quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Os jovens NEET, o «ajustamento estrutural» e o mercado de trabalho

Os jovens NEET (que não estudam nem se encontram empregados ou em formação) são frequentemente associados à ideia de desmotivação e falta de «objetivos de vida». O que os dados indiciam, porém - e de forma notória no caso português - é que os NEET («jovens nem-nem»), têm uma relação muito mais estreita com as dinâmicas do mercado de trabalho (e em menor grau com o insucesso e abandono escolar), que com uma espécie de «nihilismo geracional».

De facto, a percentagem de jovens com idades entre os 15 e os 24 que não trabalha nem estuda tende a acompanhar a evolução do emprego e do desemprego: aumenta quando este aumenta (como sucedeu entre 2008 e 2013, tanto à escala europeia como nacional) e diminui quando quando o mercado de trabalho recupera (como se verificou após 2013, na sequência do travão à «austeridade expansionista»).


A diferença essencial, entre Portugal e a União Europeia, é portanto de ritmo: em períodos de crise, os jovens em idade de frequência escolar ou académica, mas que não estudam nem trabalham, aumenta de forma mais significativa em Portugal que na UE. Do mesmo modo que, quando o emprego recupera, é em Portugal que a percentagem de jovens NEET cai de modo mais expressivo, sugerindo uma maior interdependência - no caso português - entre o fenómeno NEET e o emprego e desemprego.

Aliás, um dos dados mais esclarecedores quanto ao nível de interdependência com o emprego diz respeito à percentagem de jovens NEET que não pretende ingressar no mercado de trabalho. Se até 2008 tínhamos valores muito próximos da UE (a oscilar entre 3 e 4%), desde então decresce o peso relativo desses NEET (1,8% em Portugal contra 3,6% na UE, em 2017). Ao contrário da União Europeia, a inatividade não é de facto, em Portugal, uma das principais caraterísticas dos jovens NEET. O que, por seu turno, revela também - a par da maior vinculação às dinâmicas do mercado de trabalho - a menor valorização da escola e da frequência de percursos escolares e académicos.

3 comentários:

Jose disse...

Pois não é a felicidade pessoal um dos direitos inalienáveis?
Assisti a uma reportagem nos USA em que pais foram a tribunal obter o despejo de um NEET quase quarentão que se sentia feliz em casa dos pais.

Anónimo disse...

Ou de como a idiotia avança pelos direitos inalienáveis montado no diabo, perdão, na felicidade pessoal

E nos exemplos civilizacionais que uma visão metódica e intimista, diríamos mesmo mais, quase anedótica, insiste em trazer como argumentário

Anónimo disse...

Também um ex-chefe do PSD avançou um dia com um argumento semelhante em plena campanha eleitoral

Disse o sujeito que sabia que ia ganhar as eleições. E indicava a fonte do seu saber. Tinha sido uma velhinha que lho dissera, ao que parece num café

Estamos assim no reino daquilo que parece que é

E claro, dum discurso claro e lúcido, a imitar o outro