sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Vicenç Navarro: ciência social para uma vida decente

Vicenç Navarro, um dos meus economistas políticos preferidos, já aqui várias vezes referido, tem um blogue que recolhe as suas múltiplas intervenções como intelectual público. Professor em Barcelona e nos EUA, Navarro é uma referência na área dos chamados determinantes sociais da saúde: as desigualdades produzidas pelo neoliberalismo fazem muito mal ao bem-estar dos indivíduos. Uma das virtudes do trabalho académico de Navarro é a superação das barreiras disciplinares, parte da recusa em separar a política económica da política social. Navarro prefere falar de políticas públicas.

O Estado social e a política económica de pleno emprego estão profundamente imbricados. Evita-se assim uma grande desgraça intelectual e política, que muito tem afectado os sectores intelectuais do PS, e que se traduz na divisão de trabalho entre uma sociologia funcionalista e a economia ortodoxa: finas, muito finas, almofadas sociais para amortecer um pouco os impactos de uma política económica que tem como horizonte intransponível o controlo do défice e a expansão das forças do mercado.


Keynesiano de esquerda, Navarro faz parte de uma linha de economistas políticos muito crítica da actual configuração do projecto europeu, desenhada para gerar desemprego e para fazer do trabalho a variável de ajustamento. Navarro tem destacado o papel das desigualdades no eclodir da actual crise e defendido políticas keynesianas de expansão da procura, centradas na satisfação das necessidades sociais, como melhor forma de combater a crise e as desigualdades: «medidas muito mais eficazes para criar emprego são os investimentos públicos nos serviços do Estado de bem-estar como são a educação, saúde, jardins de infância, serviços ao domicilio, bem como infra-estruturas públicas, caso dos transportes públicos, usadas predominantemente pelas classes populares, e investimentos em energias renováveis. Nestes investimentos, o Estado, em vez do mercado, dirige a criação de emprego, orientando-a para as actividades que criam bons empregos e enriquecem as infra-estruturas físicas, humanas e sociais do país». Isto tem a vantagem de gerar dinâmicas sociopolíticas democráticas que são mais difíceis de reverter.

Subjacente a todo o trabalho de Navarro está a ideia de que «o socialismo não é uma etapa final, mas sim um processo que se constrói e destrói quotidianamente no desenvolvimento das políticas públicas». Um cientista social de combate a ler com muita, mas mesmo muita, regularidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma vez um amigo disse-me "Também há economistas de esquerda?"

Anónimo disse...

...diga-lhe que também há biólogos que acreditam na teoria criacionista, que eu tive uma Avó Comunista e que rezava todas as noites e tinha uma estatueta da Nossa Senhora de Fátima à cabeceira da cama e... que a Liberdade é um valor que na Esquerda, é defendido em consciência e mesmo quando o Homem e a Mulher de Esquerda estão sozinhos com eles mesmos.

Anónimo disse...

Ladroes o link do blogue ta mal