quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quando as ideias ruem

Nuno Aguiar tem uma excelente súmula da recente polémica em torno do, agora desacreditado, artigo de Rogoff e Reinhart sobre endividamento e crescimento - provavelmente um dos mais influentes estudos legitimadores da austeridade. Acrescento só uma nota importante, feita por Paul Krugman no seu blogue. O relevante aqui não é tanto se existe uma correlação entre endividamento e baixo crescimento (continua a existir), mas a desmontagem da ideia do limite dos 90% do PIB para dívida pública como fronteira a partir da qual as economias colapsam. Se não existe nenhuma abrupta queda do crescimento económico a partir de um determinado nível de dívida, então o nexo causal que afirma baixo crescimento causado pela dívida sai, no mínimo, enfraquecido. Já a causalidade inversa - baixo crescimento causa aumento da dívida - sai reforçada desta polémica.

Adenda: Bob Pollin e Michael Ash, co-autores do artigo que põe causa os resultados de Rogoff e Reinhart, explicam bem o que está aqui em causa, neste artigo do Financial Times.

4 comentários:

HC disse...

Aproveito esta deixa (porque o âmbito é essencialmente o mesmo)para deixar aqui o link para um estudo realizado pelo economista Eugénio Rosa, no qual este levanta o véu à análise técnica subjacente ao estudo encomendado pelo governo com o intuito de aferir as diferenças salariais existentes entre os sectores público e privado.
Se calhar alguns podem achar que é investigação aplicada, a mim parece-me carpintaria científica, também conhecida como a arte de bem martelar.

http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2013/12-2013-Estudo-MERCER-remuneracoes-F.pdf)

eduardo disse...

Estudos legitimadores da austeridade? A ignorância é uma coisa muito triste. Foi também este estudo que legitimou a austeridade de Soares nos anos 80? Ou foi a falta de dinheiro? Há austeridade porque não há quem empreste dinheiro, qual é a dúvida?! Aquele estudo é inócuo quanto a esta situação. Que tristeza...

Nuno disse...

Como o baixo crescimento causa aumento de dívida, como podem as economias lidar com a impossibilidade física do crescimento perpétuo e contínuo?

Anónimo disse...

"Não há quem empreste dinheiro.."

Não? E as taxas de juro baixíssimas nos US, Deutschland et al?
E a quantidade de dinheiro que muitas empresas multinacionais possuem em contas bancárias?
Dinheiro há sempre, sempre que um Banco Central tenha o mandato adequado para tal. Se o ECB não o faz é por questões, primeiro institucionais(i.e. má construção do mesmo) e depois por questões políticas