O número deste mês do Le Monde diplomatique – edição portuguesa confronta a histeria liberal. Um excelente dossiê sobre o proteccionismo opõe boas razões aos mitos e ficções ainda dominantes. Destaque para dois notáveis artigos de Jacques Sapir, economista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris: regresso do proteccionismo como solução e os mitos da Grande Depressão de 1929.
Um dos artigos mostra como o comércio livre foi responsável pela transferência sistemática dos custos da globalização para os assalariados - deflação salarial generalizada, aumento da precariedade, das doenças laborais e do sobrendividamento - e para o conjunto da sociedade - problemas ambientais crescentes, encargos cada vez mais regressivos para compensar o aligeiramento da carga fiscal que recai sobre as empresas e sobre os rendimentos do capital e desigualdades crescentes.
No centro da actual crise, argumenta Sapir, encontra-se a combinação letal de abertura comercial irrestrita com os desvarios da finança liberalizada. Uma das conclusões: «Aumentar os salários sem tocar no comércio livre é uma hipocrisia ou uma estupidez». Hei-de voltar a este importante artigo. Entretanto, relembro o que escrevi aqui sobre o custo fixo da globalização. No sítio do Mdiplo encontram dois inéditos sobre os múltiplos instrumentos ditos proteccionistas e sobre as medidas de protecção em curso. O proteccionismo abarca um conjunto muito flexível de políticas públicas.
Destaque ainda para o artigo de Sandra Monteiro, directora da edição portuguesa e co-autora dos Ladrões: «Algures entre a ocupação absoluta e a desocupação absoluta é elidido o tempo de descanso regular que devia contrapor-se ao tempo do trabalho e torná-lo possível; é suprimido o corte com o universo do trabalho, anulando um distanciamento que favoreceria que o trabalho fosse encarado como fonte de desenvolvimento pessoal; é abolida a oportunidade de se parar em boas condições, reflectindo criticamente sobre si mesmo e sobre a sociedade e usando essa reflexão para a transformação pessoal e social (...) Na verdade, se nos deixarmos interpelar pela questão do sentido, descobrimos que somos todos deste bairro. Na perspectiva mais favorável, estaremos também inseridos numa comunidade. Teremos vínculos sociais, profissionais e familiares, redes afectivas e espaços de sociabilidade. Seremos capazes de distinguir e de apreciar o tempo que dedicamos ao trabalho, ao lazer… e a não fazer nada. Talvez assim possamos tentar saber quem somos quando trabalhamos, e quem somos quando paramos. Pode ser a coisa mais difícil que já tentámos fazer, é certo. Mas o resultado pode ser uma sociedade mais humana».
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1 comentário:
q o proteccionismo é necessário no curto prazo para as empresas se prepararem para competir em novos mercados isso é certo. mas tb é verdade q se houver uma escalada de medidas proteccionistas, diminuem os mercados onde as empresas actuam e todos perdem. patrões e assalariados.
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