segunda-feira, 21 de abril de 2008

'Fome e acção pública'

As subidas imparáveis dos preços dos produtos agrícolas à escala global estão a ter consequências trágicas entre os grupos sociais que são «compradores líquidos» de bens alimentares nos chamados países em vias de desenvolvimento: «para as classes médias a crise implica um corte nas despesas médicas. Para os que vivem com dois dólares por dia implica cortar no consumo de carne e tirar as crianças da escola. Para os que vivem com um dólar por dia implica cortar na carne e nos vegetais e consumir apenas cereais. E para os que vivem com cinquenta cêntimos por dia, a crise é o desastre total» (The Economist). O espectro da fome alastra. Como sublinhou Amartya Sen, um dos economistas que mais percebe do assunto, a fome não significa que não existam alimentos suficientes para alimentar toda a gente; a fome significa que existem pessoas que não têm acesso a alimentos. Por isso é que a acção pública que garanta a sua distribuição directa ou a distribuição de recursos que permitam a sua aquisição é crucial. Aqui não convém confiar inteiramente nos resultados do mercado. Até porque o mercado não responde às necessidades, mas sim à procura suportada por dinheiro. E a reacção da produção ao aumento de preços é lenta, muito lenta. O argumento liberal de que a responsabilidade deve ser assacada às «intervenções» governamentais no sector agrícola esquece que a liberalização e abertura comerciais irrestritas nesta área poderiam gerar um aumento dos preços. Precisamos de tudo menos disso neste momento. A prazo não há alternativa à recomendação da FAO: «a combinação de crescimento económico com uma distribuição mais igualitária de rendimentos é condição necessária para vencer a fome».

3 comentários:

Arrebenta disse...

Sobre o que está a acontecer no “As Vicentinas de Braganza”, agradecia que nos visitassem, e se pronunciassem, caso vos interesse o nosso novo dilema/problema

http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2008/04/nota-constitucional.html#links

NC disse...

«Amartya Sen, um dos economistas que mais percebe do assunto»

"Percebe mais do assunto" porque a opinião dela(?) vai de encontro à vossa? ou porque é a que mais escreve sobre o assunto actualmente?

Nuno Teles disse...

http://en.wikipedia.org/wiki/Amartya_Sen