«As instituições, as normas e o ambiente político são muito mais importantes para explicar a distribuição do rendimento - e as forças de mercado impessoais muito menos relevantes - do que as lições de Introdução à Economia fazem crer» (a tradução é minha). Já se tinha notado que alguns dos mais destacados economistas americanos começavam a ter posições à esquerda. Agora começam a reconhecer a necessidade de por em causa as ideias simplistas dos manuais de economia quando se analisam as sociedades contemporâneas.
O novo livro de Paul Krugman, «The Conscience of a Liberal», vem propor um novo «New Deal» que reverta o processo de aumento das desigualdades que tem caracterizado os EUA nas últimas décadas. Como ponto prévio é fundamental perceber que este processo tem antes de mais causas políticas - não podendo ser explicado com base na "globalização" ou na "mudança tecnológica", como é habitual fazer-se entre economistas.
Se a desigualdade tivesse como causa uma procura acrescida do trabalho qualificado face ao trabalho não qualificado, decorrente do novo paradigma tecnológico, então seria de esperar que os trabalhadores mais qualificados fossem significativamente beneficiados com este aumento da dispersão do rendimento - o que não aconteceu nos EUA. No entanto, têm aumentado fortemente os rendimentos dos 1% mais ricos, independentemente das suas qualificações.
Da mesma forma, se o aumento da desigualdade se devesse à globalização (que expõe os sectores baseados em baixos salários à concorrência internacional), como se explicaria o facto de tal aumento ser muito mais acelerado nos EUA do que na generalidade dos países desenvolvidos?
Segundo Krugman, para compreender o aumento da desigualdade social nos EUA não podemos, pelo contrário, deixar de considerar o papel das políticas prosseguidas por sucessivas administrações americanas desde o final da década de 1970, nomeadamente: o ataque ao movimento sindical, que reduziu o poder de negociação dos trabalhadores; os cortes radicais nos impostos sobre os rendimentos; a redução das restrições políticas e sociais à acção das administrações de empresas privadas (nomeadamente, na distribuição de dividendos); o ataque à segurança social pública; entre outras medidas de promoção da desigualdade, conduzidas por políticos cuja principal preocupação consiste em satisfazer os desejos dos interesses milionários que lhes pagam as campanhas.
Parece óbvio, não? Experimentem perguntar a economistas que conheçam (ainda melhor, perguntem àqueles que, como «grandes economistas», são chamados a comentar temas económicos cá no burgo) o que explica os aumentos das desigualdades sociais nas sociedades contemporâneas - verão a importância da crescente adesão de um economista como Krugman à velha «Economia Política».
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2 comentários:
Sim, é engraçado que os liberais não admitam que o Estado intervenha politicamente para reduzir as desigualdades, mas esperem dele que intervenha para as aumentar.
(P.S.: É uma pena que este blogue não admita comentários anónimos. Não é que eu queira ficar anónimo, mas gostaria que a minha homepage ficasse automaticamente linkada)
Ass.
José Luiz Sarmento
http://legoergosum.blogspot.com
Interrogado sobre se a globalizacao podia ter um efeito de nivelar por baixo, Krugman admite que isso possa acontecer. Mas logo de seguida acrescenta que isso nao e' motivo para ter um sistema de saude privado, porque o sistema privado e' mais caro que o publico. O programa politico destes democratas e' infelizmente ainda muito timido: servico de saude universal e restabelecimento dos impostos sobre os mais ricos e sobres as herancas, mas sem pretender grandes aumentos face ao pre-Bush tax cut.
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