José Miguel Júdice assina hoje um artigo sobre a cobertura mediática em torno da criança inglesa desaparecida. O artigo chama-se «A histeria de Lagos» e subscrevo na íntegra. Embora aconselhe a leitura na íntegra, seguem alguns trechos mais importantes:
«Aquilo a que assistimos é uma telenovela estruturada para captar a atenção dos espectadores, provocando neles uma sensação de receio e de empatia ("isto podia ter-me acontecido a mim"), que todos sabemos ser o segredo do sucesso nas audiências televisivas».
«A criança desaparecida é inglesa, branca filha de médicos bem integrados na comunidade, seguramente pessoas estimáveis, que pagam impostos e contribuem para o progresso do seu país. Mas outras crianças oriundas de territórios menos favorecidos, com pais menos integrados, desaparecem, morrem ou são raptadas todos os diass aos milhares por esse mundo fora. Mesmo em Portugal, isso vem acontecendo, infelizmente, com alguma regularidade. Citando de novo o Público, no meritório texto que divulgou, em 2006 desapareceram em Portugal 31 crianças, mais de metade das quais entre 11 e 15 anos. Apesar disso, não vi helicópteros e aviões fretados por canais de televisão, centenas de polícias e de cães mobilizados, embaixadores a fazer declarações no meio de ambulâncias, o presidente da república a ser solicitado para declarações públicas».
«Manifestamente é mais perigoso e dá menos audiência relatar a tragédia cósmica de Darfur do que descrever em directo os pormenores do drama familiar de Lagos".
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