sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Celebrar bolhas?

Não é o turismo que está a criar o problema da habitação e, por isso, o problema não se resolve com limitação do turismo. Resolve-se sim com o aumento da oferta. A única proposta que tem o condão de aumentar a oferta é baixar os impostos sobre os rendimentos prediais.

Fernando Medina, na celebração da confederação patronal do turismo, que incluiu o governo em peso, revela o alinhamento ideológico com os interesses deste sector e do imobiliário. São dois grupos cada vez mais conectados ou não fosse a bolha imobiliária, em Lisboa e não só, alimentada directa e indirectamente pelo turismo. Ideologia é aqui ofuscação da realidade.

Estes são os interesses do chamado “modelo Flórida”, que a troika ajudou a criar deste lado do atlântico. É, como se vê, um modelo com força política, mas que implica bolhas, relações laborais medíocres, estagnação e um sistema fiscal mais favorável à propriedade, ou seja, mais injusto.

No campo das relações laborais, a confederação patronal do turismo é de resto uma das que tem estado na vanguarda da defesa da redução dos direitos dos trabalhadores, e do correspondente aumento dos direitos patronais, enquanto conquista irreversível do tempo da troika e antes dela. É da natureza desta fracção do capital num sector pouco produtivo, intensivo em trabalho mal pago.

E, no fim, quando estas bolhas rebentarem e as celebrações terminarem, virão dizer que não há alternativa a mais um ajustamento.

17 comentários:

Jaime Santos disse...

Eu até concordo que um modelo baseado no turismo gera todos os efeitos perversos que elenca, mas ainda estou para perceber qual será a alternativa. Nacionalizar a indústria pesada que sobra (química, estaleiros e pasta de papel)? Com que dinheiro, desde logo (porque neste País a CRP proíbe o confisco)?

O País, João Rodrigues, tem uma dívida demasiado elevada que vai ter que pagar em grande medida, com ou sem Euro ou UE. Por isso, que aproveite bem 'as bolhas' para crescer um bocadinho e permitir tirar esse problema do caminho (já toda a gente percebeu que só haverá reestruturação se e quando os credores a impuserem, com os 'ajustamentos' que isso sempre implica).

E enquanto o faz que vá requalificando a sua população. A sério.

Se o João Rodrigues está à espera da construção do socialismo num só País, olhe para a Venezuela e olhe para o programa disparatado de Jeremy Corbyn, sendo que este só quer renacionalizar as utilities, mas não tem dinheiro para tal...

É que se as alternativas são essas, tragam-me já as grilhetas de Bruxelas...

Anónimo disse...

Algum comportamento histriónico a deste Jaime Santos.

Agora são as grilhetas de Bruxelas

Este adivinha-se de que lado estaria aquando da crise de 1383-1385

Anónimo disse...

Antes da chamada crise do sub-prime, um inconformado adepto de Jaime Santos diria:

"Eu até concordo que um modelo baseado na concessão de empréstimos hipotecários de alto risco gera todos os efeitos perversos que elenca, mas ainda estou para perceber qual será a alternativa"

Nós percebemos. A concordância de Jaime Santos e o seu TINA de estimação

Anónimo disse...

Vejamos então a alternativa sugerida por Jaime Santos?

"Nacionalizar a indústria pesada que sobra!"

Para confirmar que o seu TINA é mesmo TINA, JS expedito coloca um ponto de exclamação. Para logo a seguir lembrar, para que não haja dúvidas que o TINA é mesmo TINA:

" Com que dinheiro, desde logo (porque neste País a CRP proíbe o confisco)?"

Este tipo é um farsante. Agora defende "bolhas"? E limita a questão à indústria pesada?

Um farsante mas com o pé preso na tal indústria pesada.

Essa consciência está assim tão pesada?

Inocêncio disse...


As bolhas, na adolescência democrática, fazem parte da maturidade representada. O sucesso turístico alcançado foi um esforço programado e pago pelo país durante vários mandatos. Agora, a urgência em construir um novo aeroporto resolverá definitivamente muitos problemas centrais...
Se fosse arquitecto já estaria a afiar o lápis para o novo projecto :).

S.T. disse...

Confirma-se que o sucesso e largo apoio de que Corbyn goza no UK, para desespero dos farsolas blairites e o establishment tatcherista provoca também uma grande azia a Jaime Santos.

O artigo que proponho hoje explica essa azia e coloca quem dela sofre no seu lugar ideológico, independentemente dos rótulos que queira ou tente usar.

A primeira parte versa os meandros do Brexit e já não é de grande actualidade, mas a última parte é interessante pela caracterização que faz de Corbyn no contexto político do UK.

https://www.zerohedge.com/news/2018-08-02/lost-brexit-maze-baffled-political-class-dreads-prospect-jeremy-corbyn

"Corbyn is one of the most misrepresented figures in British politics. By the standards of earlier Labour politicians he is by no means radical. His desire for a mixed economy, with significant sections brought back into public ownership and certain elements of planning reintroduced, and his support for strong social services and for high investment in state funded education and health care are all to be paid for through progressive taxation."

"Corbyn é uma das figuras mais deturpadas da política britânica. Pelos padrões dos políticos trabalhistas anteriores, ele não é de forma alguma radical. O seu ensejo por uma economia mista, com seções significativas trazidas de volta à propriedade pública e certos elementos de planejamento reintroduzidos, e o seu apoio a serviços sociais fortes e a altos investimentos em educação e assistência médica financiadas pelo estado, deverão ser pagos através de impostos progressivos."

"The difficulty is that though Corbyn’s social democratic programme does indeed offer an alternative to the Thatcherite settlement, which in Britain represents the status quo, and is a conceivable programme around which to prepare Britain for life outside the EU, it is also one which is completely unacceptable to Britain’s establishment.

Ever since the 1990s the establishment has not only accepted the 1980s Thatcher neoliberal settlement, but has massively benefitted from it to the point where in the public mind it is increasingly associated with it. The idea that it could be successfully challenged was until recently, for the establishment, literally unthinkable since that would have meant acknowledging that the status and power of the establishment itself could be challenged."

"A dificuldade é que, embora o programa social democrata de Corbyn realmente ofereça uma alternativa ao paradigma thatcherista, que na Grã-Bretanha representa o status quo, e é um programa verosimil para preparar a Grã-Bretanha para a vida fora da UE, também é completamente inaceitável para o establishment britânico.

Desde a década de 1990, o establishment não apenas aceitou o paradigma neoliberal de Thatcher da década de 1980, mas também beneficiou imensamente com ele, a ponto de, na opinião pública, estar cada vez mais associado a ele. A idéia de que poderia ser desafiada com sucesso era até recentemente, para o establishment, literalmente impensável, já que isso significaria reconhecer que o status e o poder do próprio establishment poderiam ser questionados."

S.T.

S.T. disse...

E já agora, a respeito de Corbyn, há um excelente artigo de Chantal Mouffe:

https://braveneweurope.com/chantal-mouffe-corbyn-represents-the-implementation-of-a-left-populist-strategy

S.T.

S.T. disse...

ERRATA

Reparo que a construção de frase que acima empreguei pode ser mal interpretada.

Assim, onde se lê:

"Confirma-se que o sucesso e largo apoio de que Corbyn goza no UK, para desespero dos farsolas blairites e o establishment tatcherista provoca também uma grande azia a Jaime Santos."

Deve ler-se:

"Confirma-se que, apesar de todas as campanhas de difamação, o sucesso e amplo apoio de que Corbyn goza no UK, além de levar ao desespero tanto os farsolas blairites como o establishment tatcherista, provoca também uma grande azia a Jaime Santos."

S.T.

Jose disse...

E a bolha das 35 horas não conta? Sempre são 28,57%

Anónimo disse...

Um excelente post com uma boa foto

Anónimo disse...

Já agora, quem tirou a foto? O autor e respectivos direitos? A atribuição dos respectivos direitos autorais? É tão bom viver no anarcoliberalismo preconizado pela internet

Geringonço disse...

Não se esqueçam de dar a maioria absoluta ao PS!

Anónimo disse...

Ê tão bom apontar para a ponta do dedo para tentar tapar a imensa floresta.

Anónimo disse...

Alguém aí em cima, um tal jose, inquire, de modo estranho, se a bolha das 35 h não conta.

Pois é. Sem se saber propriamente em que trabalha ou não trabalha quem assina com tal nickname, ficamos com a suspeita que apenas pretende desviar o assunto.

Ou apenas se enganou no sítio. Talvez quisesse perorar no Observador ou num daqueles recônditos manhosos que distribuem calinadas espantosas que depois se encarrega de espalhar por outros blogs

Suspeita-se que será um seu procedimento habitual quando vê denunciada "a redução dos direitos dos trabalhadores, e do correspondente aumento dos direitos patronais, enquanto conquista irreversível do tempo da troika e antes dela".

Percebem-se as suas motivações.Lutou muito pela troika. Pelo processo austeritário. Pela concentração da riqueza. Pelo roubo aos trabalhadores-

E ficou assim deste jeito, manco, reduzido a esta espécie de discurso "lógico e claro".

Como o outro, aquele que inspira aqueles blogs manhosos etc e tal

S.T. disse...

A (poucochinho) intelligentsia nacional deveria pôr os olhinhos no que se passa no sector imobiliário lá fora e particularmente nas cidades destino de "dinheiro quente".

https://www.zerohedge.com/news/2018-10-01/theresa-may-proposes-tax-foreign-homebuyers-london-property-rout-worsens

Isto é, quando já um pouco por todo o lado até governos conservadores procuram esfriar os excessos da especulação imobiliária andam estas abencerragens ainda a soprar a bolha.

Quando as elites além de serem cúpidas são burras...

S.T.

Jose disse...

Incapazes de atrair investimento produtivo - impostos e regulamentos são a sua produção mais emblemática - como poderiam os geringonços travar os únicos canais que trazem investimento estrangeiro?

Anónimo disse...

A ira contra os impostos A desregulamentacao como ponta de lança

Por isso as odes aos bordéis tributários ou a fuga aos impostos da canalha. Por isso os cânticos à livre mão dos mercados e ao saque selvagem dos mais iguais do que os outros

Por isso a defesa das bolhas imobiliárias que enchem o ventre a alguns

Por isso o pianíssimo conportamento perante o assalto ao mundo do trabalho

Confere.