terça-feira, 28 de julho de 2015

Para acabar com o europeísmo


Numa parte considerável da sociedade (sobretudo nessa classe média que se imagina cidadã de uma Europa laica, democrática e respeitadora dos Direitos Humanos), defende-se o regresso a um projeto europeu perdido, como se Schäuble fosse (e não é) a antítese de tecnocratas como Schuman (o partidário de Pétain em 1940) e Monnet (horrorizado com o controlo parlamentar da política económica). Há que fazer uma reavaliação muito crítica dessa génese profundamente elitista da construção europeia, feita de despotismo esclarecido, e desta conceção e gestão das políticas europeias sempre cheia de preconceito tecnocrático que entende como populista toda a crítica ao europeísmo rançoso e dogmático, que reivindica a soberania democrática onde ela, mal ou bem, ainda se se tem a sensação de se exercer: à escala nacional.

Excerto de uma excelente crónica de Manuel Loff no Público do passado Sábado, que é todo um programa a prosseguir e a aprofundar. Está em contraste com o europeísmo social-liberal de um jornal que, sobretudo graças a Teresa de Sousa, faz da Dona Constança a sua grande referência nestes temas, entrevistando-a vezes sem conta para ouvir banalidades que contam cada vez menos, como aconteceu no passado Domingo. Loff prefere assaltar corajosamente um dos últimos redutos da linha europeísta: ai a falta que nos fazem as sábias e desinteressadas elites do passado, de uma tradição europeia inventada, note-se, de Schuman, já agora, a Delors.

De facto, a grande referência da Dona Constança foi, na realidade, uma figura central da inscrição do austeritarismo no horizonte francês e europeu, parte do esforço das elites francesas para disciplinar as suas classes trabalhadoras através de um vínculo supranacional liberal no campo monetário, financeiro e não só, quer como Ministro das Finanças na abdicação socialista de 1983, quer como Presidente da Comissão na altura de Maastricht.

O reduto que Loff assalta é, com o da paz liberal europeia, cujo assalto fica prometido, uma forma de ofuscar o que a integração realmente existente é desde a sua origem, desde a economia política do Tratado de Roma: um projecto tecnocrático neoliberal (sim, o neoliberalismo emerge, enquanto projecto intelectual, entre os anos trinta e quarenta e tem em 1957 um dos seus precoces triunfos políticos), pós-democrático e anti-socialista. A diferença está na intensidade da integração, embora aqui quantidade também seja qualidade. Enfim, os comunistas, muitos, mas mesmo muitos, socialistas e outros democratas da altura sabiam destas realidades e destes perigos. Vale por todos o ex-primeiro-ministro francês Pierre Mendés-France, no início de 1957, numa justamente célebre intervenção na Assembleia Nacional francesa:

“O projecto do mercado comum, tal como nos foi apresentado, é baseado no liberalismo clássico do século XIX, segundo o qual a concorrência pura e simples resolve todos os problemas. A abdicação de uma democracia pode assumir duas formas: o recurso a uma ditadura interna, transferindo todos os poderes para um homem providencial, ou a delegação de poderes para uma autoridade externa, que, em nome da técnica, exercerá na realidade o poder político, uma vez que, sob pretexto de uma economia sã, acabará por ditar a política monetária, orçamental, social e, em última instância, a política no sentido mais alargado do termo, nacional e internacional.”

19 comentários:

M.G.P.MENDES disse...

Eu só gostaria de ver - VER - aqui escrito (!) qual a vossa perspectiva de futuro para esta Europa...!

Anónimo disse...

E ler o blogue, M.G.P.MENDES?

Há mais nele do que o óbvio.

Anónimo disse...

A denúncia da natureza pérfida e ditatorial do neoliberalismo não é nova, agora o que vamos fazer sabendo que o neoliberalismo tragou a Europa e não só. Deixar que os neoliberais continuem a fazer o que têm feito só vai tornar a vida da maioria de nós um inferno...

Aleixo disse...

Querem Serviço Nacional de Saúde?
Querem Ensino Superior gratuito?
Querem apoio social no desemprego?
Querem existência assegurada na reforma?
Querem...???
Querem...???
.
.
.
Querem pagar quanto de impostos?
.
.

Não sei se quero a Europa mas,

SEI O QUE QUERO!

...e não passo cheques em branco.

Anónimo disse...

O projecto de integração Europeia que começou a seguir á segunda guerra mundial com a CECA-" Cumunidade Europeia do Carvão e do Aço" está neste momento a atravessar a maior crise de toda a sua história. O desaparecimento dos grandes lideres Europeus da Social Democracia (não confundir com o vocabulário político português ) levou a uma derrapagem ideológica que conduzio a políticas de ultra liberalismo económico que levou a Europa a esta situação.Trata-se de um longo ciclo de crise em que não se sabe concretamente quanto tempo mais vai durar e em que há elevadas probabilidades de se agravar cada vez mais.

João disse...

Meu caro Aleixo e se antes das balelas dos impostos como uma espécie de lepra que apanha a todos por igual, falássemos dos modos de produção da riqueza e da iniquidade da sua apropriação? E já agora, como elemento pacificador das suas inquietações, para o caso de ser um empreendedor de meia-tigela ou julgar que faz parte de um comboio-fantasma que se chama classe média (meras hipóteses académicas, já que não o conheço), não se assuste, porque as medidas que se impõem só afectarão os de cima e no seu caso, por muito que se empertigue, continuará sempre a pertencer aos de baixo.

Anónimo disse...

http://apobrezadasnacoes.blogs.sapo.pt/que-futuro-abordagem-de-marx-ricardo-9290

Anónimo disse...

O Aleixo é o inteligente que não se importa de pagar muitos impostos desde que seja para pagar o risco dos bancos. Social é que não, caralho, que depois entram na devassidão, como dizia a avó do rodinhas, aquela moça que há 7o anos não se sabe muito bem onde votava.

Anónimo disse...

Somos nos, homens, mulheres, anciãos e jovens. que havemos de acabar com o velho mundo e logo de seguida começar outro mundo melhor…
Estamos em guerra permanente, criamos novas armas de destruição maciça, letais…
Somos criadores de novas fórmulas económicas, sociais e politicas...
Somos destruidores do nosso próprio habitat…
Lembramo-nos de quando em vez da Grécia Antiga e dos seus filósofos para depois enviarmos para o abismos os da Grécia moderna…
O Siryza e´ radical hoje, amanha são labregos e tansos…
Os portugueses de bons costumes, ate vão a´ missa ao Domingo…roubam bancos, pensões e salários…
São os homens, meus senhores, com todos os seus defeitos e algumas virtudes a acompanhar…São os homens na sua plenitude metafórica e nada mais! De Adelino Silva



Anónimo disse...

Um muito bom texto de João Rodrigues. E obviamente de Manuel Loff.
Muito bom

De

Anónimo disse...

Muito bom.

O último parágrafo do post diz muito de uma visão lúcida o suficiente para perceber o veneno que lhe estavam a apresentar, e outros sabiam o mesmo.

Hoje só não vê, esta realidade, quem não quer. É só escolher: é tratado orçamental, é dividadura, é desemprego, é apoios sociais, salários e pensões cortados, ele é semestre europeu, é TTIP e CETA negociado às escondidas, e às claras também não nos convém, é o euro e uma ditadura monetária providencial que dá para tudo o que o ordoliberalismo quiser fazer para subjugar os povos e os saquear, de forma organizada.

Da Dona Constança e do seu PS não há nada a esperar. Nasceram, logo, na capitulação. O socialismo foi por ali sol de pouca dura e céu muito nublado.
Quem se lembra de uma mui antiga palavra de ordem do PS que faria, hoje, corar de vergonha, todos, mesmo todos, os militantes do PS?

Jose disse...

Ora se proclama que não há dirigentes à altura de construir o futuro da Europa, ora se lembra que a todo o tempo é o tempo de distribuir e fazer despesa que dê tudo a todos. Como se o futuro se construísse sem poupança e investimento.

De facto a esquerda só tem uma ideia da Europa: uma qualquer União Soviética da Europa que não têm a coragem de propor, não fazem a menor ideia como para lá caminharem, nem verdadeiramente são capazes de se imaginarem a nela viver (para além de se saberem nomenclatura).
Um desperdício de neurónios ao serviço de preconceitos e frustrações sortidas.
Mas ser reformista é bem pior...é preciso construir um modelo coerente que seja caminho para objectivos que não sejam pura destruição.

Anónimo disse...

Mas este tipo das 01 e 32 nao percebe o que se diz?

Qual dirigentes à altura qual carapuça. Os tais dirigentes são escolhidos a dedo.Repitamos para que até este perceba ( ou então para ficarem expostos outros "qualfificativos" acerca de tal "atitude":
" um projecto tecnocrático neoliberal (sim, o neoliberalismo emerge, enquanto projecto intelectual, entre os anos trinta e quarenta e tem em 1957 um dos seus precoces triunfos políticos), pós-democrático e anti-socialista. A diferença está na intensidade da integração, embora aqui quantidade também seja qualidade. Enfim, os comunistas, muitos, mas mesmo muitos, socialistas e outros democratas da altura sabiam destas realidades e destes perigos."

Alguém escrever que "a esquerda só tem uma ideia da europa" e outras patetices bolorentas e vetustas do género é próprio de qum anda a apanhar bonés ...ou de quem queira que andemos a apanhar bonés. De conversa fiada e não fiada estamos todos fartos. Os "modelos coerentes " deste tipo são os do outro. Pétanistas assumidos e coisas do género verdadeiramente repelentes

De

Anónimo disse...

Jose

A única "pura destruição" que há aqui é a da tua massa encefálica que apresenta uma erosão de velocidade mais selvagem que qualquer forma de capitalismo
Tu não percebes um percevejo de economia, não passas dum carunchoso senil na reforma que não sabe articular um argumento.
A bem da coerência devias até prescindir da tua reforma, meu parasita "vôvô"
Ainda vais a tempo de encetar caminho para bispo da IURD. Lá estás em casa. As "tretas" são tidas como axioma, ninguém vai contestar as tuas artoadas e consta que ser lambecus como tu é escada para o sucesso
A mim até me cheira, que com esse teu feitio violento e irascível, deves ser um marxista qualquer daqueles do III REICH

Jose disse...

Os gémeos gemem, escoiceiam, insultam e, como costumes dizem nada!

Não há uma ideia, um projecto, um pensamento articulado nesta dupla reaccionária e vazia.
A maledicência é o seu mundo, o futuro vêem-no para lá de um qualquer cataclismo em que se imaginam a cevar as suas raivas e frustrações.
Esquerdalhos de primeira ordem, cumprem o ritual dos incapazes: dizendo os outros errados dispenso-me de ter razões.

Aleixo disse...

Quanto ao João,

Eu diria que a minha opinião quanto ao " ...quanto de impostos? " também me inclui enquanto "cidadão activo" - não sou dos "pimenta no cu dos outros" ! Não parece ser o seu caso João. Se as "...medidas que se impõem ..." o afectassem, já não era a favor?!

Quanto ao anónimo que me cita,

"O Aleixo é o inteligente que não se importa de pagar muitos impostos desde que seja para pagar o risco dos bancos."

Antes de pagar...

TEM DE ME PERGUNTAR!

Anónimo disse...

Deixemos a habitual fuga do jose em direcção aos "gémeos". Os irmãos,verdadeiros ou falsos não me interessam para nada, a menos que sejam ressuscitados casos de indívíduos cuja actividade é proibida pela CRP , sejam eles intímos do das 18 e 23 ou não.

Vamos à substância da coisa. A uma tentativa de se fazer de tonto retomando a tese mil vezes repetida da "bondade " da UE, indo repescar tretas do género dos "dirigentes à altura" e do demagógico "tudo a todos" com que a cambada neoliberal pretende justificar o seu saque, jose ( ou JgMenos) como que "disparata" ao ver exposto desta forma cirúrgica os mitos das tradições europeias. O desmontar de contos de carochinhas que serviram e servem para este pesadelo neoliberal, assente em fraudes como "Schuman (o partidário de Pétain em 1940) e Monnet (horrorizado com o controlo parlamentar da política económica)" ou Delors faz mossa em alguns troikistas profundos que trocaram os hinos de "Angola é nossa" de outrora pela "deutschland uber alles" da actualidade.

Perante a evidência do seu acto ao lado ou da sua fuga ou da sua incapacidade de compreensão ou da sua tentativa de tapar o sol com a peneira, o que faz este "jose"?
Ensaia um exercício estilistico envolvendo articulados e duplas e vazias e maledicências e cataclismos e raivas e frustrações e esquerdalhos de primeira ordem, segunda e terceira ordem e rituais e coisas afins.

Se Passos visse tal, diria: "eis um comentário veramente piegas". Eu não vou por aí e nem sequer vou lastimar a deplorável utilização do português no seu último parágrafo a fazer lembrar um discurso do thomaz/cavaco.

Importa-me isso sim ir ao cerne do que se discute. E o que corajosamente João Rodrigues expõe é , na sequência dum excelente texto de Manuel Loff ( cujo nome causa só por si achaques entre as fileiras dos saudosistas do fascismo) que a génese "benevolente" da UE tem que ser posta em causa e que temos que abandonar definitivamente mitos e patranhas que nos andaram a impingir durante dezenas de anos.
(Que jose tente calar isto até se compreende. Que diabo, ele encontra-se com Schuman naquele ponto de encontro em que ambos se encontram com um criminoso colaboracionista como pétain.

Não é preciso dizer mais por agora.)

De

Jose disse...

Puffff....

Anónimo disse...

As figuras que se fazem para.

Da idade, da vetustez, provavelmente, mas é a isto que se resume o argumentário do das 2 e 14:
A um pufff com reticências.

Já a questão de fundo , ideológica e asssumidamente assumida, a "coisa" fia mais fundo.
Mas não desmanchemos já a manhã

De