Este expressivo gráfico, roubado de uma posta de Miguel Botelho Moniz do Insurgente, compara o crescimento cumulativo para diferentes segmentos de rendimentos (dos mais pobres aos mais ricos) em dois períodos cruciais da história do pós-guerra nos EUA. É de fazer corar de vergonha a direita intransigente. E não me parece que ponha em causa o estudo que compara o crescimento médio dos diferentes percentis de rendimento nas administrações democratas e republicanas. As desigualdades aumentaram no segundo período (maioritariamente republicano) e parecem ter aumentado mais nas administrações republicanas (ver este contributo de Paul Krugman).
Curiosamente, o primeiro período de «prosperidade partilhada» (o bolo crescia mais e as fatias eram mais bem repartidas, o que não é mera coincidência) corresponde à época do chamado consenso keynesiano, do capitalismo com trela encurtada por regras fortes e sindicatos pujantes e do famigerado sistema de Bretton-Woods, com câmbios bem geridos e mercados financeiros razoavelmente enquadrados.
O segundo período corresponde à chamada «era de Friedman», em homenagem ao patrono das ideias neoliberais hegemónicas na condução das políticas públicas nos EUA. Estagnação dos salários dos mais pobres, maiores desigualdades (sobretudo salariais, mas não só) e menos crescimento. É o resultado, entre outros factores, da alteração das regras que enquadravam os diversos mercados, dos processos de penetração das forças de mercado em áreas que lhes estavam vedadas, do grande enfraquecimento dos sindicatos, do processo de financeirização crescente do capitalismo norte-americano, das políticas fiscais regressivas ou da estagnação do salário mínimo (esta explicação institucionalista, que recusa inevitabilidades, tem vindo, felizmente, a ser defendida por um número crescente de economistas convencionais - por exemplo, Paul Krugman e Peter Temin). O neoliberalismo é, de facto, um feixe de ideologias socioeconomicamente desastrosas e moralmente repugnantes.
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