cambada de pulhas que repetidamente defendes).
É claro que existe efeito de contágio e não é pouco e é isso mesmo que eles pretendem obter.
Mas nós somos anjinhos ou quê.? Agora acreditamos nas histórias da carochinha.? Por amor de Deus.
É claro que o FMI (que dizem serem os melhores da Troika(!!!), o que não se compreende, sabendo, como se sabe, o mal que eles têm feito por esse mundo fora),só quer o nosso bem - ver-nos mortos por ex.
Eu gostava que esse Lavoura me explicasse como é que, no mercado laboral selvagem que defende, a descida do seu salário não seria impedida se o empregador do lado, que fabrica o mesmo que a sua empresa, baixasse os salários aos seus trabalhadores...
Há gente que , ou nasceu com um QI muito baixo e de facto nada há a fazer, ou gosta mesmo de se fazer passar por estupida.Nas duas opções o resultado é o mesmo : o Lavoura é estupido.E se não é, parece.
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