A renovação da Economia (como saber) será um processo demorado feito de contributos parcelares com diversas proveniências. O CES (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) participa. Lá para o Verão (6 a 9 de Julho 2009) organiza o primeiro de uma séria de Cursos de Verão de ‘Economia Crítica’ (ver aqui). O tema: “Os fundamentos institucionais da economia: propriedade, mercados e políticas públicas”. Os professores: Daniel W. Bromley da Universidade de Wisconsin-Madison, Julie A. Nelson da Universida de Massachusetts Boston, e John O’Neill da Universidade de Manchester e também os investigadores do CES, José Reis, Tiago Santos Pereira, Vitor Neves e José Castro Caldas. Warren Samuels quis participar e tudo indica que cá estará. Sabemos que para os leitores mais informados acerca das heterodoxias da Economia há aqui nomes que dispensam apresentação. Em qualquer caso os links apropriados foram feitos.
Segue um texto publicado em um sítio universitário brasileiro (http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20104) sobre algumas dessas contribuições:
ResponderEliminar"A paixão na economia
No momento em que, auxiliado pela crise econômica, o edifício teórico liberal parece novamente tremer, dois novos livros nos convidam a dissecar as suas entranhas: a noção de interesse. O primeiro é consagrado a Gabriel Tarde (L’Économie, science des intérêts passionnés. Introduction à l’anthropologie économique de Gabriel Tarde, de Bruno Latour e Vincent Antonin Lépinay. La Découverte, 134 p.) e o segundo é assinado por Jon Elster (Le désintéressement. Traité critique de l’homme économique. Seuil, 380 p.).
Segue a resenha de Gilles Bastin publicada no Le Monde, 13-02-2009. A tradução é do Cepat.
A glória de Gabriel Tarde (1843-1904) foi tão grande em vida quanto o esquecimento em que caíram os seus escritos depois da sua morte. Professor do Collège de France, o teórico prolífico de Lois de l’imitation [Leis da imitação] foi, frequentemente, alvo das disciplinas acadêmicas que se constituíam em torno dele. De fato, o fascínio com que ele encarava os tumultos correntes que formam a vida social, entendida como relação entre as subjetividades, repelia profundamente a jovem sociologia durkheiminiana. Também a “interpsicologia” tardiana foi relegada às masmorras da universidade. E o nome de Tarde raramente aparece nas bagagens de seus filhos prodígios, como Gilles Deleuze ou Bruno Latour.
A obra que esse último acaba de consagrar ao seu mestre, escrito com Vincent Lépinay, aborda com brio a parte menos conhecida da obra de Tarde, a saber, os dois volumes de Psychologie Économique [Psicologia Econômica], publicados em 1902 (e disponível em versão eletrônica no endereço http://classiques.uqac.ca/classiques/tarde_gabriel/tarde_gabriel.html). Para compreender o alcance desse livro, nos dizem os dois comentaristas, é preciso se imaginar um leitor que descobre hoje os textos de Marx como se fossem inéditos. Porque tudo é novo no texto de Tarde. Tomando o exato contrapé da ciência econômica que nasce na época, Tarde vê na paixão, mais que no interesse, o motor do desenvolvimento econômico. As “águas gélidas do cálculo egoísta”, segundo a fórmula marxista, se encontram singularmente aquecidas, preenchidas de todo “o orgulho da vida” que faz tanta falta aos modelos da economia clássica.
Motivações desinteressadas
Seriam, portanto, a “persuasão” e a “excitação”, a glória, o desejo ou as crenças as verdadeiras “mãos invisíveis” de uma máquina econômica alimentada não pelo cálculo, mas pelos estados de alma, pela conversação e pelos jornais? A hipótese é tanto mais sedutora quanto ela não vem acompanhada em Tarde por nenhuma nostalgia por um mundo perdido de antes do cálculo egoísta. Pelo contrário, trata-se para ele de medir e quantificar a paixão para fazer dela uma ciência tão precisa quanto o interesse. Com outras palavras, imaginar, segundo a bela fórmula de Latour e de Lépinay, uma economia “crua” e não aquela, já cozida, que nos é proposta pela teoria econômica.
Jon Elster, que publica a primeira parte do díptico consagrado à crítica do Homo Oeconomicus, compartilha com Tarde bem mais do que as folhagens do Collège de France, onde ensina desde 2006. Também ele, se bem que com um estilo totalmente diferente, é amador das ciências “cruas”. Recorrendo alternadamente aos moralistas e aos economistas, Elster não parou de retornar à grande divisão que ocupou o interesse da moral na teoria econômica. Ao longo dos “casos” analisados neste livro, o Homo Oeconomicus, maximalista e egoísta, não se levanta sem dor da mesa de cirurgia onde é operado pelo cirurgião da escolha que é Jon Elster.
Como compreender então que as motivações desinteressadas continuam sendo menos observadas nos modelos econômicos do que na vida social? Os dois livros propõem uma resposta similar. É que os economistas, desde a origem de sua ciência, não gostam de ser tomados por imbecis e ingênuos! Ora, ver paixões e desinteresse aí onde outros falam em interesse é, certamente, correr esse risco.
Ao ler esses dois livros, só podemos nos alegrar em constatar que, como o interesse, este medo não reina talvez sem divisão."
Excelente post, com informação bem útil, sou estudante de Coimbra mas não estou lá neste momento e fiquei bastante interessado. Cotinuem
ResponderEliminarBolas vejam lá ai no CES se puxam isto dois dias para trás ou dois dias para a frente... Parece-me uma iniciativa muito muito interessante, e aos menos assim metade dos 4 dias do "workshop" (dois dias portanto), seriam ao fim-de-semana o que permitia que mais pessoas (eu por exemplo!)fossem até Coimbra... Isso é uma iniciativa de louvar, mas para quem trabalha (e tambem estuda) torna-se impossivel ir!
ResponderEliminarObrigado!