Vicenç Navarro, um dos meus economistas políticos preferidos, já aqui várias vezes referido, tem um blogue que recolhe as suas múltiplas intervenções como intelectual público. Professor em Barcelona e nos EUA, Navarro é uma referência na área dos chamados determinantes sociais da saúde: as desigualdades produzidas pelo neoliberalismo fazem muito mal ao bem-estar dos indivíduos. Uma das virtudes do trabalho académico de Navarro é a superação das barreiras disciplinares, parte da recusa em separar a política económica da política social. Navarro prefere falar de políticas públicas.
O Estado social e a política económica de pleno emprego estão profundamente imbricados. Evita-se assim uma grande desgraça intelectual e política, que muito tem afectado os sectores intelectuais do PS, e que se traduz na divisão de trabalho entre uma sociologia funcionalista e a economia ortodoxa: finas, muito finas, almofadas sociais para amortecer um pouco os impactos de uma política económica que tem como horizonte intransponível o controlo do défice e a expansão das forças do mercado.
Keynesiano de esquerda, Navarro faz parte de uma linha de economistas políticos muito crítica da actual configuração do projecto europeu, desenhada para gerar desemprego e para fazer do trabalho a variável de ajustamento. Navarro tem destacado o papel das desigualdades no eclodir da actual crise e defendido políticas keynesianas de expansão da procura, centradas na satisfação das necessidades sociais, como melhor forma de combater a crise e as desigualdades: «medidas muito mais eficazes para criar emprego são os investimentos públicos nos serviços do Estado de bem-estar como são a educação, saúde, jardins de infância, serviços ao domicilio, bem como infra-estruturas públicas, caso dos transportes públicos, usadas predominantemente pelas classes populares, e investimentos em energias renováveis. Nestes investimentos, o Estado, em vez do mercado, dirige a criação de emprego, orientando-a para as actividades que criam bons empregos e enriquecem as infra-estruturas físicas, humanas e sociais do país». Isto tem a vantagem de gerar dinâmicas sociopolíticas democráticas que são mais difíceis de reverter.
Subjacente a todo o trabalho de Navarro está a ideia de que «o socialismo não é uma etapa final, mas sim um processo que se constrói e destrói quotidianamente no desenvolvimento das políticas públicas». Um cientista social de combate a ler com muita, mas mesmo muita, regularidade.
Uma vez um amigo disse-me "Também há economistas de esquerda?"
ResponderEliminar...diga-lhe que também há biólogos que acreditam na teoria criacionista, que eu tive uma Avó Comunista e que rezava todas as noites e tinha uma estatueta da Nossa Senhora de Fátima à cabeceira da cama e... que a Liberdade é um valor que na Esquerda, é defendido em consciência e mesmo quando o Homem e a Mulher de Esquerda estão sozinhos com eles mesmos.
ResponderEliminarLadroes o link do blogue ta mal
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