sábado, 12 de junho de 2010

Apostinha no plano inclinado


“Vai uma apostinha em como, se perguntassem a Oli Rehn e a Passos Coelho qual o conteúdo dessas ditas reformas, e em que medida estas se distinguem das que o PS iniciou na última legislatura, nenhum saberia muito bem o que dizer? Admito que possa estar enganado. Veremos.

João Galamba

É bem verdade que o PS fez as “reformas estruturais” na direcção almejada pelos neoliberais: cortes nas pensões, que fragilizam o sistema público, e redução dos direitos laborais para lá de Bagão Félix (é ler a câmara corporativa…). Aliás, os efeitos positivos destas medidas no emprego são evidentes…

Enfim, o neoliberalismo é um processo de transformação institucional e pode ir sempre mais longe, claro. O PS abre o caminho para a direita: o objectivo agora é despedir minimizando indemnizações e acabar de vez com a negociação colectiva. A cassete ideológica sobre a chamada rigidez laboral da comissão europeia e do FMI, replicada pela direita e por uma parte do centro-esquerda, só pára quando recuarmos ao início do século XX e à fábrica onde estava este aviso: “Os operários podem despedir-se avisando o encarregado com uma hora de antecedência. A Casa, por sua vez, pode despedir os operários sem indemnização, avisando-os o encarregado com uma hora de antecedência”.

Há um detalhe: os estudos sobre os efeitos destas contra-reformas só são claros no aumento das desigualdades salariais e na deterioração da posição da maioria dos assalariados, que se segue à utopia de, pouco a pouco, voltar a tratar o trabalho como se fosse uma mercadoria descartável. A crise da distribuição está aí.

Os efeitos macroeconómicos internacionais do aumento generalizado das desigualdades, num contexto de financeirização acentuada das economias desenvolvidas, também não são famosos: sobreendividamento, que, em alguns casos, compensou temporariamente os efeitos negativos da estagnação salarial na procura, e excedentes, como resultado de modelos exportadores agressivos muito assentes na compressão salarial.

Deixo uma pergunta a João Galamba: as sucessivas crise da finança liberalizada e as políticas económicas de austeridade permanente ou a legislação laboral e os outros direitos sociais – qual dos dois contribui realmente para o desemprego de dois dígitos? Notem que Galamba escreveu esta excelente reflexão sobre os impactos negativos das escolhas europeias de política económica. Escolhas que também são as do bloco central na AR.

4 comentários:

Manolo Heredia disse...

Continua a ignorar-se o impacto da automatização no desemprego, isto é, continuamos a esquecer a destruição galopante de postos de trabalho levado a cabo pelas entidades empregadoras que recorrem à Internet, a sistemas sofisticados de descentralização do atendimento, etc, que foram a 3ª vaga da automatização dos postos de trabalho, nos Serviços (a supressão em massa de postos de trabalho nos Serviços).
O PIB pode subir até ao céu, desde que haja petróleo para gastar e mercado para as coisas que se fabricarem com esse petróleo, os postos de trabalho para substituir os que foram suprimidos é que não podem nascer do nada, até porque nas últimas décadas essa substituição vinha sendo feita à custa de criação de novas actividades nos serviços e essas actividades também estão agora a ser automatizadas…
Só quando o trabalhador deixar de ser considerado um mal para a empresa (em nome da Santa Produtividade) é que se resolverá o problema do desemprego.
Incongruências do sistema, que está cego e não vê que, sem uma população empregada a ganhar bem, não há sociedade de consumo.

João Aleluia disse...

1. "Deixo uma pergunta a João Galamba: as sucessivas crise da finança liberalizada e as políticas económicas de austeridade permanente ou a legislação laboral e os outros direitos sociais – qual dos dois contribui realmente para o desemprego de dois dígitos?"

Sem duvida que as crises financeiras causaram muito mais desemprego do que a rigidez do mercado laboral. Não quer isto dizer que a existencia desta rigidez (ainda que necessaria no enquadramento actual) seja uma coisa boa!

Quanto à austeridade generalizada, não sei do que está a falar, vivemos numa Europa de economias sobreaquecidas pelo consumo excessivo e irresponsavel (tanto publico como privado), mesmo a Alemanha tem tido taxas de poupança abaixo dos 30%.

2. Quanto à perda de trabalho para a automatização, também houve revoltas quando se inventou o tear! Será que devemos voltar a tecer a roupa que vestimos à mão?

Se calhar é melhor requalificar quem perde o emprego, ou pelo menos arranjar uma solução para não possa ser requalificado, do que parar o progresso tecnologico? não lhe parece?

Anónimo disse...

Em Portugal.
Há um governo socialista.
Governa.
Corre mal.

"foi a direita", "foi os neoliberais", bla bla

Em Espanha.
Há um governo socialista.
Governa.
Corre mal.

"foi a direita", "foi os neoliberais", bla bla

etc. etc.

Quando é que a esquerda começa a assumir responsabilidades pelos erros.

Parecem crianças.
"foi aquele menino", "não era assim"

Que gente infantil.

croky disse...

Alguns pensamentos meus sobre o tema ...

http://obloguistaanarquista.blogspot.com/2010/06/flexibilizacao-de-trabalhador.html