terça-feira, 2 de abril de 2013
Da acumulação original?
Isabel dos Santos: “Tive sentido para os negócios desde muito nova. Vendia ovos quando tinha seis anos.”
Quando li isto, vá lá perceber-se porquê, lembrei-me disto:
“Esta acumulação original desempenha na economia política aproximadamente o mesmo papel que o pecado original na teologia (…) Num tempo remoto havia, de um lado, uma elite diligente, inteligente, e sobretudo frugal, e do outro uma escumalha preguiçosa, que dissipava tudo o que tinha e mais. A lenda do pecado original teológico conta-nos, certamente, como o homem foi condenado a comer o seu pão no suor do seu rosto; a história do pecado original económico, porém, revela-nos como é que há pessoas que não precisam de o fazer. Mas é indiferente. Assim aconteceu que os primeiros acumularam riqueza e os segundos, por fim, nada tinham para vender a não ser a sua própria pele. E deste pecado original datam a pobreza da grande massa, a qual continua, a despeito de todo o trabalho, a não ter nada para vender a não ser a si própria, e a riqueza de uns poucos, a qual cresce continuamente (…) Mas assim que a questão da propriedade está em jogo, torna-se dever sagrado manter o ponto de vista da cartilha infantil como o único justo para todas as classes etárias e etapas de desenvolvimento. Na história real é sabido que a conquista, a subjugação, o assassínio para roubar, numa palavra, a violência, desempenham o grande papel. Na suave economia política reina desde sempre o idílio. Direito e «trabalho» foram desde sempre os únicos meios de enriquecimento (…) De facto, os métodos da acumulação original são tudo o que se quiser, só não são idílicos.”
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Na verdade, Marx é um autor a redescobrir nos tempos de hoje...
No passado, era mais barato conquistar o território de outro pela força do que desenvolver o complicado aparelho económico e comercial necessário para o mesmo efeito. Seria necessário voltar a esses métodos para algumas pessoas perceberem a natureza violenta das grandes desigualdades sociais?
Enviar um comentário