quarta-feira, 9 de junho de 2010

Para sair do consenso medroso


“[Q]uando se diz que a contestação não leva a lugar nenhum, como fez a ministra Helena André, e se afirma que a prioridade vai ser cortar nos custos do trabalho (directos e indirectos) está a revelar-se uma escolha política: depois dos cortes nas prestações sociais, corta-se nas formas de retribuição do trabalho. Teremos um modelo de desenvolvimento assente em salários ainda mais baixos e, ainda por cima, numa situação caracterizada por enormes níveis de desemprego. Nesse cenário, as desigualdades socioeconómicas e as pressões sobre os salários e o mundo do trabalho continuarão a ser sólidas; o capitalismo, com as suas políticas, alianças e fluxos de capitais, continuará a ser líquido; e a vida da maioria das pessoas, cada vez mais precária, continuará a ser gasosa.”

O resto artigo da Sandra Monteiro pode ser lido no sítio do Le Monde diplomatique – edição portuguesa. O editorial de Serge Halimi sobre “o governo dos bancos” também está disponível: “Crise financeira após crise financeira, vai crescendo a convicção de que o poder político alinha a sua conduta pelas vontades dos accionistas.” Destaque no número deste mês para o dossiê sobre a crise europeia: de Nuno Teles a James Galbraith, temos a prova de que há economia para lá do medo. O actual desenho institucional da UE é todo um dispositivo de pressão social e salarial com efeitos perversos: a saída do euro pode tornar-se plausível a prazo. Destaque ainda para o artigo de Hugo Dias sobre “PECariedades”: esfarelem direitos, façam alastrar a precariedade e a insegurança laborais para reduzir o salário directo e indirecto e têm os PEC europeus e as “reformas estruturais” à moda do FMI. Esta austeridade selectiva trabalha perversamente para a contracção da procura à escala europeia e para a destruição de emprego. No Le Monde diplomatique encontram mensalmente reflexões para lá do consenso medroso de prós sem contras em que estamos atolados.

[Publicado no Arrastão]

1 comentário:

João Aleluia disse...

1. A contestação é de facto fundamental, mas o importante é o que se está a contestar.

Não vejo ninguém nas manifestações a pedir um sistema de educação publico a serio que garante verdadeira igualdade de oportunidades! Não vejo ninguém a pedir um sistema judicial que faça justiça em tempo útil! Não vejo ninguém a pedir incentivos à poupança! Não vejo ninguém a pedir o fim desse grupo de saqueadores das autarquias! etc..., etc...!

A única coisa que pedem é salários mais altos e mais protecção legal!

E os patrões o que pedem? Mais subsídios e mais protecção legal!

Enquanto as ambições dos agentes económicos deste país forem estas não vamos a lado nenhum!

2. "...UE é todo um dispositivo de pressão social e salarial com efeitos perversos:"

Como diz Medina Carreira, você dá-lhes demasiado crédito!

Os dirigentes da UE mais não são do que políticos ignorantes, irresponsáveis, e em alguns casos corruptos. Não planeiam nenhuma conspiração, nem sequer estão eficientemente organizados!

3. Quanto à contracção da procura e à consequente recessão, estas são inevitáveis. A única escolha que os governos têm é até quando adiar o impacto. E quanto mais adiarem maior este será. O actual nível de actividade económica é sustentado por níveis de despesa publica insustentáveis, ignorar este facto é ignorar a realidade dos números.