Para Minsky, as decisões cruciais de investimento, que constituem uma aposta no futuro, num contexto em que as evoluções das variáveis económicas pertinentes são imprevisíveis, dependem das condições de financiamento disponíveis. Assim, tal como a aquisição de activos financeiros e de capital, também a produção de bens de consumo e de investimento tem de ser financiada e esse financiamento gera compromissos de pagamento criados pela dívida contraída que têm de ser cumpridos, «os termos em que os agentes financeiros financiam posições em activos de capital e a produção de bens de investimento são determinantes críticos no comportamento do sistema».
A abordagem pós-keynesiana de Minsky é baseada no reconhecimento da importância da formação das expectativas dos agentes que intervêm do lado da oferta e da procura de crédito. A importância das expectativas dos agentes resulta da incerteza fundamental que rodeia o perfil presente e futuro da rentabilidade e do risco dos projectos de investimento em activos financeiros e de capital. Neste contexto, os agentes são influenciados por convenções na sua tomada de decisão.
Dado que a sabedoria convencional não é estática, Minsky mostrou como ao longo de um ciclo económico a avaliação do que é um investimento razoável é modificada. Os efeitos conjugados da pressão induzida pela concorrência e pela modificação das expectativas fazem com que os agentes de ambos os lados do mercado tenham tendência para participar em actividades cada vez mais arriscadas. Esse aventureirismo cíclico tende a ser cumulativo e pode ser reforçado por modificações na estrutura da economia, desencadeadas, por exemplo, por um processo de liberalização financeira. Assim, à medida que as expectativas de lucro inicialmente pouco ambiciosas tendem a ser corroboradas ao longo do tempo, as expectativas tendem a tornar-se mais optimistas, os agentes tendem a ter cada vez mais confiança nas suas projecções e a reduzir as suas margens de segurança.
Uma manifestação concreta dessas dinâmicas é a tendência para os padrões de financiamento se tornarem mais precários ao longo do ciclo com os agentes a deslocarem-se para posições especulativas, ou seja, para o financiamento a curto prazo de projectos de investimento a longo prazo e para a aquisição de activos nos mercados financeiros. Este padrão torna os agentes vulneráveis à disponibilidade do crédito e a choque adversos nas taxas de juro. No fundo o sistema torna-se crescentemente frágil. A crise financeira ocorre quando uma qualquer conjugação de acontecimentos fortuitos provoca uma súbita e dramática revisão das expectativas dos agentes e um estilhaçar da convenção que havia suportado a anterior situação.
A crise financeira está associada a uma necessidade urgente, rapidamente transformada em pânico, de liquidez financeira. A procura generalizada de dinheiro para fazer aos compromissos assumidos conduz a uma queda dos preços dos activos. O colapso dos preços dos activos, as restrições de crédito fruto da reavaliação do risco de crédito e a consequente queda do investimento e dos lucros podem gerar um processo deflacionário com consequências económicas graves como na década de trinta do século XX.
Paradoxalmente, ou talvez não, é Minsky que diz que «o acontecimento mais significativo desde a segunda guerra mundial é algo que não aconteceu: uma depressão longa e profunda». Uma parte da sua obra é a tentativa encontrar explicações plausíveis para este facto. Para Minsky isto deveu-se fundamentalmente à existência na economia norte-americana, que é privilegiada na sua análise, de uma estrutura institucional, onde pontificam, desde a década de cinquenta, o que o autor designa por «Big Bank» e «Big Government». Assim, os encadeamentos perversos gerados por uma crise financeira foram evitados nos EUA graças, por um lado, à intervenção da Reserva Federal como credor de última instância capaz de gerar a liquidez para estabilizar os mercados financeiros e evitar quedas excessivas dos preços dos activos e, por outro, à intervenção dos défices governamentais que ao estimularem a procura agregada e ao sustentarem os lucros das empresas evitaram que o excesso de dívida gere pressões deflacionárias.
Minsky também sempre sublinhou que a sua teoria da instabilidade financeira incorpora a ideia de que o que «acontece na economia muda à medida que as instituições evoluem, de forma que embora os ciclos económicos e as crises financeiras sejam inerentes ao capitalismo, o percurso que uma economia atravessa na realidade depende das instituições, dos usos e das políticas». A intervenção do governo na regulação da finança é claramente prescrita: «um sistema financeiro complexo, sofisticado e dinâmico como nosso gera endogenamente forças desestabilizadoras tão sérias que as depressões são uma consequência natural do capitalismo sem intervenção do Estado: a finança não pode ser deixada ao mercado».
A partir dos anos oitenta, o desenvolvimento e liberalização da finança à escala internacional provocou assim um aumento da instabilidade financeira, facto que só tornou a análise de Minsky ainda mais pertinente. Autor de obras como John Maynard Keynes (1975), Can «It» Happen Again (1982) ou Stabilizing an Unstable Economy (1986), os seus contributos são hoje frequentemente utilizados para analisar a instabilidade financeira crescente do capitalismo sobretudo em países sem «Big Bank» e «Big Government». A sua grelha teórica continua actualíssima e é a prova acabada de que, como afirmou Minsky, «só uma teoria económica crítica do capitalismo pode guiar uma política económica bem sucedida no quadro do capitalismo».
A crise financeira está associada a uma necessidade urgente, rapidamente transformada em pânico, de liquidez financeira. A procura generalizada de dinheiro para fazer aos compromissos assumidos conduz a uma queda dos preços dos activos. O colapso dos preços dos activos, as restrições de crédito fruto da reavaliação do risco de crédito e a consequente queda do investimento e dos lucros podem gerar um processo deflacionário com consequências económicas graves como na década de trinta do século XX.
Paradoxalmente, ou talvez não, é Minsky que diz que «o acontecimento mais significativo desde a segunda guerra mundial é algo que não aconteceu: uma depressão longa e profunda». Uma parte da sua obra é a tentativa encontrar explicações plausíveis para este facto. Para Minsky isto deveu-se fundamentalmente à existência na economia norte-americana, que é privilegiada na sua análise, de uma estrutura institucional, onde pontificam, desde a década de cinquenta, o que o autor designa por «Big Bank» e «Big Government». Assim, os encadeamentos perversos gerados por uma crise financeira foram evitados nos EUA graças, por um lado, à intervenção da Reserva Federal como credor de última instância capaz de gerar a liquidez para estabilizar os mercados financeiros e evitar quedas excessivas dos preços dos activos e, por outro, à intervenção dos défices governamentais que ao estimularem a procura agregada e ao sustentarem os lucros das empresas evitaram que o excesso de dívida gere pressões deflacionárias.
Minsky também sempre sublinhou que a sua teoria da instabilidade financeira incorpora a ideia de que o que «acontece na economia muda à medida que as instituições evoluem, de forma que embora os ciclos económicos e as crises financeiras sejam inerentes ao capitalismo, o percurso que uma economia atravessa na realidade depende das instituições, dos usos e das políticas». A intervenção do governo na regulação da finança é claramente prescrita: «um sistema financeiro complexo, sofisticado e dinâmico como nosso gera endogenamente forças desestabilizadoras tão sérias que as depressões são uma consequência natural do capitalismo sem intervenção do Estado: a finança não pode ser deixada ao mercado».
A partir dos anos oitenta, o desenvolvimento e liberalização da finança à escala internacional provocou assim um aumento da instabilidade financeira, facto que só tornou a análise de Minsky ainda mais pertinente. Autor de obras como John Maynard Keynes (1975), Can «It» Happen Again (1982) ou Stabilizing an Unstable Economy (1986), os seus contributos são hoje frequentemente utilizados para analisar a instabilidade financeira crescente do capitalismo sobretudo em países sem «Big Bank» e «Big Government». A sua grelha teórica continua actualíssima e é a prova acabada de que, como afirmou Minsky, «só uma teoria económica crítica do capitalismo pode guiar uma política económica bem sucedida no quadro do capitalismo».
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