Vítor Bento constrói o seu argumento com base nos custos unitários de trabalho. Este indicador de competitividade é construído através da divisão de todos os custos do trabalho (salários, contribuições para a Segurança Social, etc) pelo produto real. Ora, neste cálculo só o produto é deflacionado. Os custos do trabalho são tomados no seu valor nominal. Ou seja, imaginemos dois países com a mesma moeda, Portugal e Alemanha. Os dois tem crescimentos de 5% do PIB e nos dois os custos salariais estão alinhados com a taxa de inflação (os salários reais estão assim congelados). Portugal tem uma taxa de inflação de 10%, enquanto a Alemanha observa uma taxa de 5%. O resultado será um aumento acrescido dos custos unitários do trabalho de Portugal de 5% face à Alemanha. O problema não estará, neste caso, nos salários, mas sim nas diferentes taxas de inflação.
Foi exactamente isso que aconteceu nos últimos anos na zona euro. A inflação foi bastante diferente de país para país. Como podemos observar pelos gráficos, existe quase uma identificação entre a posição dos diferentes países no primeiro (custos unitários) e segundo gráfico (evolução da inflação). Foram os países com maiores taxas de inflação a exibir uma evolução mais pronunciada dos custos unitários de trabalho.
Por outro lado, se observarmos a evolução dos custos unitários reais, deflacionando os custos de trabalho, observamos uma queda destes. O que é que isso nos mostra? Uma crescente desigualdade na repartição dos ganhos de produtividade em favor do capital. O problema não está definitivamente nos salários.
Os gráficos foram feitos a partir dos dados da AMECO. Clicar para aumentar a imagem.
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