Em 2008, e sobretudo em 2009, conhecemos as consequências de uma crise iniciada num sistema financeiro tão liberalizado quanto disfuncional, a antítese real da hipótese ficcional dos mercados eficientes tão do agrado de Gaspar.
Em linha com o que não podia deixar de acontecer por todo o capitalismo avançado, em linha com as recomendações europeias, funcionaram os chamados estabilizadores automáticos – quebra automática das receitas fiscais e aumento das despesas, por exemplo, com subsídios de desemprego. Em conjugação com o apoio, infelizmente sem contrapartidas de controlo público, ao sistema financeiro e com um residual impulso deliberado ao investimento público, cerca de 0,5% do PIB num défice que passou de cerca de 3% do PIB, em 2008, para 10%, em 2009, o outro lado do comportamento dos agentes privados, evitou-se o regresso de uma depressão e iniciou-se a recuperação económica: de uma quebra do PIB de 2,5%, em 2009, passámos para uma recuperação de 1,5%, em 2010.
Só que em 2010 confirmou-se aquilo que já se sabia há muito na Zona Euro: os Estados estão aí na total dependência das forças de mercado, sem, entre outros instrumentos, um Banco Central que os financie. Foi o início da crise das dívidas que não são soberanas, a grande oportunidade para experimentarmos a teoria da austeridade expansionista e para reforçarmos a dose das reformas estruturais liberalizadoras, aberrações que saem da visão económica com que Gaspar sempre alinhou e que estão inscritas na arquitectura de um euro que agora quase todos reconhecem que é disfuncional. Resultado: o regresso da economia da depressão, como uma quebra do PIB, em 2011 e em 2012, bem superior à de 2008 e 2009, mais de 5% no total.
Numa economia com fortes níveis de endividamento privado estamos agora em pleno círculo vicioso da depressão. Agradeçam a Gaspar, aos mercados financeiros liberalizados, a uma economia globalizada, às estruturas económicas feitas para gerar baixa pressão salarial e social, a um euro que separou o Tesouro do Banco Central. Tudo isto foi pensado, mal pensado: Gaspar e a sua Economia zumbi personificam tudo aquilo que sempre combatemos e temos de continuar a combater do ponto de vista intelectual e político.
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