quinta-feira, 12 de maio de 2011
Para não cair na situação da Grécia
A UE está num impasse. Após a execução de uma política de austeridade selvagem, a Grécia vê o peso da sua dívida sempre a crescer ao mesmo tempo que está previsto que "regresse aos mercados" em 2012, o fim da "ajuda". Mas as taxas do mercado estão mais altas do que há um ano. O que fazer agora?
Entre os especuladores é um dado adquirido que a Grécia terá de reestruturar a sua dívida. A única dúvida, como diz o Financial Times, é se será um processo negociado ou imposto. Se for imposto, causaria algum prejuízo aos bancos alemães e, sobretudo, ao BCE e aos vendedores de seguros deste tipo (CDS). Se for voluntário, não reduziria o valor em dívida mas teria de dilatar o seu vencimento mais uns 15-20 anos para de facto aliviar a pressão financeira. Uma condição com que os credores não simpatizam.
O editorial do FT defende que a UE dê continuidade ao financiamento à Grécia, mas na condição de lhe exigir que faça mais pela estabilidade das suas contas públicas. O título do editorial é sugestivo: "Deve-se apontar a pistola à Grécia".
Em Portugal, quando as «reformas estruturais» (as que tiverem sido concretizadas) não tiverem produzido o efeito pretendido - pôr a economia a crescer - estaremos na mesma situação em que está hoje a Grécia.
De uma coisa estou certo: a «reforma estrutural» do mercado de trabalho produzirá mais desemprego e menos procura, e não se vê que as restantes reformas (justiça, saúde, autarquias, etc.) possam estimular a procura interna. E sem procura interna não há crescimento das exportações que nos possam valer. Propor reformas estruturais como receita para o crescimento económico é má teoria económica ("economia da oferta"), releva da crença neoliberal.
Para não cair na situação da Grécia, Portugal terá de encontrar fontes de financiamento alternativas. Só assim poderá dizer BASTA e dar início a uma política económica de promoção do crescimento. Agora, defender a reestruturação unilateral da dívida pública e nada dizer sobre a forma de vencer a submissão financeira em que nos encontramos não passa de uma proposta política inconsequente. E os eleitores percebem isso.
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