A coisa está mesmo negra. Segundo o INE, a produção industrial caiu 19,1% em Janeiro face ao período homólogo do ano anterior. Se nada for feito, Renato Roque terá muitas catedrais do silêncio para fotografar. Convém lembrar isto:
Nas actuais circunstâncias nacionais, é necessário reconquistar alguma margem de manobra para evitar que a actual crise conduza a um brutal e irreversível processo de destruição industrial, aprofundando tendências económicas que vêm de uma inserção internacional mal gerida que se entregou cegamente às forças do mercado global sem procurar uma inserção favorável ao progresso tecnológico e produtivo do país. Como defendeu recentemente João Ferreira do Amaral, isto passa por encontrar, à escala da UE, «um sistema para possibilitar que os Estados com défices persistentes na balança de pagamentos possam aplicar medidas excepcionais, derrogando, se necessário e temporariamente, as leis da concorrência e das ajudas de Estado para poderem combater esse défice».
Portugal, ao contrário do que se passa, por exemplo, com o Reino Unido, não tem política cambial. A desvalorização da libra e a redescoberta da política industrial estão a contribuir para atenuar os efeitos da crise na indústria e para reorientar a economia britânica para este sector depois de décadas de insistência neoliberal na monocultura financeira. Para além da suspensão coordenada das «leis da concorrência» e do aumento significativo dos fundos de apoio às periferias europeias, vai ser necessário introduzir, de acordo com Jacques Sapir (ver posta anterior), uma nova tarifa comunitária para proteger o emprego.
Como afirma Sapir: «Digam o que disserem os governos, o retorno ao proteccionismo torna-se inevitável. Longe de ser um factor negativo ele poderia permitir a reconstrução do mercado interno sobre bases estáveis, com uma forte melhoria da solvência tanto das famílias como das empresas. É por isso que ele será um elemento importante de uma saída sustentável da crise actual e deve ser colocado o mais depressa possível no centro de um debate sem totens nem tabus». Questão de defesa do emprego, de combate às desigualdades e de reforço de regras ambientais e sociais. Quem deseja a continuação de uma corrida para o fundo acompanhada do colapso industrial?
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4 comentários:
E ia aqui escrever que o proteccionismo é uma ideologia negativa. E é o que eu vou fazer. Não se pode insistir nele; ninguém vai insitir nele, porque o mercado interno é uma realidade pulverizada pela globalização; porque corre-se o risco a que novos nacionalismos agressivos surjam a par desse proteccionismo.
No mundo da super-abundância do capital; o que precisamos é de uma nova solidarieadade mundial. Não é dos "esforços de cooperação" dos poderes instalados, porque esses querem restaurar as condições capitalistas de acumulação; tal pode nunca mais ser possível; tanto a nível internacional como nacional. Por isso proteger mercados internos é um ficção; Portugal não o podia fazer porque é uma economia demasiado pequena e débil; a Alemanha não o pode fazer porque é uma economia demasiado poderosa e grande.
Não era alegre que queria um Estado estratega? Então o que nós precisamos é de uma estratégia da inteligência!
Existem inúmeras formas de proteccionismo que vão da desvalorização monetária à imposição de tarifas sobre produtos importados. Não consigo vislumbrar nenhuma que possa ser efectiva relativamente a Portugal, já que com a adopção da moeda única deitamos essas alternativas ao mar.
A atitude tremendista de ou ou ou... não penso que leve ao melhor lugar.
Não temos um colapso industrial, porque primeiro o que precisávamos era de ter uma industria nacional para tal.. como tem a Coreia do Sul ou o Japão ou os EUA. Nós o que temos é uma aglomerado de PMEs! Que são o nosso fetiche político, mas que ninguém sabe muito bem o que são.
Podemos ter um mercado aberto e ter uma programa económico auto-centrado, basta pensar que podemos aproveitar os recursos produtivos endógenos que deixámos de parte para passar a importar de tudo, da alimentação ao lazer! É a balança comercial que agora está a falar. Q não é só energia! O mercado interno poderia assim ainda ser a referência, mas a um nível micro,empresarial, como tem sido para muito grupos empresariais nacionais de há uns anos para cá, sem que ninguém nos acusasse de proteccionismo.
Mas esses prosseguiram incentivos distorcidos; distorcidos a começar pelo crédito que de difundiu abundantemente, crédito importado, a todos os poros da econommia! O crédito era a nossa alavanca, que ao fim já não levantava nada a não ser os lucros da banca! O que é que nos vai levantar agora?
Não há perspectivas; a não ser a de um pantanoso afundamento!
Concordo com a criação de uma política industrial estratégica, que direccione os escassos recursos do país para sectores de futuro, em articulação com os actores no terreno, contribuindo para criar uma actuação coerente de todas as políticas públicas. Mas é de evitar uma política de proteccionismo, que a ser generalizada a vários países, pode levar à redução drástica do comércio internacional, com consequências graves para uma economia aberta, como Portugal.
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