«Podemos ter a certeza de uma coisa: as fiscalizações [aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção] vão de facto encontrar "fraudes" que vão somar 70 milhões. E vão encontrá-las porque tem sido essa a ordem que o ministro tem dado à inspecção, com insistência e publicamente. (...) Não interessa se o RSI é a mais fiscalizada das prestações sociais, não interessa se em 2008 o valor das irregularidades detectadas foi de 11,2 milhões de euros, não interessa se o anterior governo tinha encontrado 20 por cento de irregularidades em acções de inspecção feitas apenas no subconjunto de casos que apresentavam características suspeitas. Este governo vai encontrar 16 por cento de "fraude" no universo total de beneficiários porque o ministro definiu essa meta e até já gastou o dinheiro. (...) E não interessa se a maioria das irregularidades são apenas pequenas alterações dos rendimentos ou do número de pessoas do agregado familiar que fazem com que uma família deixe de se encaixar no critério de RSI.
Pedro Mota Soares diz "fraude", quer que se diga "fraude", quer que se fale das "fraudes". Quer que se imagine ricaços com 100.000 euros no banco e carros de luxo à porta a receber o RSI. Não terá vergonha? Compaixão? Tem. Mas Pedro Mota Soares sabe bem que o céu espera quem sofre. Se muito sofrerem, os beneficiários do RSI ficarão mais perto da glória e esse pensamento é exaltante. Talvez alguns sejam afastados injustamente e acabem por morrer por falta de dinheiro para uma taxa moderadora, mas não sofreu Cristo? Como é bom ter uma fé que nos permite oferecer o Paraíso a tantos, dando-lhes a oportunidade de oferecer a Deus o seu sofrimento. Com anjos da guarda assim, quem precisa de demónios?»
(Do imperdível artigo de José Vítor Malheiros no Público de ontem, a ler na íntegra aqui).
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3 comentários:
Também li este artigo ontem. Está muito bem escrito e espelha bem a fé da corja que nos está a governar!
“Com anjos da guarda assim…”
Em cheio, além da fina ironia!
É verdade, até querem que pobres de Deus paguem multas de 300 euros, quando é bom de ver que é o motorista que é o culpado.
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