No passado sábado, o primeiro-ministro português lembrou-se de ensaiar um discurso esquizofrénico e ignorante sobre o financiamento da nossa economia. Passos Coelho referiu que “O Estado não deixará de activamente, junto dessas instituições (bancos auxiliados), garantir que tudo o que elas podem fazer para reanimar o crédito à economia seja feito”.
Esquizofrénico, porque se queria garantir que as instituições financeiras concedessem mais crédito como contrapartida do auxílio do Estado, deveria ter exigido isso mesmo nos acordos de recapitalização. A lei que regula o reforço da solidez das instituições de crédito dá as ferramentas legais necessárias para que sejam impostas aos bancos, no âmbito dos processos de recapitalização, condições ao nível do financiamento das empresas. No entanto, quando analisamos os despachos que autorizaram a recapitalização do BCP e do BPI, encontramos apenas referências genéricas à necessidade de apoiarem a economia e uma exigência concreta: a criação de um fundo de capitalização das pme’s no valor de 30 milhões de euros. Quando estamos na presença de injeções de milhares de milhões de euros, a exigência da criação de um fundo de 30 milhões de euros é bem elucidativa do empenho do Governo em querer obrigar os bancos auxiliados a conceder crédito.
Mas as declarações de Passos Coelho revelam sobretudo o seu nível de ignorância. Se não percebe as razões da retração no crédito concedido como é que vai conseguir conduzir Portugal para fora da crise? Em primeiro lugar, é importante que ninguém se esqueça que o negócio dos bancos é emprestar dinheiro. Se emprestam menos é porque se calhar o investimento privado também está a cair e, como tal, as empresas precisam de menos dinheiro emprestado. Dito isto, alguns precipitados responderão que o investimento cai porque os bancos emprestam menos e não o contrário. Mas se tiverem mais calma e forem primeiro analisar os inquéritos que o INE e o BCE fizeram às empresas portuguesas e europeias, perceberão que a razão principal para a quebra do investimento é a falta de encomendas e de clientes.
Portanto, se o Estado português está tão interessado na reanimação do crédito à economia, então tem de primeiro reanimar a economia.
(crónica publicada às quartas-feiras no jornal i)
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1 comentário:
Aquilo que eu queria saber era a evolução do spread cobrado pelos bancos. Esse é que é o verdadeiro indicador se os bancos estão a retrair o crédito, ou se é a procura.
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