Não deve ser fácil.
Compreendo, e às vezes até admiro, os sociais-democratas que se mantêm no PS. [Falo de sociais-democratas, não de PSDs]. Acho que estão enganados, mas compreendo.
Acho que estão enganados porque a coisa já não é reformável. Mas compreendo, porque não sendo a coisa reformável também se não vê outra, social-democrata ou socialista, que possa ocupar o seu lugar.
Os sociais-democratas do PS, sobretudo os que são deputados, têm estado e estarão no futuro próximo sujeitos a duríssimos dilemas morais. A legislação do trabalho, o tratado europeu, o programa da tróica que se prefigura depois deste…
É certo que a disciplina de voto pode ser evocada como lenitivo da consciência. “Voto, mas voto contrariado (e até posso fazer uma declaração)”. No entanto, nós sabemos, e sabemos que eles sabem, que o lenitivo da disciplina é fraca mezinha. No fundo, a existência de disciplina de voto apenas desloca o dilema. Dada a existência de disciplina o que passa a ser objecto de escolha é “respeitar ou não respeitar a disciplina”.
Deve haver circunstâncias em que é justificável respeitar a disciplina em nome de coisas mais importantes do que a dor de estômago que se sente quando se vota contra a consciência. Mas haverá outras em que não há justificação possível. Nalgum sítio tem de estar o limite. E se o limite não fosse a alteração da legislação do trabalho ou o tratado europeu, quer-me bem parecer que não haveria limites.
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4 comentários:
"porque não sendo a coisa reformável também se não vê outra, social-democrata ou socialista, que possa ocupar o seu lugar."
Caro José Castro Caldas,
Como é que se pode dizer uma barbaridade destas?!
Existem dois partidos social-democratas com assento na AR, a saber: Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda.
Sejamos justos. Não faltará espaço para acolher o rapaz.
Cumprimentos
Pois, pois... O PCP e o Bloco de Esquerda...
que exagero, o destes comentadores.
acontece muito em portugal: uma actuação fora da norma é logo entendida como dissidência. são os fracos hábitos democráticos do vulgo, provavelmente com raízes nos 50 anos de ditadura.
De uma coisa estou certo: muitos militantes do PS viram isso com indiferença. mas muitos outros viram na decisão do PNS uma dignidade inspiradora de esperança.
Não me parece que «o que passa a ser objecto de escolha é respeitar ou não respeitar a disciplina».
Para um deputado, como homem livre que não deixa de ser, a escolha é sobre o conteúdo das posições políticas. Se as opções do partido não são compatíveis com as opções do deputado, este pode prescindir do partido mas não das suas convicções. É o que penso e defendo.
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