quinta-feira, 24 de abril de 2008

A esquerda italiana em estado de choque V

Muitos, dentro e fora de Itália, se questionam sobre o motivo pelo qual a esquerda não conseguiu em 2006 (e ainda menos em 2008...) o apoio eleitoral necessário para governar de forma estável. É difícil compreender como é que os italianos continuam a votar maioritariamente numa coligação liderada pelo homem mais rico de Itália, que usa descaradamente a cadeira do poder em benefício pessoal e familiar, que mostra recorrentemente uma total falta de dignidade e bom senso nas suas intervenções públicas, que se alia a uma direita xenófoba e com tendências fascizantes e que está longe de demonstrar que consegue compensar todos estes defeitos com uma governação que responda aos problemas fundamentais que a Itália enfrenta.

A resposta a esta questão é tudo menos simples. Eu tenderia a realçar como factores mais relevantes os seguintes: os efeitos profundos e duradouros da operação 'mãos limpas’ no início dos anos 90; a capacidade da direita para ocupar o espaço deixado livre pelo colapso dos partidos dominantes desde o pós-guerra; a incapacidade da esquerda ‘reformista’ de construir um discurso claro, distintivo e mobilizador; a utilização sistemática e bem-sucedida por Berlusconi da comunicação social sob seu controlo para atacar os oponentes e para promover a sua imagem; a opção das esquerdas (a 'reformista' e a 'radical', para simplificar) por um modelo de intervenção política assente na personalização e no mediatismo; inversamente, a capacidade de parte da direita para intervir na sociedade italiana através de uma sólida presença junto das populações; finalmente, os problemas enfrentados pela economia italiana e a exploração populista por parte da direita do medo e da incerteza crescentes.

Cada um destes tópicos merece uma discussão mais detalhada, a seguir em próximos ‘posts’.

2 comentários:

josé manuel faria disse...

Entretanto em Portugal o BE vale, 11.5% e o PCP,10.8%!!!

IDEAL COMUNISTA disse...

Amigo Ricardo. Há uma coisa muito simples que se está a esquecer: ir para o governo fazer o programa da direita, o povo prefere a própria direita. É sempre a mesma coisa: entre a cópia e o original prefere-se sempre o original. Tenha-se dúvidas? Comece-se por uma coisa tão simples mas tão determinante: a atitude face à guerra.
José Faria, as sondagens anda não elegem deputados.